O que farão os grupos de Santos?

A Poli Santos é a unidade da Escola Politécnica na cidade santista, em que se leciona o curso de Engenharia de Petróleo, além de ser uma unidade voltada para pesquisa. A partir de 2021, como qualquer ingressante em petróleo deve ter reparado, o curso retornará para o campus de São Paulo e, por tal razão, a graduação em Engenharia de Petróleo na Poli Santos encerrará em 2024. 

Tendo sido instalada em 2012, os alunos que ali chegaram se depararam com uma Poli bem diferente da capital. Isso porque, além da questão de não ter veteranos, faltavam vários aspectos essenciais para a vivência universitária. Falar de problemas que aconteceram na Poli Santos, porém, é bater numa tecla já quebrada. A verdade é que, durante todo esse período, diversos projetos foram desenvolvidos e muita coisa boa surgiu ali.

Dentre esses projetos, notam-se os grupos de extensão criados ali. A extensão é um dos 3 pilares da Universidade (ensino, pesquisa e extensão) e, sem essa parte desenvolvida pelos alunos, Santos seria capenga. Enquanto na Poli do Butantã temos dezenas de grupos, desde foguete a teatro, por anos faltavam grupos na baixada, até que eles foram surgindo ao pouco e, até 2020, 4 grupos existiam: o Capítulo Estudantil SPE da USP, a Core Jr, o Cursinho Pré-vestibular AtuaMente (CPVAM) e a Poli Subsea. 

Quiçá o leitor conheça algum desses grupos, embora isso seja bem incerto. Se for um aluno ou ex-aluno da unidade da baixada, a probabilidade de conhecer aumenta bastante, fora isso, eu duvidaria. Ainda assim, mesmo sem conhecer os grupos, o leitor, atento à redação do texto, se questiona: com o iminente fim da graduação na Poli Santos e a falta de ingressantes, o que farão os grupos? Encerrarão as atividades? Tentarão uma subida? Se tentarem subir, seria pegando o carro e subir a Serra do Mar? São inúmeras possibilidades e, como era de se esperar, grupos diferentes seguiram caminhos diferentes. A equipe d’O Politécnico entrou em contato com membros e ex-membros dos quatro grupos para elucidar tais questões.

 

Capítulo Estudantil SPE da USP

O Capítulo Estudantil SPE da USP surgiu, em 2012, como uma divisão dos estudantes da Engenharia de Petróleo da USP na Society of Petroleum Engineers (SPE, tradução livre como “Sociedade de Engenheiros de Petróleo”), uma sociedade extremamente organizada e que busca ampliar as discussões na área de engenharia de petróleo ao redor do mundo — com o curso de engenharia de petróleo da Poli, funcionou da mesma forma. O Capítulo é formado por estudantes de graduação dessa engenharia, que realizam projetos e buscam diversas formas de estimular o contato dos alunos com o mercado de óleo, gás, e outras discussões que envolvem toda a cadeia do petróleo. Trata-se de um grupo focado totalmente na parte de petróleo e com grande importância para a extensão universitária desse curso.

De acordo com o atual presidente do Capítulo Estudantil, há uma forte rede de contatos na SPE, que se estende a nível nacional e mundial, permitindo que projetos dentro da área de petróleo sejam executados e tragam personalidades importantes, como é o caso do Workshop de Petróleo, evento anual promovido pelo Capítulo na Poli. Porém, na SPE da Poli, a intenção não é de “formar um time”, em que cada um trabalha em uma área restrita e todos compõem a SPE. A vontade é de que haja um grupo pequeno e que essas pessoas estejam alinhadas e buscando realizar um mesmo projeto, com todos se ajudando no trabalho. Ainda segundo ele, o fato de as pessoas que participam do projeto terem pouca experiência na área gera dificuldades e eles pretendem superar trabalhando juntos. 

Para a transição para São Paulo, não há pressa. O foco do Capítulo é realizar o trabalho da mesma forma e preparar uma base forte para que, quando as pessoas de São Paulo tenham já mais conhecimento e domínio, tanto em sua engenharia quanto no funcionamento do projeto, possam receber o projeto em mãos e saber exatamente o que fazer. As pessoas que tocarão a SPE em São Paulo já deverão ter um preparo maior para que possam dar continuidade ao projeto num futuro próximo, realizando projetos novos e estimulando os alunos a se engajarem com sua engenharia.

