Com o início de 2022, somos todos veteranos… Deixar de ser bixo é uma transição paulatina e, muitas vezes, cercada de dores…
Um dia, o politécnico já teve o brilho nos olhos: recém-ingressante, ele abria a câmera, cheio de sorrisos soltos, distribuía bons dias no chat, era participativo e até se arriscava aqui e ali com respostas a perguntas de professores. Entretanto, hoje, nosso querido protagonista luta pelo papel de figurante; sofre intensamente no trajeto cama-computador e não raramente toma essa batalha como perdida. Em que canto do quarto, perdeu-se o encanto?
Com o início de 2022, somos sonhadores; afinal, novo ano, novas possibilidades. Nesse clima festivo e promissor, há, ainda, esperanças para o novo semestre: educadores. “Educar”, na origem etimológica, é formada por ducere que significa “guiar, conduzir” e ex, “para fora”. Em latim, a palavra significava “instruir”, mas também “criar, nutrir”. Precisamos sair de nós mesmos para ver o que há além e para crescer. Precisamos de educadores! Assim, o Jornal traz ao politécnico uma entrevista com o educador Mateus Botani de Souza Dias, professor do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais (PMT), que busca sempre estreitar os laços com os alunos, sabe se aproveitar do bom humor e não teme questões polêmicas.
O que te motivou a ser professor e qual é sua inspiração no ato de educar?
Fiz engenharia de materiais na USP de Lorena e, junto à graduação, fiz iniciações científicas, que me aproximaram da área acadêmica. Sempre gostei de fazer apresentações, de falar em público, de sentar junto, de ensinar… Enquanto estudante, eu tive alguns professores muito bons, que conduziam bem a aula, interagiam com os estudantes e sabiam não ser punitivos com os alunos. Hoje, como professor, sou fruto da somatória desses vários professores que me inspiraram. Aprender nem sempre é algo prazeroso, mas um professor inspirador é aquele que instiga a vontade de ir à aula e de aprender.
Para ser levado a sério, como professor, é necessário ser sério?
Há duas formas das pessoas gostarem de você: por amor ou por temor. O temor, sem sombra de dúvidas, é a forma mais fácil, mas do ponto de vista da educação, isso não funciona. Na universidade, existe uma hierarquia, na qual os professores carrancudos acabam impondo mais respeito, porém, da minha experiência como estudante, os professores mais acessíveis, que estreitavam relações com a classe, tinham as aulas mais interessantes. O professor não pode obrigar ninguém a prestar atenção, por isso, é lindo quando o aluno quer simplesmente saber algo e eu, felizmente, sou a pessoa que lhe pode fornecer isso.
Como você vê a questão do utilitarismo na ciência?
Eu sou uma pessoa mais romântica quanto ao conhecimento. Para mim, não necessariamente deve haver uma razão por detrás dele. Na área acadêmica, muito se discute sobre uma pesquisa ser tecnológica ou científica, sobre a pesquisa ser aplicável na indústria e sobre ser lucrativa. Queria ver alguém chegar para Pitágoras e dizer “ rende um milhão antes dos trinta”… Não é assim que funciona, a ciência é o conhecimento pelo conhecimento. Por exemplo, o celular, hoje, não ocupa uma sala inteira por conta do transistor. Quem o descobriu achou interessante que a peça conduzia de um lado, mas não do outro. Naquela época, nada se sabia de sua utilidade, só quinze anos depois que passaram a usá-lo de fato e, hoje, o transistor é indispensável. Para mim, a ciência é romântica, mas pode ser aplicada, por isso, deve haver um diálogo misto entre ambas as partes.
No atual cenário de crise e desvalorização da ciência, você deposita esperança no Brasil?
Há décadas se fala que o Brasil será um país do futuro, mas o que vemos é um país que mantém seu papel da época colonial, que exporta milho, soja, minério de ferro… O problema dessa prática é que o valor agregado desses itens é muito baixo. Uma tonelada de minério de ferro, por exemplo, vale muito menos do que um simples celular… Ainda assim, na lista de valor dos produtos brasileiros, tem uma empresa que se destaca muito: a Embraer. Ela é capaz de tornar matéria-prima em produtos úteis para a sociedade e com grande valor agregado. Indo além, na área de mobilidade urbana, nosso país chegou a uma solução muito eficiente do ponto de vista ambiental: o etanol; e, mais atualmente, na área da saúde, conseguimos desenvolver uma vacina! Porém vemos que, ao mesmo tempo que no nosso país há muitas pessoas competentes, sofremos, também, com uma grande desigualdade… Atualmente, entre 14 e 18 milhões de famílias pleiteiam o Auxílio Brasil (antigo Bolsa Família), e por volta de 1/4 da população brasileira está abaixo ou na linha de pobreza… Eu acredito que o futuro do país dependerá muito das políticas que forem adotadas. Pessoalmente, eu acredito no Estado de bem-estar social. Eu, assim como vocês, sou fruto dele.
Qual legado você pretende deixar como Mateus, professor e brasileiro?
Você. O maior fruto do trabalho de um professor é um aluno com capacidade de reflexão, que vai olhar para trás e vai lembrar: “Nossa, tive aula com esse cara! Eu esqueci todo o resto, mas uma coisinha eu aprendi!”. É esse aluno! E eu não tenho anseios de fazer algo maior do que isso.
Veronica Duval,
Engenharia de Produção, 2º ano.
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