Grupos Técnicos na Quarentena

Os Grupos Técnicos 

A Poli é conhecida pela sua grande quantidade de grupos de extensão, sejam eles sociais, culturais, corporativos ou técnicos. Fazer parte de um destes grupos é poder desenvolver habilidades profissionais e pessoais, além de ser um local de diversão e amizades.

Com mais de 40 grupos disponíveis com diferentes objetivos, esses se tornam uma parte importante do cotidiano de vários alunos e da própria escola. Assim, através de seus eventos, projetos, prestação de serviços ou cursos oferecidos, as entidades da Poli mostram um grande diferencial em relação a outras universidades e uma grande oportunidade de crescimento para seus membros.

Com a chegada da Covid-19 no Brasil e a implementação de restrições sociais, tivemos que nos reorganizar e repensar nossas formas de atuação. Entre todas as categorias de grupos, as dos técnicos certamente foram uma das que mais sofreram com estas restrições. Sendo focados numa parte teórica em conjunto com a elaboração de um projeto físico, estes grupos se encontraram numa situação sem precedentes. 

Apesar de possuírem escopos de atuação diferentes, os grupos técnicos compartilham muitas semelhanças. Todos atuam em competições ao longo do ano e são responsáveis por construírem novos projetos, assim, o ambiente físico era um local vital para suas atividades.

Os grupos costumam se organizar em diversas áreas e fazer seus barcos, robôs, foguetes e carros em oficinas localizadas na Poli e equipadas com instrumentos essenciais e caros. Além disso, a escola acaba por ser um local em comum a todos, facilitando reuniões e a integração de toda a equipe. Dessa forma, as restrições sociais e a regulação de acessos aos prédios da Poli foram deliberações que atingiram todos esses grupos. 

Para saber mais como foi o ano de 2020 e o que o mudou no cotidiano de alguns grupos, o jornal O Politécnico conversou com a Equipe Poli de Baja, Projeto Jupiter, Poli Náutico e ThundeRatz para entender o que se passou dentro de cada entidade. 

Equipe Poli Náutico

Lidando com a pandemia

Apesar de termos escutado notícias sobre a propagação de um novo vírus na China desde janeiro de 2020, todos os estudantes foram pegos de surpresa com a rapidez e com a intensidade das mudanças causadas pela Covid-19 no Brasil. Em uma sexta tivemos aula, na segunda seguinte, não. 

A princípio, todos os grupos estavam receosos de fazerem grandes mudanças em seus calendários e em seus projetos, visto que ninguém sabia quanto tempo iria durar a quarentena, nem quais seriam as proporções das restrições sociais. 

A primeira grande questão que os grupos tiveram que lidar era em relação aos seus processos seletivos de novos membros. Grande parte dos grupos já tinham iniciado suas etapas de admissão ou iriam começar em breve. Com isso, foi levantada a questão de como prosseguir. 

Não houve uma conduta em comum entre as equipes, todas apresentaram uma resposta diferente a essa questão. Alguns grupos como o Náutico e o Baja  rapidamente mudaram suas etapas de seleção para um formato virtual e conseguiram terminar sem atrasar muito o calendário inicial; todavia, a ThundeRatz, por exemplo, optou por postergar em alguns meses suas etapas visando atender as demandas de seus interessados e não modificar muito sua proposta de oferecer tanto etapas técnicas individuais quanto em grupos. Assim, cada grupo foi elencando suas prioridades em relação ao ingresso de novos integrantes, utilizando novas estratégias para se adequar ao momento, como vídeo conferências ou entrega de exercícios, porém sempre de forma virtual e segura. 

Com o fim do processo seletivo e a chegada de novos membros iniciou-se mais uma questão para as equipes: como fazer uma integração remotamente? A adaptação e a aproximação dos novos ingressantes sempre acontecia de forma natural com as reuniões e as atividades em grupos presenciais. Assim, lidar com essa questão sem poder contar com as interações sociais físicas foi um desafio para as equipes.

