O Politécnico viu: The Edukators

Parte da seleção do Festival de Cannes de 2004, a produção austríaco-alemã Die fetten Jahre sind vorbei (Os Educadores, na tradução oficial, e “seus dias de fartura estão chegando ao fim”, na literal) é de uma qualidade inesperada – o filme dirigido por Hans Weingartner com restritivos €250.000 oferece profundas discussões intelectuais que compensam o baixo valor de produção.

Catapulta inicial da carreira de Daniel Bruhl, ator que viria a integrar o elenco de Bastardos Inglórios (2009) e Capitão América: Guerra Civil (2016), a obra o tem em Jan, revolucionário anti-violento revoltado com a passividade alienada do povo europeu. Agem junto a ele Peter (Stipe Erceg) e, posteriormente, sua namorada Jule (Julia Jensch) em protestos sinistros, mas sempre direcionados pela ética inescapável ditada por Jan. Isso entra em questão quando fazem sua primeira vítima, o executivo Hardenberg (Burghart Klaussner) que, seja em suas ações particulares ou no que representa na estrutura de classes, opõe-se a tudo que os jovens defendem.

Através de diálogos com o capitalista por excelência, além do encaro de suas tensões internas, assiste-se à reflexão dos três sobre seus métodos e suas concepções de relações. Ao final fica em aberto: estão eles mais ou menos emancipados da ordem burguesa?


Passado muito tempo de meu contato inicial com Die fetten Jahre sind vorbei (2004) restavam lembranças vagas de ideais revolucionários, exploração ingrata, sistemas injustos… Isso é efeito de minha única grande ressalva em relação ao filme: ele não comove profundamente – nisso lembra Jan, seu protagonista que, em tanto retirar-se em intelectualidade, falha em assumir as mãos sujas que lhe carecem. Divergem ao correr do longa: Jan se aclimata à práxis revolucionária (e ao inevitável desvirtuamento da rigidez de suas convicções) e é clara sua implementação nas esferas social e individual de sua vida; a obra não o acompanha, possivelmente em razão das performances medíocres de Erceg e Jensch.

À parte isso, a segunda experiência com a história suscita impressões largamente favoráveis. Munida de uma tese estruturada e facilmente transponível ao espectador, ela questiona o clichê mais atirado contra a juventude indignada de uma maneira ao dispor único da arte. Afinal, como questionar racionalmente um argumento baseado em experiência estando no auge de seus vinte e poucos anos? Como fazer afirmações honestas sobre a natureza da sua ideologia dali a duas ou três décadas? A expressão ficcional é que possibilita a reflexão sobre a alegação de que a idade traz o conservadorismo – e a contrapartida é o caráter anedótico da história, o final em aberto… discute-se sem real direcionamento a uma conclusão (o que não configura inevitavelmente uma falha).

Enfim, se Die fetten…  não estimula corações, compensa em seu alento às inquietas mentes revolucionárias. Há valor em afirmar bravamente, após reconhecer todas as concessões que fizeram (sem, de maneira alguma, anuir a elas), que algumas pessoas nunca mudam. E, sobretudo,  em trazer à prática o que prega através de um desfecho ponderado entre a integração e a rejeição da ordem capitalista; exitando no raro estabelecimento de um verdadeiro diálogo fundamental entre obra e personagens, ambos aprendem no decorrer da narrativa a rejeitar o pedantismo (inadvertido) de idealismos intocáveis. 

Nota: 9,5
Laura Carmieletto Saran,
Engenharia Química, 1º ano.


É muito gostoso sair de uma sessão dando risada, principalmente quando se está com boas companhias. Mas é estranho quando o filme que acabou de ser visto nitidamente não tem essa proposta. Imagine encerrar Kung Fu Panda com um choro melancólico, ou se referir a Parasita como um filme hilário. Há alguma coisa errada nisso. 

Die fetten Jahre sind vorbei em seus primeiros minutos parece entregar um enredo interessante, mas logo muda. O que inicialmente convida para uma reflexão sobre acúmulo de capital e legitimidade de protestos se torna algo maçante, provocando sono em quem está precisando botá-lo em dia. Se aproximando da metade, surpreendentemente o ritmo muda, mas de forma que se torna engraçado para assistir com a galera. Volto com o meu argumento do primeiro parágrafo: isso não seria um problema se a proposta do filme fosse essa. A parte interessante do debate político vem já próxima do fim, o que parece tarde para um filme cuja temática é o contexto de classes. Mas isso não tira totalmente o seu mérito. O final é de fato interessante, mas não o suficiente para salvar toda a trajetória problemática que veio sendo construída.

The Edukators, enfim, é divertido para zoar com os amigos, enquanto sua proposta parece estar longe disso. No entanto, julgo injusto tratá-lo apenas como um filme ruim, já que cumpre o seu papel, embora de forma tardia. Uma obra de sentimento misto, empolgante como leite morno. Longe dos melhores, também distante dos piores. Sem sombra de dúvidas, um dos filmes já feitos!

Nota: 5
Murilo Ferreira Noronha,
Engenharia de Produção, 2º ano.


