O Politécnico viu: La La Land

Emma Stone e Ryan Gosling, respectivamente, em cena de La La Land. (Reprodução: Paris Filmes)

Mia (Emma Stone) sonha em ser uma atriz reconhecida, enquanto Sebastian (Ryan Gosling) é um pianista que deseja ter sua própria casa de jazz. Eles se apaixonam enquanto lutam pelos seus sonhos na competitiva Los Angeles, e seu amor é testado a sobreviver às mudanças das estações.

Dirigido e roteirizado por Damien Chazelle, La La Land (2016) recebeu 14 indicações no Oscar, tendo vencido seis, incluindo direção, atriz (Stone), canção original (City of Stars), trilha sonora, design de produção e fotografia. Aliás, se considerar a gafe cometida no anúncio de melhor filme, talvez dê para considerar que o filme venceu seis estatuetas e meia. Uma curiosidade é que La La Land recebeu 14 indicações em apenas 13 categorias — isso porque venceu de si mesma em canção original, que contava também com a indicação de Audition (The Fools Who Dream).


Por Mateus de Pina Nascimento (Engenharia Mecatrônica, 2° ano)

A cartilha do crítico tem como pressuposto básico que a análise precisa, necessariamente, ser objetiva, isenta de “achismos” e de verbos em primeira pessoa. Não tenho a menor pretensão de me dizer crítico; portanto, conceder-me-ei a liberdade criativa de rasgá-la por alguns instantes — me darei, também, o direito de abandonar as mesóclises. La La Land me fez enxergar o cinema com um novo e apaixonado olhar e promoveu uma conexão extremamente profunda e íntima comigo, tendo sido uma obra fundamental durante boa parte da minha vida.

Entretanto, esse é um filme muito criticado com base em pressupostos — seu próprio nome já é capaz de afastar aqueles espectadores que se levam a sério demais. Dentre os pontos que costumam ser levantados para diminuir sua qualidade, há apenas um que eu considero de fato relevante (e, aqui, deixo claro que escrevo antes de ler os comentários de meus colegas, e, portanto, esta não é uma tentativa de diminuir seus argumentos): o confronto moralista entre arte e mercado é construído com uma profundidade por vezes pueril — inclusive, com um aspecto pouco sensível em relação à abordagem da negritude, tão importante para a formação do jazz. Esse não necessariamente é um problema no microcosmo do longa, mas de fato é uma questão que poderia ter sido abordada de outra maneira.

Contudo, para além desse ponto, La La Land presta uma homenagem competentíssima aos musicais clássicos, sem se afastar do espectador casual, promovendo uma encantadora ode à história do cinema. O filme brinca com clichês do gênero, subvertendo as expectativas do público e entregando um epílogo absolutamente comovente e agridoce. Em suma, La La Land é uma obra completa: um espetáculo visual, com ritmo impecável, diálogos autênticos, mensagem clara, personagens cativantes e narrativa primorosa. É uma experiência inesquecível.

Nota: 10


Por Murilo Ferreira Noronha (Engenharia de Produção, 2° ano)

Musical sempre foi um gênero que pouco me chamou atenção. Imersão em filmes como High School Musical (uma das melhores franquias ruins já feitas) não é fácil. Se imaginar em um mundo em que um alienígena caucasiano sabe voar e coincidentemente usa as cores da bandeira estadunidense no uniforme do seu planeta natal é mais fácil do que acreditar em uma realidade na qual a qualquer momento uma discussão vira uma música com coreografia espontaneamente sincronizada entre todos os personagens. Qual a solução para essa dificuldade? Enxergar que o longa não precisa se levar a sério ou fazer tanto sentido. Entra então outro desafio na apreciação de grande parte dessas obras: vencer o tédio. Aguentar longas cenas de cantoria estranha (como a traumática repetição de “gotta dance” em um trecho de Singing in the Rain) pode ser um verdadeiro enfado, distanciando o espectador do interesse de gastar seu valioso tempo (portanto seu dinheiro) para assistir a um formato tão antigo e ao mesmo tempo complicado de realizar bem.

No entanto, La La Land quebra toda essa expectativa ruim que o gênero carrega. A primeira cena, um espetáculo absurdo em meio a um trânsito, já me encantou, preparando para o que viria de melhor no filme. O longa estrelado pelo maravilhoso Ryan Gosling e pela belíssima Emma Stone é cativante em diferentes meios. Sua trilha sonora envolve, aquece o coração e traz leveza. Os visuais dos personagens traduzem sua personalidade e seu estado de espírito. O cenário, alegre quando convém, melancólico quando precisa, é certeiro com cada estação do ano que acompanha o enredo. Aproveitando a última palavra, a trama é bonita, não muito complicada, e mistura três coisas necessárias para um entretenimento após um dia exaustivo: simplicidade, romance e reflexão.

