Entrevista: Manual do Vestibulando

O Manual do Vestibulando é um projeto que nasceu dentro da Poli e se expandiu para toda a USP. A ideia dos responsáveis é fornecer informações para os vestibulandos e ajudar eles na preparação para a prova e na escolha do curso.
 
O Manual do Vestibulando foi lançado em agosto e teve uma ótima repercussão tanto entre os universitários quanto pelos alunos do ensino médio. O Politécnico conversou com o Tomaz Maia e Ricardo de Arruda, alunos do primeiro ano da computação e membros do projeto, para conhecer mais sobre o Manual e quais são os seus próximos passos.
 
O Politécnico (OP): O que é o manual do vestibulando? Como começou a ideia e quais foram as motivações que vocês tiveram?
 
Ricardo: A nossa ideia era trazer um conteúdo para os vestibulandos que não tem em nenhum outro lugar. Quando eu era vestibulando tinha muita coisa que eu queria saber e não encontrava. Os depoimentos, as redações da Fuvest, as notas das pessoas, os textos dos centros acadêmicos, são coisas importantes para ajudar as pessoas a escolherem o curso e a se prepararem. Para mim o manual é isso, trazer informações para o vestibulando que ele não teria de outra forma e com isso facilitar os estudos e um possível ingresso dele na USP.
 
Tomaz: A gente (vestibulando) mesmo com os centros acadêmicos disponibilizado as notas sentia dificuldade em encontrar algumas informações. Eu só descobri que o pessoal do CEE disponibiliza as notas dos ingressantes quando eu entrei na Poli, antes de entrar eu não sabia que essas informações existiam. A gente pensou que se unificasse tudo ficaria mais fácil para as pessoas terem uma melhor noção de como entrar na USP e, também, para elas descobrirem mais sobre o curso. Por exemplo, o pessoal da computação não sabia que o curso era quadrimestral e nem o que significava isso, a gente tem um texto explicando o que era o quadri na seção de engenharia da computação. Então, unificar essas informações sempre foi um dos focos do projeto.
 
(OP): Quando começou o projeto?
 
Tomaz: Foi um final de semana antes da pandemia, na segunda ou na terceira semana de aula. Eu e um colega da computação estávamos pensando que a gente podia coletar essas notas e que poderíamos fazer algo para a Poli. Fizemos um formulário no Google Forms em menos de uma hora e o próximo passo seria ver com os centrinhos, depois o projeto ficou na gaveta mais ou menos um mês. Com a ajuda do Ricardo nós fomos unindo um pessoal que queria participar e no final conseguimos as informações da Poli.
 
Ricardo: O Manual teve momentos, primeiramente tivemos uma fase interna da computação por março e depois foi expandido por toda Poli, esse foi um período onde as coisas estavam muito lentas e que estávamos na mão dos centros acadêmicos. Lá para abril ou maio a gente quis expandir para além da Poli, fomos falando com várias pessoas de vários cursos para ajudar na coleta de informação e no final o manual foi lançado em 31 agosto, quando começou as inscrições para a Fuvest.
 
(OP): Quem são os responsáveis pela ideia inicial, pela criação do site e pela condução do projeto?
 
Ricardo: É um projeto que tem muita gente ajudando, a gente foi juntando vários projetos ao longo do tempo. A FEA e as medicinas, por exemplo, fizeram um esforço sozinhas e depois juntaram com a gente no final, existia muitos projetos semelhantes ocorrendo em paralelo. Foi um esforço individual de muitas pessoas e é muito difícil levantar o nome de todo mundo.
 
Tomaz: Foi um trabalho que envolveu dezenas de pessoas só na Poli, talvez até centenas de pessoas se contarmos todo mundo que colaborou de alguma forma. O contato com as pessoas de outros institutos era sempre feito por pessoas em comum, sempre existia alguém que conhecia alguém, e assim fomos alcançando várias pessoas que nos ajudaram com o resultado final que temos hoje.
 
(OP): Os integrantes iniciais eram em maioria ingressantes de 2020, vocês sentiam muita dificuldade de achar informações sobre a Fuvest quando eram vestibulandos?
 
Ricardo: Algumas coisas são mais fáceis, como as notas de corte da primeira fase. Porém, outras eu nunca tinha visto. Eu nunca tinha visto uma redação nota dez da Fuvest, por exemplo. Se as informações existiam, elas estavam muito escondidas.
 
(OP): A Fuvest libera algumas informações e outras não, vocês procuraram saber ou sabem por que ela libera alguns dados e outros não?
 
Ricardo: Antes de 2010 a gente tinha mais informações sobre a Fuvest, cada ano tinha um relatório de 300 páginas com as estatísticas de acerto de cada questão, por exemplo. Então, é uma tendência da Fuvest segurar essas informações. A gente tentou entrar em contato e solicitar as informações, tomamos uma geladeira e nos deixaram de aviso. Tentamos muito conseguir os dados com ela, apelamos para lei por meio de grupos de direito, porém não conseguimos no final.
 
