Por Pedro de Andrade Franco — Engenharia Civil, 1° ano.
O ensino deve inspirar os estudantes a descobrir por si mesmos, a questionar quando não concordarem, a procurar alternativas se acham que existem outras melhores, a revisar as grandes conquistas do passado e aprender porque algo lhes interessa.
(Noam Chomsky)
Após dois anos sem participar de uma eleição, em decorrência da pandemia de covid-19, pudemos, enfim, exercer nosso direito de escolher a chapa que representará o Diretório Central dos Estudantes Livre Alexandre Vannucchi Leme (DCE) durante um ano. Mesmo que não estivesse ciente do pleito, você provavelmente foi abordado para conversar sobre pautas e reivindicações do movimento estudantil. Ao todo, eram nove grupos na disputa do maior diretório de estudantes do Brasil, dentre os quais, destacaram-se em presença o coletivo “Nossa Voz”, que buscava reeleição, e o movimento de oposição “É tudo pra ontem”. Depois da apuração de quase dez mil votos, foi anunciado o resultado: com aproximadamente 62% deles, a chapa que dirigirá o DCE e representará os alunos da USP será “É tudo pra ontem”.
Todavia, podemos questionar: muito além do DCE, quais entidades representam os estudantes da USP? Em especial, na Escola Politécnica, quais grupos cumprem essa função? E no âmbito nacional? Há uma organização nesse sentido? Por fim, mas não menos importante: o que une tais grupos? Para refletir sobre todos esses questionamentos, vamos por partes. Partiremos do microcosmo dos centros acadêmicos (CAs), passando pelo Grêmio; em seguida, pelo próprio DCE, até chegar no macrocosmo nacional, personificado na figura da União Nacional dos Estudantes (UNE). De antemão, porém, adianto que nenhuma entidade é melhor do que a outra, diferenciando entre si apenas a esfera de atuação. Vale dizer, ainda, que as rixas criadas, seja entre CAs e Grêmio, seja entre Grêmio e DCE são fúteis diante daquilo que junta todos eles.
Iniciemos, pois, pelos centros acadêmicos. Mesmo que relativamente pequenos, são de grande importância para a comunidade discente, uma vez que são a associação que mais facilmente atinge cada aluno de um determinado curso. Não obstante, cada engenharia da Poli possui seu próprio “centrinho” (como são carinhosamente apelidados). Nesse mesmo sentido, as funções deles giram em torno do curso a que estão atrelados. Por exemplo, o Centro de Engenharia Civil Prof. Milton Vargas (CEC) atua diretamente na resolução de problemas das disciplinas de Engenharia Civil, como o próprio nome sugere. Os problemas podem ser de âmbito curricular, docente, ou mesmo administrativo — não importa: quaisquer percalços relacionados ao seu curso, você pode acionar seu CA para solucioná-los! Em síntese, a rede de representação estudantil se fundamenta e se mantém coesa por meio dessas entidades.
Partindo, agora, para uma organização cuja imagem é muitas vezes confundida com a da própria representação estudantil: o Grêmio. Tal confusão é, em partes, causada pela relevância dessa instituição no cenário acadêmico, pois um grêmio estudantil é a máxima organização de alunos perante uma diretoria. No caso da Escola Politécnica, portanto, é o Grêmio Politécnico a entidade que dá voz a todos os alunos que aqui estudam. Dividido em diversas diretorias, sua abrangência vai desde os alunos do ciclo básico até os estudantes de pós-graduação. Além disso, o Grêmio (que organiza, por exemplo, eventos, palestras, aulões e até este jornal!); está mais diretamente associado aos coletivos identitários e possui maior contato com as diretorias, coordenações e secretarias da Poli. É interessante dizer que sua história confunde-se com a da própria Poli e, curiosamente, é uma instituição mais antiga do que a USP! Por fim, vale dizer que, dada essa dimensão e tradição de luta pelos estudantes politécnicos, nunca deixe de acionar tal entidade, quando sua pauta necessitar de grande relevância institucional.
Saindo da dimensão da Escola Politécnica e partindo para um panorama maior, falemos sobre o Diretório Central, a maior representação dos estudantes da Universidade de São Paulo. E isso vale para todos os campi da USP: de Bauru a Lorena, de Ribeirão Preto a Santos! Suas pautas referem-se às problemáticas gerais vividas pelos alunos da USP. Para exemplificar, no campus de São Paulo, foi de responsabilidade do Diretório Central mobilizar a comunidade universitária contra as filas descomunais dos Restaurantes Universitários, contra a precarização do CRUSP e contra a superlotação dos ônibus circulares. Esses exemplos são apenas da Cidade Universitária, mas podem ser estendidos, levando-se em conta a atuação do Diretório em outros prédios e áreas da Universidade, por intermédio dos grêmios e CAs ligados a ele nas respectivas faculdades.
Antes de prosseguir para os parágrafos finais, cabe, aqui, um indispensável adendo: as entidades estudantis citadas acima possuem, cada uma em sua esfera de atuação, uma Comissão Contra a Opressão (CCO). Atitudes machistas, racistas, homofóbicas, entre tantas outras preconceituosas ainda estão presentes no ambiente universitário. Por isso, seja na Poli, seja em qualquer parte da USP, procure a CCO mais pertinente para dada situação e denuncie qualquer forma de opressão! Não se cale! Lutemos juntos por uma USP mais respeitosa!
Findado o adendo, tratemos, por último, da UNE. Se você já se atentou para um Cartão de Bilhete Único, possivelmente essa sigla não te seja estranha. Esse é o maior coletivo do Brasil, no que tange o movimento estudantil universitário. A UNE nasceu com o objetivo de promover uma educação democrática e de qualidade nas universidades, mas ampliou suas fronteiras, atuando politicamente em várias circunstâncias. Algumas passagens memoráveis nesse sentido são a luta contra a Ditadura Civil-Militar e os movimentos “Diretas Já!” e “Fora Collor”. Esses e outros fatos renderam à União diversas polêmicas e controvérsias, as quais, de forma alguma, anulam a importância dessa unidade na luta por uma boa educação e na conscientização política dos alunos de graduação.
Terminada a abordagem informativa, resta uma pergunta a ser respondida: o que unifica todas as entidades? Não coincidentemente, a resposta está relacionada à política. A resposta é resistência! Afinal, em um país, no qual estudantes são chamados de vagabundos, estudar é um ato de resistência. Em um país no qual mentiras e achismos são mais valorizados do que o conhecimento, estudar é um ato de resistência. Então, sejamos resistentes da melhor forma possível: obtendo conhecimento. Não somos o futuro da nação, somos o presente, por isso devemos lutar desde já! Unamos as forças de todas as entidades de representação estudantil, a fim de transformar Brasil afora em um lugar melhor e mais justo para todos!
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