O filme peca ao não enxergar questões sociais que poderiam estar presentes, mas isso é algo percebido pelos olhos mais atentos, não por estes que vos escrevem. La La Land é um musical que abriu minha vista até então restrita aos filmes deste gênero, pois acerta em tudo que apresentei antes do último parágrafo: te tira da seriedade, imerge em um mundo real e ao mesmo tempo fantástico, diverte e cativa sem perder o ritmo, te apaixona e também preocupa com leveza. Dedico uma nota alta e merecidíssima a um dos meus (poucos) musicais favoritos.

Nota: 9,5


Por Laura Carmieletto Saran (Engenharia de Química, 1° ano)

La La Land provoca fascínio por sua vulnerabilidade. Não raro vê-se críticas duras a ele, seja por sua aclamação efusiva, seu caráter musical ou sua moral, nada categórica. Aqueles que falharam em se afeitar ao filme viram no reconhecimento das premiações um mero narcisismo saudosista, atando-o às correntes então inelutáveis ditadas pelos filmes de super-heróis e suas referências nominais tão constantes quanto superficiais. Não encontraram justificativa satisfatória na narrativa para a vinheta da Technicolor, do princípio, ou a recorrência do Griffith Park. Pois bem, não descarto a possibilidade de que essas próprias análises frívolas alimentaram em mim um amor pelo filme que foi inicialmente suprimido – afinal, se à primeira impressão La La Land não me cativou (muito pelo contrário, hei de confessar), foi pronta em minha revisita a retratação desse desgosto.

O principal motor do meu gostar foi a identificação romântica com o lamento de Sebastian. Não que tenha qualquer apreço pelo jazz! Não, como já indiquei, minha preocupação era o futuro do próprio cinema. 2017 marcou o começo de um panorama em Hollywood em que, mais que nunca, o blockbuster era rei absoluto. Configurava-se um problema em si, uma vez que a cultura do easter egg ameaçava substituir a metáfora mesmo entre a crítica mais culta, mas a questão não se continha no impacto direto desses Golias; tratando-se de uma indústria com recursos finitos, é inescapável que o que há exista apenas às custas do que deixou de haver. Simplificando: aqueles rios de CGI relegavam à aridez os filmes menores, de orçamento pequeno ou médio, aqueles que agregariam algo à sétima arte. Palavras de uma garota muito pedante no auge de seus 14 anos, é claro! Meu erro primordial foi esperar que o desenvolvimento do cinema viesse como dádiva dos Estados Unidos (!!!) e da indústria cultural capitalista. Mas enfim, divago. Voltemos ao produto cultural em questão.

Se meu primeiro movimento em direção aos braços de La La Land foi essa manifestação egomaníaca de que definhava o cinema e era eu quem saberia salvá-lo, aos poucos as virtudes do filme, uma vez ceifado meu cinismo, tornaram-se mais palatáveis. Por que o medo de dizer que as músicas são, sim, ótimas? Que as personagens são bem interpretadas tanto por charme quanto por drama, que essa forma exuberante é moldada com maestria? Muitos o haviam feito antes de mim, de qualquer maneira. 

Libertei-me então para amar verdadeiramente todo o melodrama – este que nesse caso não barateia a história – e atento-me a alguns detalhes. Cito-os brevemente aqui para que não passem desapercebidos: a tensão entre o (supostamente) predestinado – o encontro entre o casal que insiste em se repetir até que resulte em simpatia – e aquilo que é elaborado a duras penas, incansavelmente forçado até que as próprias personagens estejam satisfeitas com seus feitos; os inúmeros finais que se anunciam e que precisamente não se concretizam porque restam sonhos a realizar (nos clássicos que o longa homenageia não haveria nada mais natural do que um redondo The End enquanto o carro da dupla desaparece no horizonte, e não é esse sequer o único exemplo que poderia oferecer!); e o óbvio, o epílogo, tão denso e sensível que faria por merecer toda uma dissertação, mas há de se contentar com os parágrafos seguintes.

O alicerce filosófico da obra constrói-se sobre o conteúdo do epílogo, que encerra toda essa potência invejável sob concisas manifestações idílicas (vale destacar que a modéstia formal, para além da consonância com a temática hollywoodiana, também é muito coerente com o caráter embrionário de possibilidades que não foram gestadas). O desfecho ressuscita toda uma vida latente que, em nome da sensatez, não foi sequer considerada. Afirmo sem receio que a reflexão em torno dessa potencialidade desperdiçada é o maior predicado de La La Land, e ainda que ela comove particularmente quem a assenta junto à experiência (Erfahrung) benjaminiana.

