Na última semana, foi anunciado pela Disney+ o lançamento de uma nova adaptação da série de livros Percy Jackson, agora como série de televisão. Após a grande decepção que foi a adaptação dos filmes em 2010 e 2013, a maior parte dos fãs sempre esperou por uma nova adaptação da saga, que fosse mais fiel aos livros escritos por Rick Riordan.
Algo que sempre me encantava ao ler os livros da saga era a mitologia em si. Pensar que tudo aquilo em que o livro se baseava havia sido parte de uma religião era incrível. Todos aqueles deuses, monstros, seres místicos, tudo aquilo havia sido encarado como uma verdade absoluta para muitas pessoas no passado. E essas histórias não apenas eram tidas como realidade, mas também eram ferramentas para transmitir um modelo de sociedade. Essa foi a primeira vez que entendi que, assim como todas aquelas histórias nas quais outras pessoas um dia acreditaram, para mim eram apenas ficção, tudo aquilo em que eu acreditava como verdade absoluta podia também ser considerado ficcional por outros. E quem de fato estava certo? As pessoas ou eu? Ou será que ambos estávamos certos? Vai ver ambos estávamos errados, o que, na minha opinião, era a opção mais provável.
Ao mesmo tempo, também era interessante ver que, apesar de serem tão diferentes, havia tantos pontos em que essas perspectivas convergiam entre si. Por exemplo, na maioria das religiões e mitologias acredita-se que houve um dilúvio, como no cristianismo, nas mitologias grega e nórdica. Em boa parte delas existe um ser maior, extremamente poderoso ao qual todos devem se submeter e ser tementes. Várias delas possuem histórias para explicar o acontecimento de fenômenos naturais. Em quase todas, havia o conceito de vida e justiça após a morte. Enfim, havia diversos pontos que faziam com que as histórias dos deuses e da criação do Universo se encontrassem.
A partir disso, podemos perceber que, apesar do fato de as culturas apresentarem diversas divergências na forma de ver o mundo e interagir com ele, todas elas apresentam anseios muito parecidos em relação a uma justiça após a morte, que recompense aqueles que viveram vidas tidas como exemplares por aquela cultura e puna aqueles que se desviaram desse caminho, além do anseio de dar significado aos acontecimentos ao nosso redor e à vida em si, o que faz da religião uma ótima forma de entender a maneira de pensar de uma sociedade e o seu estilo de vida.
Outro questionamento que sempre me veio a cabeça era: se existe alguém que está certo, o que acontece com aqueles que acreditaram na história errada? Todos seriam punidos? Mesmo aqueles que nunca prejudicaram ninguém, sofreriam consequências por não ter cultuado o deus “certo”? Qual a cultura que de fato estaria de acordo com os desejos desse ser maior que supostamente guia a vida de todos?
Para mim, a conclusão mais óbvia é que muito dificilmente alguém um dia conseguirá chegar a resposta sobre quem (ou o que) rege a vida, o universo e tudo mais (se é que existe alguém, ou algo). Acredite você em uma determinada religião ou na ciência e suas leis, penso que o fato de você acreditar que está certo de maneira alguma te dá o direito de desmerecer outra crença, pois ao desmerecê-la, se desmerece também toda uma cultura e toda uma sociedade.
Giovanni Silveira
Engenharia de Minas, 3°ano
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