Segundo Fernanda Quelho, capitã do Projeto Júpiter, a acomodação dos novos membros foi um processo novo e agitado, visto que uma das melhores estratégias para criar esse novo laço era aproveitar as etapas físicas de construção dos foguetes para competições como meio de criar novos laços de afinidade. Com um grupo de 60 pessoas, uma das estratégias relatadas que trouxe um bom resultado para aumentar a amizade entre os participantes foi a de fazer um pequeno Hackathon interno.

Separando as pessoas em equipes e tentando trazer o espírito de união, o Hackathon foi uma dinâmica que trouxe um bom resultado para o Júpiter. Outra estratégia utilizada foi o de fazer reuniões informais para descontração de todos os membros, com o intuito de se conhecerem mais e compartilharem novas experiências. 

Novos objetivos

Um dos grandes diferenciais dos grupos técnicos para as outras áreas é a possibilidade de trabalhar de forma efetiva com projetos de engenharia e ainda colocá-los em operação em ambientes de competição. Ao longo do ano, as equipes vão trabalhando em suas oficinas e nos laboratórios da Poli para se adequar a diferentes editais de disputa com grupos de outras universidades.

Assim, ao não conseguirem ter acesso aos seus locais de trabalho e verem eventos serem cancelados ou adiados, as equipes tiveram que mudar sua forma de atuação. A princípio, muitas colocaram em prática antigos projetos que não conseguiam ser elaborados devido à rotina intensa das áreas. 

Equipe ThundeRatz

O Poli Náutico e a ThundeRatz, por exemplo, acabaram por se dedicarem fortemente à parte administrativa, gestão do grupo e a busca por excelência. Assim, trabalharam para entender quais eram as motivações do grupo, a razão de antigas falhas em anos anteriores, melhorar processos de gerenciamento de patrocínios e passagem de conhecimento. “Foi uma oportunidade de crescimento interno do grupo e principalmente de gerar mais profissionalismo em nossa atuação”, disse Thiago Teixeira, capitão do Náutico.

Com o passar dos meses, as equipes foram recebendo atualizações dos organizadores de suas competições. De início, algumas competições foram canceladas, visto que já estavam prontamente estruturadas para um modelo presencial, foi o caso da Spaceport America Cup e do Winter Challenge, de que participavam, respectivamente, o Projeto Júpiter e a ThundeRatz.

Todavia, com a indicação de que as restrições sociais iriam se prorrogar, muitas competições acabaram se adaptando para um novo formato virtual. Foi o caso da Iron Cup 2021 e da Latin American Space Challenge (LASC), que proporcionaram uma nova vivência e desafios para a ThundeRatz e para o Projeto Jupiter.

Por terem sido realizadas em um novo formato, esses eventos tiveram que mudar suas propostas de realização, sendo necessário explorar novos aspectos dos projetos. Dessa forma, a LASC foi realizada em duas etapas, a primeira solicitou a entrega de relatórios sobre um foguete, com diversas determinações, para ser testado por meios computacionais. Após essa etapa, houve um desafio de planejar a soltura de um satélite em órbita, algo inédito para os desafiantes. Enquanto a Iron Cup 2021, composta por diversas categorias, proporcionou novas realidades, onde tiveram embates de robôs virtuais como a classe do Futebol Simulation 2D e também de robôs controlados remotamente nas categorias Sumo Mini R/C e Hockey Mini Remoto.

Equipe Projeto Júpiter

Apesar de nunca terem competido de forma virtual e sem a participação presencial dos membros, as duas equipes tiveram boas participações, o Projeto Júpiter se sagrou campeão geral e a ThundeRatz foi a equipe mais bem classificada da competição: conseguindo uma medalha de ouro na categoria de Futebol Simulation 2D, outra de prata no Futebol Simulation Mini e uma de bronze no Hockey Mini Remoto.

Ainda que o objetivo das competições seja colocar em prática os projetos trabalhados, as duas equipes ressaltaram o impacto que elas geraram na integração. Assim, mesmo de forma virtual, foi possível reviver o sentimento de união presenciado em momentos como esse.