O conceito de experiência tradicional é mais facilmente transmitido, como julgou o próprio Benjamin, através de uma narrativa. O filósofo elegeu uma fábula de Esopo, mas La La Land não seria em nada inadequado para essa definição. Naquela, o vinhateiro parte de sua vivência para instruir os filhos quanto a um modo recomendável de viver, ato no qual a vivência se transforma em experiência, ou seja, é sintetizada e cindida das experiências individuais da personagem. Crucialmente, não se prega conhecimento objetivo, mas semeia-se uma reflexão que acaba por levar os filhos às conclusões do pai apenas por indicar-lhes o ponto de partida da trilha que ele percorreu. Destaco que isso é central pois a experiência jamais pode ser universal, especialmente no mundo contemporâneo. Retornando ao filme e esclarecendo: a esmagadora maioria dos que buscam o estrelato ou um amor verdadeiro (ou ambos) falham espetacularmente, e à nossa volta a experiência compartilhada é de que esses sonhos não são plausíveis. É claro que são invariavelmente improváveis, mas (e eis a essência de meu argumento) não são impossíveis. Os acontecimentos concretos do filme já oferecem ao espectador uma experiência alternativa à mais disseminada, mas esse movimento é amplificado pelo epílogo, e por trabalharem tanto o real quanto a possibilidade na mesma direção é também que os sentimentos promovidos são tão conflitantes, há um triunfo parcial que só desbota face àquela perfeição. 

Para além do epílogo, a relação de Mia com sua tia, também atriz, pode oferecer outras ponderações nesse âmbito, e lamento não poder explorá-la sob risco de matar de tédio o leitor. Abstenho-me, igualmente, de traçar paralelos com a sina tecnocrata a que me acorrentei em acordo com a experiência tradicional, sob o risco mais alarmante ainda de dar voz à sediciosa porção do meu ser que rejeita a tal engenharia.

And someday as I sing my song
A small-town kid’ll come along
That’ll be the thing to push him on and go, go

Nota: 10


Por Henrique Gregory Gimenez (Engenharia de Computação, 1° ano)

Nunca consegui aceitar o fato de que em filmes musicais as personagens estão conversando naturalmente e, por uma intervenção externa, começam a cantar e a dançar, de modo a se exibirem para as câmeras. Ainda que La la Land possua diversos desses momentos que me desagradam profundamente, a discussão filosófica levantada por Damien Chazelle é altamente complexa e profunda e dialoga diretamente com elementos intrínsecos à essência do homem.

Chazelle divide o filme em cinco capítulos, nomeados pelas estações do ano, com um simbolismo bem curioso: Inverno (solidão, melancolia, sentimento de vazio), Primavera (alvorecer do amor), Verão (delírios das paixões, sensação de completude), Outono (conflito e tragédia) e, novamente, Inverno (retorno do vazio). Há um toque de onirismo muito bem utilizado que dificulta a compreensão integral da realidade — resultado da flecha das paixões que atinge os protagonistas.

A belíssima fotografia em película que transita entre tonalidades de azul transmite um eterno sentimento de melancolia, por mais que a ação seja a mais feliz possível. Muito é dito ao longo da exibição sem que haja necessariamente falas, sejam pelo design de produção ou pela fotografia — totalmente baseadas no uso metafórico das cores. Observe como a cor da roupa de determinada personagem diz muito sobre o que se está passando em sua mente, ou, até mesmo, quando há um único foco de luz em alguém, a fim de representar o vazio sentido pela personagem.

Além disso, o filme transborda metalinguagem, uma vez que os protagonistas são verdadeiros amantes da arte — de modo que essa paixão chega a ser confundida pelo que sentem um pelo outro. É possível verificar que Mia e Sebastian simbolizam aspectos visuais e sonoros que compõem uma produção cinematográfica, respectivamente. Ambos são responsáveis por tecer os fios que movem a trama, realizando um lirismo extremamente intrigante e tão pouco visto nas telas do cinema. Essa camada é magistralmente consagrada no desfecho do filme, que de maneira bem peculiar faz uma leve quebra da quarta parede.

Há, no entanto, um abuso de situações clichês que desenrolam a trama, principalmente, no terço inicial. Todavia, acredito que essa percepção decorre do eixo temático da película: a busca por preencher o imenso vazio que Mia e Sebastian transbordam por meio do amor. Seria contraditório considerar uma falha de roteiro, já que a natureza do amor consiste na sucessão de eventos clichês. Assim, a narrativa ganha potência por compreender desde o primeiro quadro o destino daquela relação. Há uma certa dubiedade de se eles realmente se amam ou se o amor que sentem é para si próprio, a fim de possuir uma pessoa para dividir as suas angústias e sua solitude. Por conseguinte, o preço da consciência é estar condenado a amar — seja o amor a si próprio ou à arte.

