Rápido e Indolor

Pedro acordou angustiado, esperava fazer cinquenta anos desde que tinha quarenta, e finalmente tinha chegado esse momento. Nos últimos dias refizera a conta de quantos anos tinha, na esperança de encontrar um erro e descobrir que fizera quarenta e nove e não cinquenta. Não encontrara, contou nos dedos, procurou o ano de nascimento na certidão e nada, Pedro tinha chegado a meio século de existência.
O problema não era a idade em si, não achava que estava velho ou algo do tipo. Em uma auto avaliação Pedro achava que estava no auge da vida, amava sua esposa, tinha acabado de ganhar um aumento no trabalho e seus filhos começavam a pensar em formar famílias, Pedro definitivamente estava no auge. Todavia, o que o deixava ansioso eram os seus exames de check up na semana que vem, principalmente com aquele em específico.
Estava nervoso, não vinha dormindo muito bem nos últimos dias e não pensava em nada além do seu exame de sexta. No meio da agonia recorreu aos amigos, todos já tinham passado pela mesma experiência e talvez poderiam ajudá-lo.
Ligou para seu amigo Thiago e explicou a situação, Thiago disse que não era algo agradável porém passava rápido. Não satisfeito ligou para André, este lhe disse que doeu porém definitivamente não era o que ele tinha imaginado. Por fim ligou para Caio, seu amigo mais atípico, e para surpresa de Pedro, Caio disse que o exame era muito tranquilo e que o fazia a cada dois meses, só para garantir. Definitivamente Caio não era uma pessoa típica.
Numa das madrugadas em que passou acordado devido a ansiedade pré exame, Pedro refletiu: “Por que estou com medo?”, “Será que estou exagerando?”, “E se doer?”. Pedro foi chegando mais fundo em sua individualidade ao pensar sobre o assunto “E se eu gostar?”, “Qual o problema de eu gostar?”, “E se as pessoas souberem que eu gostei?”. Pedro acabou adormecendo em seus pensamentos porém sabia que não queria nenhuma novidade nesse estágio da vida, já tinha conquistado muito e tinha medo de perder de tudo.
A semana passou devagar porém a temida sexta chegou e com ela o exame. O exame estava marcado para às 10h da manhã e Pedro saiu de casa às 9h45, com a intenção de se atrasar e precisar remarcar para outro dia. Entretanto, por algum milagre o caminho não tinha trânsito e ele achou uma vaga em frente à clínica, chegou adiantado. Enquanto esperava ser chamado pensou como a medicina tinha evoluído tanto, porém alguns exames continuavam extremamente invasivos, chegou à conclusão que a medicina não tinha prioridade.
Após um tempo de espera, chamaram Pedro. Ele fingiu que não escutou, chamaram de novo e ele nem reagiu, no final a secretária falou diretamente para ele que o estavam esperando. Mais uma vez o acaso agiu contra ele, Pedro se levantou e entrou.
Entrou na sala, mais nervoso do que nunca, e só esperava que aquilo terminasse rápido. Escutou todas as informações e respondeu algumas perguntas, tinha chegado a tão temida hora. O medo estava evidente e Pedro queria fugir, a equipe tentou acalmá-lo, dizendo “vai ser rápido e indolor”.
Pedro estava estático, o responsável pelo exame colocou as luvas e o barulho reverberou por toda a sala, depois passaram um líquido gelado no local. Disseram a Pedro que ele ia sentir uma leve pressão porém era só isso, Pedro respirou fundo e torceu pelo melhor.
Aplicaram a seringa no braço de Pedro e fizeram a coleta de sangue. Pedro suspirou ao final do exame, já tinha feito a coleta algumas vezes, porém era sempre a mesma agonia sem fim. Seu medo de seringa o deixava paralisado, mas ele entendia que independente do exame era preciso fazê-lo para garantir sua saúde e prevenir a diabetes. Na segunda, fez o exame de toque retal, esse foi muito mais tranquilo, não tinha nenhuma seringa.
Roberto Araújo
Engenharia Civil, 3° ano

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