The Edukators foi um filme que, além de divertido e interessante, trouxe diversas críticas à alta concentração de renda e disparidade econômica ao mesmo tempo que conseguiu construir protagonistas não idealizados: são jovens, tomam decisões precipitadas e fazem escolhas irracionais, por vezes até contrariando seus próprios valores racionais, fazendo com que, por mais inusitadas que sejam as situações que eles enfrentam, o filme não perca seu realismo. 

Para além da questão política e ainda assim, também dentro dela, o filme traz uma reflexão sobre a mudança das pessoas de jovens para adultos, afinal, quantos dos nossos valores de agora serão seguidos por nós no futuro? E no futuro, será que concordaremos com tudo que fizemos quando jovens?  Vale a pena assistir ao filme e se abrir a refletir sobre os próprios valores. 

Nota: 9,5
Bruno Pereira dos Santos,
Engenharia Civil, 1º ano.


The Edukators tem de tudo que o brasileiro gosta: um triângulo-amoroso mal-resolvido, uma pitada de política revolucionária alá “Robin Hood” e um enredo que seria facilmente solucionado com meia dúzia de sessões de terapia. A história é curta, divertida e não muito complexa, mas conta com personagens de motivações intrigantes, abusando do sarcasmo para debochar de algumas figuras políticas caricatas.

Certas partes do filme, especialmente seu começo e seu final são meio turbulentas, prejudicando a imersão e compreensão da história. Algumas situações e cenas não são bem apresentadas, o que fica confuso quando combinado com a fotografia exageradamente dinâmica e a trilha sonora não tão bem encaixada. Mesmo assim, o filme serve muito bem no propósito de te distrair, divertir e até passar, de maneira cômica, uma mensagem política.

Nota: 7
Rafael Varanda Bernardo,
Engenharia Mecatrônica, 2°ano.


A ideia é boa, a execução nem tanto. A obra predispõe-se a trazer uma série de concepções e reflexões, de forma assídua, centrando-se em entender e debater os mecanismos do sistema que rege a sociedade capitalista, em consonância ao romance dos protagonistas. Entretanto, a inserção dos conceitos me parece um tanto forçada, visto que o filme acaba se perdendo com a situação ocasionada pelo romance, abordando a política de forma rasa e imergindo em conflitos amorosos. Vale ressaltar que há pontos positivos, que se tornam mais sólidos com o desenvolver da trama, como a criação de um embate de visões de mundo, precipuamente distintas, que me surpreenderam por fugir dos estigmas esperados.

Nota: 7,5
Fernanda Yuri Muta,
Engenharia Química, 1º ano.


Após quarenta e cinco minutos absolutamente genéricos e previsíveis, The Edukators começa a mostrar a que veio ao apostar em um misto de adrenalina e diversão (e irresponsabilidade) e apenas em sua metade ganha de fato a atenção do público — ainda sem abandonar a estrutura tradicional do gênero. O filme possui ótimas sacadas (como a simples cena do celular e da janela, ao Handenberg chegar em casa), mas também aspectos constrangedores, que beiram o amadorismo. Por vezes, a câmera parece não saber qual tipo de história está contando. 

Em vários momentos, o longa apresenta diálogos que podem facilmente ser interpretados como um convite à mobilização do público — ferramenta que, apesar de buscar estabelecer uma conexão mais íntima com o espectador, de tão randomicamente utilizada, acaba gerando o efeito contrário em muitas sequências.

Não obstante, o mérito do filme mora nas reflexões sobre a lógica capitalista, e sua essência é o jovem espírito de rebeldia. Quando aposta nisso, acerta em cheio. Entretanto, o longa gasta tanto tempo focando nas discussões erradas e tentando facilitar sua compreensão para o espectador que, nos momentos de real impacto, os debates soam superficiais. Assim, na desesperada tentativa de ser o que não é, The Edukators se perde em sua própria proposta. 

Em determinado momento, Jan argumenta sobre coisas que deveriam ser subversivas, mas acabam sendo envelopadas como apenas objetos consumíveis e perdem boa parte do seu significado. Ele cita como exemplo camisetas do Che Guevara e adesivos anarquistas — eu acrescentaria mais um: o próprio filme.

Nota: 6,0
Mateus de Pina Nascimento,
Engenharia Mecatrônica, 2º ano.


Trabalhar com as complexidades da juventude, da rebeldia, da construção de sistemas sociais e afins nem sempre é uma missão fácil. The Edukators, embora tenha um ponto de vista altamente assertivo quanto ao melhor cenário para introduzir discussões ao mesmo tempo em que entrega um enredo envolvente, acaba tropeçando em suas próprias pretensões. 

Os diálogos, por vezes, podem ser demasiadamente expositivos, subestimando a capacidade de interpretação do espectador, como quando Jan diz que todos nós participamos do jogo inconscientemente. Essencialmente, essa ideia permeia cada momento da trama. Quando é dito, a magia da mensagem se perde. 

Os jogos de câmera que buscam a imersão e o realismo não funcionam tão bem. Os personagens nem sempre tem o carisma necessário para prender a atenção. Apesar do orçamento limitado, muitos deslizes técnicos são, no fim, escolhas. 

Nada disso tira o mérito da ousadia da direção, da excelente escolha de elenco e da temática cujo diálogo é cada vez mais relevante para a sociedade. É um filme que vale a pena ser visto, mas que nem todos vão gostar. 

Nota: 4
Yasmin Ramos de Azevedo,
Engenharia Civil, 1º ano

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