 

Core Jr

A Core Jr nasceu como a empresa júnior (EJ) da Poli Santos, em 2016, com a proposta de trazer o ambiente empresarial para Santos. O foco inicial era trazer empresas focadas em petróleo, mas como quem participava da EJ eram pessoas no começo da graduação, não sabiam tanto sobre petróleo e, com os anos, migraram para tecnologia, atual área da empresa. Hoje o foco é o desenvolviemnto de sites, planilhas customizadas, aplicativos etc para pequenos e médios empreendedores, buscando um crescimento mútuo. A organização interna é com divisão de cargos e o processo seletivo integra trainees.

Em 2020, a Core Jr sofreu com uma grande evasão de membros. É o costume operar com cerca de 10 pessoas, porém vários saíram da gestão e, ainda no 1º semestre, sobravam apenas 4 no grupo. Ironicamente, nesse período houve um crescimento da empresa que, por estar bem estruturada e com o foco na tecnologia, não dependia do presencial para exitir. A partir do segundo semestre as coisas começaram a funcionar melhor, com o ingresso de novas pessoas, porém um problema se aproximava: com a certeza de que o curso seria transferido de volta para Sâo Paulo, o que fazer com a Core? Como boa parte da gestão era de membros novos, havia a certeza de que teriam pessoas para participar desse projeto, o que resolvia, por si só, muita coisa. Faltava analisar o que seria feito.

As discussões para isso começaram ainda nesse segundo semestre, com a avaliação de estratégias para subida. Diferentemente da SPE e Poli Subsea, havia, em São Paulo, um grupo de extensão com atuação parecida à da Core Jr: a Poli Jr, empresa júnior da Escola Politécnica que atua desde 1989. Para a Core, porém, isso não foi visto como um problema: na Poli tem gente pra todos e as empresas estão em áreas e portes diferentes. O enfoque decidido seria de buscar bixos de petróleo SP, mas seria aberto para todos.

Nesse sentido, obtiveram certo êxito com os ingressantes: novos 3 membros, sendo 1 da naval e 2 de petróleo. Para a equipe, há diversos aspectos que serão melhorados para o processo seletivo 2021.2 para que possam garantir uma gestão em 2022, mas mantendo o “sentimento de família”. O momento é de atrair mais gente, garantir maior visibilidade para o grupo e diversificar a Core Jr, para que cada um possa evoluir individualmente no grupo.

Apesar disso, os planos não param por aí. A gestão planeja transferir a documentação da EJ para o cartório do Butantã ainda esse ano, além de usar um banco digital para o grupo, visando a facilitar a transição definitiva. Para 2021 e 2022, imaginam reuniões mistas com modo online, mas já pensam que, no futuro, será preciso um espaço físico para reuniões em São Paulo. A Core Jr deve continuar com suas atividades e ampliar seus horizontes nos próximos anos. 

 

Cursinho Pré-vestibular AtuaMente (CPVAM)

Idealizado em 2015, surgiu como um projeto de monitoria de matemática oferecida pelos alunos da engenharia de petróleo. Foi em um ano em que mais de 10% dos ingressantes eram provenientes de cursinhos populares. Quando chegou 2016, o projeto se expandiu para um cursinho popular de turmas anuais de 50 alunos, o Cursinho Pré-vestibular AtuaMente (CPVAM).

Nesse projeto, são ministradas 5 aulas de 50 minutos diariamente, de segunda a sexta. A ideia é cobrir os conteúdos requisitados nos principais vestibulares, com foco na Fuvest, possibilitando que jovens e adultos da baixada santista acessem esse conhecimento para ingressarem nas universidades. No período pré-pandemia, o CPVAM também promovia eventos culturais, visitas às universidades, entre outros eventos. No momento, as aulas são ministradas ao vivo no Google Meet e/ou disponibilizadas no YouTube. Foi montada uma parceria com outro cursinho popular na Baixada, para que algumas aulas sejam ministradas para as duas turmas. Busca-se manter o contato com os alunos, mesmo que online, além de incentivar os estudos por outras formas como listas e simulados.

A organização do CPVAM, até 2019, era feita por uma diretoria de 5 a 10 pessoas que mudava a cada ano, sendo todos alunos da graduação na Poli Santos. Os alunos da graduação também eram, por vezes, professores e monitores no cursinho. A partir de 2020, a diretoria se tornou formada por alunos da pós-graduação em Santos e membros externos (professores do Cursinho desde a fundação), sem a participação dos graduandos, que também não estão mais presentes no corpo docente devido à falta de interesse no projeto.

Essa falta de interesse é uma das atuais ameaças ao CPVAM, pois, como não haverá mais ingressantes na graduação em Santos, a tendência é que não tenham mais alunos participando do projeto, contando apenas com os interessados na pós-graduação. Sem que haja pessoas ligadas à USP, o cursinho pode perder o vínculo com a Universidade. Como a localização física do CPVAM é na própria Poli Santos, isso poderia representar a perda do espaço físico do cursinho.