Acredito que eles seguram os dados porque as pessoas podem começar a explorar o sistema da Fuvest se o conhecerem muito bem. Por exemplo, você pode sempre colocar engenharia de petróleo na última posição da Poli porque você sabe que é mais fácil e se tudo der errado você pode passar nela. Se você conhece muito bem o sistema, é possível desenvolver esse tipo de estratégia que pode gerar alteração na nota. Se todo mundo colocasse engenharia de petróleo, a nota podia disparar, só que ninguém iria fazer petróleo. Teríamos uma grande evasão e os alunos que realmente queriam fazer o curso não poderão, acho que por isso que eles não divulgam os dados. Acho que eles não liberam a redação para evitar a criação de um modelo pronto, que facilite a sua reprodução na hora da prova. No final, a Fuvest não quer que as pessoas possam usar as informações para facilitar seu ingresso.
 
Tomaz: Outro fator bastante significativo é que a prova é diferente todo ano. Existem provas que tem o mesmo modelo de questão todos os anos, uma prova de vestibular varia muito e as notas também. Eu acredito que um dos motivos é que você estaria “enganando” a pessoa, por exemplo. A pessoa pode achar que precisa acertar 70% da prova pois no ano anterior essa foi a nota. Porém podem existir variações, tanto para mais ou para menos, e de certa forma é perigoso criar expectativa nos candidatos com bases em provas passadas.
 
(OP): Como se deu o desenvolvimento do projeto, quais foram as etapas?
 
Tomaz: Num primeiro momento você teve a fase do forms que foi bastante divulgado pelos centros acadêmicos. Após a coleta tivemos uma grande base dados, a ideia inicial era ter um pdf com as informações recolhidas. Porém o Ricardo veio com a ideia de fazer um site, porque seria algo mais perene e fácil de divulgar. Com a ideia de expandir para a USP a gente teve que recomeçar um ciclo, tivemos que fazer um novo recolhimento das notas e um novo tratamento de dados. Saímos de uma planilha da Poli, depois passamos para várias planilhas de várias faculdades e no final tivemos a criação do site, com a consolidação e o tratamento de todos os dados recolhidos.
 
(OP): Como foi feito o recolhimento dos dados dos ingressantes da Fuvest?
 
Ricardo: Inicialmente, tivemos o lançamento do forms voltado para a Poli com compartilhamento pelos centros acadêmicos. Paralelamente, faculdades de outros campus também lançaram um forms novo ou nos repassaram dados que eles já tinham recolhidos. No final, foi um trabalho de união de todas essas informações.
 
(OP): Como foi o relacionamento com os centros acadêmicos? Eles foram bem receptivos? Ajudaram na coleta de dados?
 
Ricardo: Tivemos bons relacionamentos com algumas representações estudantis, todavia tivemos outros centros acadêmicos que foram complicados. Tivemos alguns casos de representações que tentaram puxar o projeto para eles e também tivemos casos de centros acadêmicos que queriam deixar o manual interno a Poli. Na USP tivemos muito apoio para divulgar o forms, porém tivemos muita gente ignorando nossas solicitações e até tentando fagocitar o projeto, seria muito legal ter um projeto como esse associado à sua entidade.
 
Tomaz: Algumas engenharias da Poli apesar de terem gostado do nosso projeto tinham uma iniciativa parecida e por isso não queriam liberar os dados que eles já tinham coletados, porém no final foi possível conciliar tudo.
 
(OP): Quantas notas foram recolhidas? Qual foi o alcance dos forms? Quantos cursos foram atingidos?
 
Tomaz: No total foram 2242 notas, incluindo Fuvest e Enem, de cerca de 92 cursos de 33 institutos. Conseguimos juntar, também, 333 redações. E menos de 10% de nossos dados são de anos anteriores a 2019.
 
(OP): Existe alguma comprovação da autenticidade dos dados recolhidos? Existe algum dado não verdadeiro divulgado?
 
Ricardo: Com certeza tem alguma informação não verdadeira, são muitas notas e não temos como garantir 100% autenticidade nem como fazer uma verificação individual. Foram feitas algumas análises para dar maior genuinidade aos fatos, por exemplo, nós recebemos uma nota de um aluno dizendo que foi o primeiro colocado em elétrica, porém nós tínhamos a nota de outros alunos que comprovaram que isso era impossível, quando isso aparecia a gente fazia uma nova colocação. Com certeza com tantas notas, infelizmente, alguma não é verdadeira.
 