Passagem de conhecimento

Com o progresso em relação à pandemia e com a adaptação às restrições sociais, alguns grupos como a Equipe Poli de Baja e o Poli Náutico passaram a voltar a ter atividades em oficinas e laboratórios localizados na USP. A princípio, as equipes passaram por conversas internas para alinhar as expectativas dos membros e ressaltar a voluntariedade de encontros presenciais.

Segundo Frederico Hailer, capitão do Baja, foram feitos ofícios junto à diretoria da escola e apresentadas propostas de atividades seguras para uso das instalações dentro da Poli. Conjuntamente, também foram estabelecidas diretrizes internas para conduzir as melhores práticas dos membros, dentro e fora das oficinas, buscando maximizar a segurança de todos.

Os encontros entre os membros, que se disponibilizaram a ir às oficinas, foi muito diferente dos anteriores a Covid-19. Com tempo limitado, uso de equipamentos de proteção individual, distanciamento social e outras medidas, as idas às oficinas eram focadas para a realização de testes e execução de tarefas essenciais. 

A questão referente à restrição de atividades práticas levou os grupos ao impasse nunca vivenciando: como garantir a passagem desse conhecimento tão necessário para os novos membros? Um dos grandes diferenciais dos grupos técnicos, como citado anteriormente, é a elaboração de um projeto real, colocando em prática os conhecimentos aprendidos em sala de aula e tendo experiência em atividades manuais. 

Todas as equipes encontraram soluções diferentes para tentar lidar com esse problema, que apesar de recorrente, foi agravado ainda mais durante a quarentena. Equipes como o Poli Náutico construíram um blog e aproveitaram a ida às oficinas para gravarem vídeos de procedimentos corriqueiros durante a construção de seus projetos, e junto com manuais disponíveis na internet, foram elaboradas aulas para seus membros. A ThundeRatz também organizou aulas para seus membros sobre temas relevantes à equipe e elaborou uma Wiki e aprofundou seu fórum, visando a garantir uma solução efetiva para assegurar a transferência de conhecimento.

Como forma de se aperfeiçoar e adaptar-se à nova realidade, os grupos passaram a adotar e reforçar o uso de simulações computacionais em suas rotinas. O Projeto Júpiter, por exemplo, passou a utilizar novos softwares para seus testes, além de conseguirem testar com maior precisão seus projetos, essas ferramentas se tornaram essenciais para garantir a eficiência dos modelos e agilizar possíveis processos quando voltar à rotina presencial.

Expectativas para 2021

O início de 2021 veio com novas esperanças de um novo recomeço, passado quase um ano do início da pandemia e iniciado o processo de vacinação, as expectativas eram de amenizações e talvez volta das atividades presenciais. Todavia, esse ciclo de renovação não durou muito, tivemos um agravamento  da pandemia e as expectativas de retorno continuam inexatas.

Ainda assim, o cronograma das equipes continua. Equipe Poli de Baja, ThundeRatz e Poli Náutico já possuem competições marcadas para este ano e pretendem entregar modelos físicos de seus projetos até o final do ano.

O ano de 2020 foi uma surpresa para todos e os aprendizados adquiridos serão mais importantes do que nunca para lidar com as incertezas dos próximos meses. Os grupos técnicos mostraram um grande poder de resiliência, conseguindo se adaptar aos novos padrões de conduta e procurando, continuamente, formas de se desenvolver. 

Importante ressaltar a importância das extensões para os seus membros, elas se tornam um local de apoio e amizade num ambiente, muitas vezes hostil, que é a Poli. Assim, diante de uma situação delicada que tivemos de lidar, participar de um grupo é ter um local seguro e confortável para compartilhar experiências e ajudar a superar um período tão complicado.

Felipe Bagni, um dos capitães gerais da ThundeRatz, disse no início de nossa conversa que a Thunder era uma equipe de robôs voltada para competição, e com a pandemia eles acabaram perdendo tanto seus robôs quanto as competições. Durante 2020, Felipe disse que se tornou cada vez mais evidente o fato da equipe ser muito mais sobre pessoas do que projetos. Talvez seja esse o grande aprendizado dos grupos técnicos na quarentena. 


Roberto Ortega,
Engenharia Civil, 4º ano.

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