De acordo com uma das pessoas na diretoria do projeto, não há previsões para o futuro. O cursinho é de Santos e não deve subir para São Paulo, mas não se sabe se o projeto será continuado. Muitos dos membros já não possuem vínculo com a USP, mas a diretoria do CPVAM se esforçará para continuar atendendo alunos da Baixada Santista, porém ainda sem saber como isso deve ser feito.

 

Poli Subsea

A Poli Subsea foi (spoiler!) um grupo de extensão focado no desenvolvimento de ROVs (do inglês, “Remotely Operated Underwater Vehicle”, traduzido para “veículo submarino operado remotamente”). Era um grupo técnico, como os que compõem a GE4R no campus de São Paulo. Operou sob o nome de Subsea entre 2019 e 2020, sendo a continuação da “Academia ROV”, grupo que comprava kit de ROVs e apenas montavam e testavam, mas que se dissolveu após problemas com o docente que participava do grupo. 

Apesar de ter surgido formalmente em 2019, Bruno Fois, o Rag, que entrou na Subsea naquele ano, garante que o grupo já era bem estruturado, sendo já organiado e desenvolvido, além de contar com os “melhores alunos” da baixada. A Subsea operava com um espaço físico, que era uma sala com equipamentos e, embora pequena, possuía um programa bem embasado por trás. Isso pois ROVs são essenciais na indústria de petróleo, amplamente usados nas plataformas petroleiras, o que permitiu que o grupo conseguisse o apoio do SENAI de São Caetano do Sul, de Cubatão e de Santos. 

Além desses apoios, a Subsea foi financiada pelo Amigos da Poli em 2019. Nesses períodos, o grupo técnico “cobria o vazio” desse tipo de atividade na unidade de Santos. A partir desse período, o grupo não mais comprava kis, mas sim desenvolviam seus próprios projetos e, ainda que com menos de 10 participantes, havia separação em diretorias para cada um desenvolver seu melhor. Os testes eram feitos, por vezes, em piscinas infláveis e, num desses testes, encheram a piscina no apartamento de um dos membros e afundaram um pouco o piso do prédio: a Subsea trabalhava num jeito “mão na massa”.

Talvez por serem um grupo tão mão na massa, com poucas pessoas, quando a pandemia e, com ela, a quarentena, chegaram, o grupo sofreu um golpe profundo. Não tinham feito o processo seletivo de 2020 e, sendo tão técnico, não fazia sentido continuar operando à distância — entraram no “modo de espera”, deixando a Subsea com um pé na cova. A subida da Engenharia de Petróleo para São Paulo colocou o outro pé do grupo no sabonete, já que, se continuasse em Santos, não ia ter gente interessada e, com as dificuldades que já enfrentavam e sem membros novos, uma subida era inviável. 

Foi no início desse ano que decidiram, então, encerrar as atividades definitivamente. Para Rag, se petróleo continuasse em Santos, o projeto poderia ser retomado quando as aulas presenciais retornassem. Como não é o caso, o ex-membro acredita que, se um dia houver alunos interessados, o projeto pode ser reiniciado em São Paulo. “Eu ajudaria a retomar, refazer esse contato, afinal o SENAI que mais ajudava era o de São Caetano, que é ali na Grande São Paulo”. Portanto, a Poli Subsea é um grupo que se encerrou por conta da subida, mas que, pela aplicação na Engenharia de Petróleo, poderia ser retomado.

 

Num âmbito geral

 

A subida do curso de Engenharia de Petróleo para São Paulo impactou a vida de dezenas ou centenas de alunos das mais diversas formas. A Poli Santos teve um verdadeiro “boom” de projetos de extensão no período em que recebeu ingressantes e, passada essa fase, esses grupos buscam se remanejar da melhor forma possível. Temos casos e casos: alguns encerram, outros estruturam uma subida planejada, outros se mantém e analisam com calma os próximos passos. O importante é que a história desses grupos e sua importância para os alunos e para a história da Escola Politécnica não seja esquecida nem apagada. Que nos próximos anos, nos lembremos de projetos como o da Poli Subsea, que façamos o possível para ajudar grupos como o CPVAM e que grupos como a Core ou o Capítulo sempre se lembrem de suas origens e que esse processo transitório permita fortalecer a atuação desses grupos.

 

Arthur Belvel Fernandes,

Engenharia Mecânica, 2º ano.

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