Por Henrique Gregory Gimenez (Engenharia de Computação, 1° ano)
Um livro tem de ser o machado que rompe o oceano congelado que habita dentro de nós.
(Carta de Franz Kafka)
Após duas gélidas edições cibernéticas da tradicional Festa do Livro da USP, no ano de 2022, o evento é retomado de forma presencial, com mais de 190 editoras. Como de costume, a organização seguiu com a política de garantir no mínimo 50% de desconto em qualquer produto, ao passo que é natural andar pela feira e encontrar livros com porcentagem ainda maiores. Além disso, a entrada é aberta e gratuita tanto para estudantes quanto para visitantes.
Para além das aspirações materiais que um visitante comum possa ter, a 24ª Festa do Livro da USP é um suspiro cultural e democrático, dado o contexto sociopolítico do país. Não somente isso, mas também é a representação das paixões naturais de cada indivíduo pela arte. Para aqueles que compartilham da solidão e do vazio interno, para aqueles que não se contentam com o seu ínfimo conhecimento do mundo, para aqueles cujas paixões transbordam a alma, não é possível viver sem as artes literárias. Nada mais é necessário: basta um papel, uma caneta e palavras que é possível se conectar com as camadas mais profundas da essência humana. Assim sendo, a feira do livro transcende a materialidade, moldando instantes que reconectam o homem com o seu ente e com o verdadeiro amor: o amor pela arte. Esse amor é singularmente genuíno, pois não exige barganhas, de modo que, durante aqueles breves instantes de contato com a arte, o homem pode refletir sobre si e o mundo que o cerca.
Nesse sentido, não é possível descrever a experiência de visitar pela primeira vez, após o período de isolamento social, a Festa do Livro da USP sem ser comovido por paixões e subjetividade ao observar diferentes pessoas, com distintas idades, sonhos, ambições, cotidianos e locais de origem, serem impactadas pelo poder imagético das palavras. Cada um possui suas aspirações para com os livros. Seja por escapismo da vil realidade que os assola, seja pelos sentimentos mundanos, seja pela sede de saber, seja por qualquer motivo banal, a paixão pela arte produz um sentimento de fraternidade e pertencimento. Visitar a feira é realizar um exercício de empatia, a fim de tentar compreender minimamente qual é o sentido de viver.
Ademais, é inegável os impactos sociais que realizações como essa possuem, de forma a engajar politicamente e culturalmente aqueles que porventura não detêm acesso à informação. Logo, a Festa do Livro da USP não se resume apenas a um “saldão” de livros e tampouco a um local para reiterar o poder da elite intelectual, mas consiste na reafirmação dos exercícios democráticos e na reiteração do acesso à dignidade. Um curto momento em que cada indivíduo que participa pode ajudar, ainda que de maneira imperceptível, na construção de uma sociedade ligeiramente fraterna. Trata-se de uma experiência na qual, durante breves dias, as pessoas podem compartilhar sonhos, paixões, tristezas e pensamentos.
Por fim, a 24ª Festa do Livro da USP é uma carta de amor para todos que sonham acordados quando enxergam o universo sobre a ótica artística. É uma resposta para aqueles que negam o conhecimento e atentam contra a cultura.
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