O capítulo final do filme é muito brilhante e conclui de maneira consistente todo o raciocínio desenvolvido por Chazelle até então. A mensagem deixada ao espectador definitivamente não é feliz e tampouco agrada a maior parte das pessoas. O destino é inexorável aos desejos do ser humano. Ainda que as maiores vontades individuais sejam satisfeitas, sempre haverá a sensação de insuficiência. O homem não ama os seus sonhos, mas sim ama o ato de sonhar. Logo, não é possível amar sem estar disposto a sofrer, o sofrimento é a síntese do amor.

Nota: 8,3


Por Luiz Antônio Melo (Engenharia Elétrica, 2° ano)

Musicais são feitos, principalmente, para emocionar. A combinação de música, com dança e imagens coloridas aos sonhos, conquistas, fracassos e frustrações do enredo, tornam La La Land uma das grandes estrelas do gênero, apesar de ser lançado em um momento no qual ele tem mais a relevância que um dia já teve. Damien Chazelle, trouxe os contrastes de Los Angeles, do fracasso risível ao sucesso estrondoso, mas também dos tons mais escuros, aos tons mais vibrantes, esses últimos sendo impecavelmente mais notados durante o Verão. Assim, a relação das estações do ano com o desenrolar da história é muito clara, especialmente quando mostra-se na tela a palavra Fall, que foi pensada para significar “Outono”, mas que, no inglês, também significa “queda” e bem representa o momento do relacionamento entre Mia e Sebastian. Nesse sentido, ficam aqui meus elogios para as transições das cenas de diálogo para as cenas de música, feitas com maestria, a impressionante e excelente trilha sonora assinada por Justin Hurwitz e a escolha precisa de elenco, com personagens principais profundos e que conseguiram extrair lados diferentes dos atores já conhecidos pelos fãs das telonas. Ao fim, a única crítica que eu tenho é sobre o encerramento da trama, que se perde um pouco em si mesmo e, apesar de ensinar que amar nem sempre significa estar junto da pessoa, é especialmente triste ao mostrar o que foi e o que poderia ter sido, com destaque para a última apresentação de City of Stars, e deixa o fim com um gosto amargo que não me agradou, apesar de cumprir perfeitamente o seu papel de terminar o filme instigando uma reflexão.

Nota: 9,7 


Por Bruno Pereira dos Santos (Engenharia Civil, 1º ano)

Com um início interessante e um final incrível, La La Land entrega um musical emocionante, construindo-se como uma trama de romance genérica e revirando o gênero do avesso na sua segunda metade. As músicas são maravilhosas, enfatizando o drama de cenas fundamentais do roteiro e acessando mais facilmente as nossas emoções. A ambientação, um tanto fantasiosa, reflete bem o perfil sonhador dos protagonistas, enquanto o realismo de certos momentos traz à tona a desilusão.

Essa história de “amor” é muito bem feita; no entanto, a mim pareceu se arrastar em sua metade, em um clima mais parado, sem grandes movimentos, antecedendo o turbilhão que viria a seguir. O filme torna-se constante e tedioso, vira o jazz “música de elevador”, ao invés de manter sua aspiração ao jazz emocionante que é enfatizado pelo protagonista Sebastian, interpretado por Ryan Gosling.

A trama é interessante e planejo rever para entender melhor o que deu ao filme a fama que possui, todavia, ainda não compreendo completamente. Ainda assim, merece uma segunda chance.

Nota: 8,3


Por Yasmin Ramos de Azevedo (Engenharia Civil, 1º ano)

Por vezes, no caos da vida, precisamos de um lembrete de que sonhar vale a pena. Para mim, nos dias mais desesperançosos, La La Land cumpre esse papel. 

Da primeira nota de Another Day of Sun até o sorriso agridoce que encerra a sequência, o filme é extremamente competente em tudo que se propõe. Visualmente, é um espetáculo. Aos amantes de musicais, uma homenagem. Musicalmente, se é que na posição de leiga posso afirmar, é impecável. A quem procura um bom enredo, é satisfatório. Para os apreciadores de histórias de amor, não vai faltar nada (a não ser, talvez, o final feliz). Enfim, um pacote completo de experiências que, em conjunto, são absurdamente emocionais. 

Aos críticos mais ferrenhos, quero deixar uma nota: sou capaz de compreender cada um de seus argumentos, mas já cheguei à conclusão que sou incapaz de desgostar do filme.

A quem nunca viu, certamente vale a experiência. Ou vai ser uma das obras mais bonitas que você já viu, ou uma ótima pauta para conversa de bar.

Nota: 9,5

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