Tomaz: Nós temos que trabalhar com os dados que nos foram fornecidos, não tem segredo. É possível alguém colocar algo absurdo, as vezes não conseguimos fazer uma verificação aprofundada porque só tivemos uma nota de alguns cursos. Na Poli é mais fácil fazer um tratamento mais rigoroso pois temos uma amostragem maior. A única restrição que tivemos foi que as pessoas que enviassem as notas tivessem e-mail USP, nós partimos da premissa que a pessoa que respondeu o nosso forms não se daria ao trabalho de inventar dados ou iria querer prejudicar nossa iniciativa.
 
(OP): Como foi o retorno dos vestibulandos com o lançamento do Manual?
 
Ricardo: O projeto deu muita dor de cabeça porque a gente queria atingir muita gente. Tivemos dezenas de milhares de acessos, com alto engajamento no Facebook, muitos comentários e compartilhamentos, tivemos uma resposta muito positiva. Fizemos uma publicação e teve quase 20.000 acessos com engajamento puramente orgânico.
 
Tomaz: Também tivemos muito carinho dos uspianos, elogiando e querendo disponibilizar mais notas. Os vestibulandos foram bem legais, muitos mandaram mensagem agradecendo pelo material e falando que a gente ajudou na escolha do curso.
 
(OP): Como vocês acham que os estudantes podiam utilizar as informações do Manual da melhor maneira?
 
Ricardo: Eles podem se preparar melhor para a redação, entender quais foram os erros em redações com notas altas e saber o que podem melhorar. Com a nota de corte o vestibulando pode ter uma ideia de quanto ele precisa tirar na prova, seja da primeira ou da segunda fase. Além disso, durante a fase de inscrição a pessoa pode fazer uma melhor escolha do curso, tanto com base na dificuldade quanto pela afinidade. E após a Fuvest, podemos auxiliar na expectativa da pessoa, ela pode ter uma ideia mais embasada da nota que precisa tirar e talvez tirar um pouco da ansiedade até a divulgação do resultado.
 
Tomaz: Em relação ao fato das pessoas abusarem dos dados e tentarem tirar vantagem dessas informações acho que isso pode ser um pouco menos perigoso. Os grandes cursinhos já têm uma noção das notas, eles fazem coletas próprias e já tem essas informações. O que estamos fazendo é facilitar esses dados, dando mais transparência e democratização dessas informações. Possibilitamos que as pessoas tenham noção das notas que elas precisam tirar para passar, além de ajudar nos que elas verão no curso quando passarem.
 
Ricardo: Os textos sobre os cursos foram feitos por estudantes para estudantes, nossa ideia foi que os autores lembrassem da sua época de vestibular e do que eles queriam saber da faculdade e do curso. A nossa ideia foi criar um pacote, com auxílio tanto para a preparação para a prova quanto para escolha do curso. Eu queria que esse projeto tivesse existido quando eu era estudante do ensino médio.
 
(OP): Quais são os próximos passos para o manual? Pretendem mudar ou adicionar algo?
 
Tomaz: Uma das razões de se fazer um site era que seria mais fácil de atualizar. Eu acredito que o manual vai continuar nos próximos anos, mesmo que não seja a gente os responsáveis.
 
Ricardo: Nós temos várias listas de coisas que nós pensamos, estamos cheios de ideias. Queremos retirar os bugs que foram aparecendo, melhorar a visualização das tabelas e criar filtros das notas. Além disso, queremos colocar dicas nas melhores redações, fazer hubs para as faculdades mais buscadas, fazer uma página com todas as informações que a pessoa precisa saber sobre a poli, por exemplo. E num futuro fazer uma calculadora para saber qual será a sua nota no Enem, utilizando as regras do TRI.
 
Tomaz: Estamos pensando que se crescermos muito talvez seja interessante fazer o manual para outras faculdades, como a Unicamp e a Unesp. Isso demanda muito trabalho e esforço, é uma barreira nossa, precisamos de mais pessoas, principalmente no desenvolvimento do site. Estamos discutindo como atrair mais pessoas para ajudar no crescimento e permitir o nosso desenvolvimento.
 
(OP): Como está sendo o financiamento do site?
 
Ricardo: Estamos discutindo isso internamente, temos um custo porém foi algo pequeno e pago por pessoas de dentro do projeto. Iremos ter novos custos e estamos discutindo a melhor forma de financiamento para o manual.
 
(OP): Vocês gostariam de falar mais alguma coisa sobre o Manual?
 
Ricardo: Quem quiser ajudar pode falar conosco, seja pela página ou diretamente. Temos muita coisa para fazer, seja ajudar no design, no site, ou na comunicação com outros centrinhos.
 
Tomaz: Estamos sempre muito abertos, e se tiver qualquer pessoa que gostaria de ajudar para deixar o projeto melhor para os vestibulandos, só nos chamar!
 
Roberto Araújo
Engenharia Civil, 3°ano
 
Conheça o Manual do Vestibulando: https://www.manualdovestibulando.com.br/
 
Imagem por: Pedro Rudge Cesar

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