O conteúdo do texto não deve ser usado como um substituto para indicação médica ou de outro profissional qualificado.
Iniciado em 1990 pela Fundação Susan G. Komen for the Cure, o Outubro Rosa é um movimento de conscientização para o controle do câncer de mama. Em 2002, São Paulo foi a primeira cidade do Brasil a participar de uma ação deste movimento, iluminando em cor-de-rosa o Obelisco Mausoléu ao Soldado Constitucionalista no parque Ibirapuera.
A iniciativa dos criadores desta campanha era chamar atenção para a alta incidência dessa doença e promover uma mudança na forma de combate e percepção dela. Por meio de campanhas, eventos e divulgação de dados, os organizadores queriam estimular a disseminação de hábitos protetores e buscar um diagnóstico cada vez mais precoce junto de um atendimento médico mais especializado e humano.
Os resultados deste movimento são perceptíveis, sendo comprovados por um maior conhecimento da sociedade a respeito desta doença e de suas formas de diagnóstico e prevenção. Além disso, houve aumento no número de exames realizados, especialmente nos meses de outubro, como comprova o artigo “Impact Of The Pink October In The Mammographic Screening Adherence In A Reference Center In Oncology” [1].
Resumidamente, podemos definir o câncer como uma alteração de alguns trechos das moléculas de DNA, que ocasiona uma multiplicação desordenada de células anormais. Esse processo acaba gerando um tumor, no caso do câncer de mama, um tumor maligno que ataca o tecido mamário.
Para se ter uma ideia da frequência desta doença no Brasil, segundo as estimativas do INCA (Instituto Nacional de Câncer), serão registrados 66.280 novos casos de câncer de mama em mulheres e cerca 17.572 obtidos em decorrência da doença em 2020. Isto representa cerca de 30% do número de novos casos de câncer em mulheres, ressaltando sua forte presença em nossa sociedade [2].
O tratamento da doença vem se aperfeiçoando, principalmente devido aos avanços tecnológicos. Após uma série de pesquisas e estudos, especialistas vem entendendo mais sobre os fatores que levam ao aparecimento do tumor e a sua forma de desenvolvimento. Assim, a medicina pode agir de forma menos agressiva e mais precisa na cura dos seus pacientes.
Antigamente, quase todos os diagnósticos de câncer de mama tinham a mesma indicação: mastectomia radical seguida de radioterapia. Um tratamento que, apesar de ter salvo várias vidas, era considerado extremamente invasivo, deixando sequelas e aumentando o tempo de recuperação e afetando a autoestima das pacientes.
Todavia, com o avanço da medicina e com auxílio da estatística, a forma de diagnóstico e tratamento vem se transformando. Um dos principais pontos que mudaram em relação ao cuidado de pacientes com câncer é o entendimento que cada caso deve ser analisado de forma individualizada. Assim, um mesmo diagnóstico não receberá o mesmo tratamento, visto que fatores como histórico pessoal, tolerância do paciente e desenvolvimento serão diferentes de caso a caso.
Por isso, são evitadas generalizações e especulações vazias a respeito do paciente. Sendo necessário um acompanhamento mais de perto da evolução da doença e das reações do corpo ao tratamento submetido. Desta maneira, um diagnóstico similar pode ter resultados diferentes mesmo quando submetidos a intervenções semelhantes, dependendo da resposta individual de cada paciente.
Apesar dos avanços em relação aos tratamentos, um conceito se mantém para aumento das chances de cura: detecção precoce. Segundo o INCA, por meio do diagnóstico precoce (abordagem de pessoas com sinais e/ou sintomas iniciais da doença) e do rastreamento (aplicação de teste ou exame numa população sem sinais e sintomas sugestivos de câncer de mama) podemos permitir uma detecção precoce e, consequentemente, aumentar a chance de cura em 90%.[3][4]
Para o diagnóstico precoce, uma das principais indicações é o conhecimento de sinais e sintomas do câncer de mama e um fácil acesso aos serviços de saúde. Dessa forma, a conscientização da mulher, para aprender a identificar as mudanças habituais das mamas em diferentes estágios da vida e incentivar a exploração do próprio corpo a procura de alterações suspeitas, são ações efetivas e com grande impacto. Assim, por meio do autoconhecimento corporal e de suas mudanças, é possível uma detecção precoce em diferentes estágios da vida.
Para os rastreamentos, um dos primeiros exames que surgem na cabeça das pessoas é a mamografia, uma radiografia das mamas. O exame, que antigamente era amplamente recomendado para mulheres de diversas faixas etárias, possui novas diretrizes devido a análise de sua efetividade para diversos casos.
Como em qualquer exame, sempre existe o risco de erros de diagnóstico. Assim, quanto mais cedo e com maior frequência você começar a fazer uma mamografia maior o risco de receber um diagnóstico errado. Dessa forma, em razão das incidências de falsos positivos e falsos negativos, que geram uma ansiedade desnecessária, uma tranquilidade inexistente ou um tratamento excessivo, a recomendação atual é que as mulheres comecem a fazer a mamografia com idades mais avançadas e com menor frequência.
Outro fator que solidifica a recomendação para prorrogar o exame são as formações e as características das mamas em idades mais jovens, devida a pouca efetividade da mamografia nesses casos. Assim, o exame é importante, porém para idades inferiores às recomendadas o benefício é muito menor que o imaginado.
No artigo “New mammography guidelines call for starting later and screening less often”, a Dra.Nancy Keating, professora de Política de Saúde na Harvard Medical School, diz que “Se examinarmos 10.000 mulheres em seus 40 anos a cada ano durante 10 anos, encontraremos cerca de 190 a 200 casos de câncer de mama. Cerca de 30 mulheres morrerão de câncer de mama independentemente da mamografia, e cerca de cinco terão suas vidas salvas por causa da mamografia”. Ressaltando, assim, o pouco benefício da mamografia em idades menos avançadas.[5]
Todavia, como esclarecido anteriormente, cada caso deve ser analisado individualmente. Por isso, a análise de um médico é essencial para auxiliar em casos com histórico familiar, sintomas ou com fatores ambientais e comportamentais. A mamografia é um exame que salva vidas, porém o seu uso deve ser feito de forma controlada e auxiliada por um especialista.
Infelizmente, o câncer de mama é uma doença presente e frequente em nossa sociedade. Contudo, medidas como o Outubro Rosa vêm trazendo mais elucidação a respeito das formas de prevenção e de tratamento, como a incentivação de um contato com o próprio corpo e de um conhecimento mais aprofundado de si mesmo. Enquanto que estudos aliados com ferramentas como estatísticas vem auxiliando num melhor direcionamento dos exames de detecção do câncer de mama. Mostrando, assim, que várias áreas do conhecimento vem caminhando juntas para oferecer uma melhor qualidade vida para nossa sociedade.
Roberto Araújo,
Engenharia Civil, 3° ano
[1]:https://www.mastology.org/wp-content/uploads/2017/12/MAS_v27n3_194-198.pdf
[2]:https://www.inca.gov.br/numeros-de-cancer
[3]:https://www.medicina.ufmg.br/mamografia-e-metodo-seguro-para-detectar-cancer-de-mama/
[4]https://www.inca.gov.br/controle-do-cancer-de-mama/acoes-de-controle/deteccao-precoce
[5]:https://jamanetwork.com/journals/jama/article-abstract/2463237
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