“Estresse À Distância”, “Eu Assisto Depois” e “Eu Ando Desmotivado” foram algumas das ressignificações dadas à sigla EAD durante o período de quarentena. Ao afastarem-se de sua real significação – Educação à distância – acabam por ilustrar algumas das principais dificuldades enfrentadas pelos estudantes na adaptação a esse método. Estresse, ansiedade, procrastinação e desmotivação, infelizmente, não são palavras raras no cotidiano acadêmico. Assim, o real questionamento a ser feito é se o sistema EAD contribui ou não para a intensificação desses problemas e não abordar o método como fonte única desses.
Um ponto importante a se considerar logo de início é como muitos argumentam que não é nem sequer legítimo nomear como “EAD” o sistema adotado pela USP para mitigar os possíveis atrasos acadêmicos decorrentes da quarentena. De fato, inúmeras plataformas dedicadas a essa modalidade de ensino apresentam uma estruturação muito mais complexa e elaborada. Aulas ao vivo com professores treinados e acostumados com as plataformas de vídeo-chamadas, avaliações e atividades para treino online devidamente estruturadas. Pensando nisso, as aulas do zoom/meets não passam de um certo improviso (mas muitíssimo bem intencionado, confesso), diminuindo, de certa forma, a atratividade dessas. Em uma análise quantitativa simples: a aula ao vivo com maior “audiência” na minha turma bateu 70 ouvintes, um número satisfatório e comparável ao visto nas aulas presenciais. Contudo, essa foi uma grande exceção, sendo a média cerca de 40 alunos conectados (pouco mais da metade dos inscritos nas disciplinas).
Deixando de lado tais pormenores, ainda assim há diversas dificuldades ligadas ao ensino à distância. Não obstante os problemas de ordem emocional já enumerados, ainda há a questão de dificuldades materiais e estruturais. Falta de equipamentos para acompanhar os conteúdos virtuais, internet com banda-larga insuficiente para suportar aulas ao vivo, falta de um ambiente de estudo apropriado, apenas para listar alguns. A fim de resolver essa situação, na chamada “Fase 1”, aplicou-se um grande esforço de garantir acesso a todos os alunos. Considerando um cenário otimista – e talvez um tanto utópico – em que todas (100%) as necessidades materiais foram sanadas, ainda restam a desmotivação, a ansiedade e o estresse. Esses, diferente das questões estruturais, tristemente, mostram-se bem democráticos.
A própria situação global já é um grande fomentador de ansiedade. Some a isso grande cobrança, disciplinas exigentes (inerentes à realidade politécnica) e forte incerteza acerca do cronograma semestral e fica nítida a fórmula do caos. É completamente compreensível o estresse nesse período, mas ainda assim não é justo, nem razoável, generalizar. Há pessoas que conseguem estruturar uma boa rotina de estudo, aproveitam o tempo economizado em deslocamentos diários e se adaptam bem ao sistema. Tabelas em Excel com pendências, post-its, agenda são alguns dos mecanismos utilizados para auxiliar na organização nesse período. Com uma devida otimização do dia, ainda pode restar tempo para atividades de lazer: assistir filmes, ler e/ou ficar com a família.
Diante desses dois lados, fica o questionamento: o EAD “funciona”? Em resposta rápida, eu diria que sim, mas não para mim. E para muitos também não (e não há problema algum nisso), assim como para tantos outros funciona sim. Mas acredito que todos nós temos algo a aprender com esse período: seja a descoberta de um hobbie novo, o desenvolvimento de um novo método de organização ou até mesmo o respeito ao seu próprio ritmo. Sendo esse último, sem sombra de dúvida, o mais essencial.
Thalissa Reis,
Engenharia de Produção, 1° ano
Faça um comentário