No último domingo, dia 12 de dezembro, ocorreu o Grande Prêmio de Abu Dhabi, e aqueles que acompanham a Fórmula 1 sabem que isto marca o fim da temporada. Para aqueles que não acompanham, meus sentimentos! Pois essa não foi qualquer temporada, não, foi muito mais que isso. Foi a melhor temporada que esse esporte já viu! Um duelo entre um dos maiores (se não o maior) pilotos de todos os tempos e um dos jovens mais talentosos que a academia da Red Bull já formou.
Lewis Hamilton e Max Verstappen protagonizaram batalhas intensas, exageradas e até perigosas ao longo do ano. Tivemos Max forçando ultrapassagem em Ímola, Lewis jogando Max no muro a mais de 250 km/h em Silverstone, Max estacionando o carro — literalmente! — em cima da cabeça de Lewis em Monza… Em certo ponto do campeonato, havia uma preocupação geral sobre o ímpeto desses dois, um medo claro de que acabassem gravemente machucados, ainda mais após os acidentes graves de Silverstone e Monza, que, felizmente, não deixaram ninguém ferido.
É importante lembrar que a F1 vivia um domínio de Lewis Hamilton, que, nos últimos quatro anos, ganhou o campeonato de pilotos, somando sete títulos mundiais e igualando a soberba marca de Michael Schumacher. Para um jovem piloto destronar um titã desses na luta pelo título, é preciso de muito mais que apenas um bom carro e uma boa estratégia. É preciso se doar de corpo e alma, aproveitar cada segundo ganho na pista e, principalmente, ter um jogo mental intenso que proporcione uma quebra no psicológico do seu rival — e Max soube aproveitar muito bem disso durante o ano. Porém, ele exagerou! Forçou ultrapassagens onde não havia espaço, comprou brigas desnecessárias ou apenas por pura picuinha e, muitas vezes, passou do limite.
Dois bons exemplos disso foram as corridas em Interlagos e em Jeddah. No GP do Brasil, no intuito de defender sua posição, ele acabou espalhando seu carro na “Subida do Lago”, fazendo com que tanto ele quanto seu rival saíssem da pista. No GP da Arabia Saudita, foi pior: ele deliberadamente efetuou um “brake test” — ato de frear deliberadamente na frente de um piloto que vem em alta velocidade — sobre Hamilton, fazendo com que o inglês batesse em sua traseira. Esse tipo de atitude é inadmissível para um piloto de seu nível, para uma disputa desse nível.
Obviamente, ambos pilotos só chegaram a tal ponto pois houve uma direção de prova patética durante toda a temporada. Michael Masi, principal responsável pelas decisões da diretoria, sofreu pressões de ambos os chefes de equipes envolvidos na disputa do título e, com assombrosa falta de pulso, acabou tomando decisões extremamente bizarras. Interpretando o regulamento a seu bel prazer, o que guiou Masi a distinguir o que deveria ser punido e o que era permitido foi a incoerência.
Claro que, com todos os fatos acima somados, quis o destino que Max Verstappen e Lewis Hamilton chegassem em Abu Dhabi empatados em pontos. Era a corrida da vida. Quem terminasse a frente do outro levava o campeonato. Após uma largada ridiculamente perfeita, Lewis assumiu a ponta do GP e minou qualquer chance de reação de Max. A menos de seis voltas do final da corrida, Hamilton possuía uma vantagem de onze segundos, praticamente impossível de ser batida, quando Nicholas Latifi, piloto da Wiliams que estava na última colocação, perdeu o controle na curva 14 e bateu no muro. Com isso, o safety car entrou na pista, e os pilotos tiveram que diminuir o ritmo. Alguns deles, inclusive, pararam para trocar os pneus, incluindo Max. Hamilton, seguindo a estratégia da Mercedes, continuou na pista. Eles acreditavam que não haveria tempo hábil para que se erguesse a bandeira verde e, provavelmente, a corrida acabaria sob bandeira amarela, sem que se pudesse ter ultrapassagens.
E foi aí que Toto Wolff (chefe da Mercedes) se enganou feio. Masi autorizou o retorno à corrida, além de permitir que os carros retardatários que estavam entre Hamilton e Verstappen pudessem tirar essa volta e retornar para suas posições reais. Logo, haveria uma relargada, com Hamilton e Verstappen duelando pelo título por uma volta. Verstappen, com pneus mais novos, conseguiu ultrapassar Hamilton, consagrando-se, assim, campeão mundial de F1 aos 24 anos.
Era o desfecho hollywoodiano que todo fã queria para o campeonato, a não ser pela parte que o influenciou. A decisão patética de Michael Masi de autorizar apenas os carros entre os dois postulantes ao título ultrapassarem o safety car, ainda mais na mesma volta em que ele se retirou, abriu brecha para um monte de discussões, incluindo dois protestos da Mercedes e um possível julgamento na corte de Paris. Mas o que ocorreu não foi totalmente fora das regras, não, apenas uma interpretação estranha do que está escrito. O regulamento diz que o procedimento de safety car é feito utilizando a seguinte sequência: primeiro os retardatários ultrapassam o carro e retomam sua posição no grid e, na volta seguinte, o safety car se retira da pista, e a corrida recomeça. Entretanto, existe um artigo que alega que, na mesma volta em que se anuncia que o safety car deixará a pista, ele tem de fazê-lo. Para coroar a lambança, existe, ainda, um artigo que dá ao diretor de prova o direito de sobrepor regras; logo, numa interpretação própria, o que ele fez está tecnicamente correto. O problema disso tudo é o malabarismo feito com o regulamento, algo sem precedentes que deixa a imagem negativa de uma possível parcialidade nos atos.
Obviamente, isso não tira o mérito de Max no título. Claro que não. Qualquer um dos dois que vencesse seria extremamente merecedor. Verstappen foi recordista de pódios na temporada: de 21 corridas, em 18, ele terminou, no mínimo, em segundo lugar. Obteve 10 vitórias, contra 8 de Hamilton. “Ah, mas ele teve muita sorte na última prova”. Verdade, meu caro leitor, mas, nesse esporte, a sorte acompanha o talento. Todo campeão precisou de sorte. Foi assim com o Ayrton Senna, em 1988, quando milagrosamente conseguiu religar seu carro, que havia morrido na largada do GP do Japão, conquistando, no fim daquela corrida, seu primeiro título. Foi assim com o próprio Hamilton que foi campeão pela primeira vez nos últimos 30 segundos do GP de Interlagos de 2008 sobre Felipe Massa (ainda dói).
Sendo assim, é insano que, após uma temporada tão doida, ninguém saiba se o campeão manterá esse título. Como eu disse acima, a Mercedes recorrerá em Paris, e minha humilde opinião é que esse recurso irá resultar em uma espécie de acordo entre a FIA (Federação Internacional de Automobilismo) e a Mercedes, mantendo o resultado da competição como está, até porque seria ainda mais bisonho se ocorresse alguma mudança na classificação final a essa altura do campeonato. O que nos resta é esperar, e torcer para que a temporada do ano que vem seja ainda melhor, que mais pilotos e equipes possam disputar vitórias e que seja uma competição limpa e bonita, resolvida na pista.
Luiz Henrique Piffer Marques,
Engenharia de Produção, 1º ano.
Mateus Pina,
Engenharia Mecatrônica, 1º ano
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