Por Henrique Gregory Gimenez (Engenharia de Computação, 2º ano)
É de conhecimento de minha claque que os conflitos acerca da condição humana rondam a minha mente. Porém, amiúde há outras questões que assombram minha consciência, em especial, o papel da arte. Sob o risco de soar pedante e repetitivo, é inevitável dizer que as produções artísticas possuem como motor os conflitos do homem, em especial, o comodismo. Genuinamente, o leitor perguntar-se-á: “Ó, quem és tu para realizar tais críticas à arte?”. De imediato, irei responder: “Ninguém, nobilíssimo leitor! Apenas alguém indignado com a mediocridade da arte contemporânea”.
Também muito me incomoda a falta de concretude das análises culturais. Por que temos tanto medo de citar os nomes? Uma pergunta para uma discussão posterior. Divago. Como dito anteriormente, o comodismo impulsiona a arte. É bem verdade que sempre impulsionou, todavia, a industrialização dos bens culturais acentua esse cenário. Por exemplo, observe a avalanche de filmes e de séries de televisão que tentam revisitar e emular a estética oitentista, apelando para o efeito barato da nostalgia. Para que inovar, se é possível ganhar rios de dinheiro fabricando produtos artísticos baseados em fórmulas narrativas e visuais? Não obstante, afastar-me-ei dos defensores de Theodor Adorno e dos frankfurtianos, uma vez que muitos deles acreditam fortemente que a nociva cultura ocidental é o auge da civilização.
A minha revolta não é gratuita e é produto da supervalorização das premiações, principalmente, das norte-americanas — Oscar, Emmy, Grammy, Globo de Ouro, Critics’ Choice Awards e por aí vai. Há uma atmosfera de intelectualismo que rondam as obras nomeadas para tais eventos. Aqueles que as apreciam frequentemente se sentem dotados de uma intelectualidade sobrenatural. O estopim para a escrita desse texto foi a divulgação da lista de indicados ao Oscar. Saltam aos olhos a quantidade absurda de indicações injustificadas para Everything Everywhere All at Once (2022) e The Fabelmans (2022). Sobre o primeiro, é semelhante aos tão rechaçados filmes da Marvel Comics, apenas diferenciando-se por não possuir o logotipo da mesma e, portanto, alça o estrelato. Já o segundo, apenas por possuir a assinatura do queridinho da Academia, Steven Spielberg, obtém seu espaço na premiação; a qualidade sequer é questionada. Ainda sobre essa película, estou farto de cartas de amor à arte! E é aqui que teço a minha tese.
Acostumamos-nos a não sermos incomodados pela arte, pelo contrário, ela ganhou a fama de ser a zona de paz do homem — o maior exemplo é o superestimado La La Land (2016). Aproveito para a retificar a minha crítica realizada na 3ª edição d’O Politécnico: La La Land é um filme ruim e repleto de clichês, é um filme cômodo (ou comfort movie) em todos os sentidos, estética e narrativamente, é antagônico à todas as minhas ideias. O que faz esse e muitos outros filmes, por exemplo, os de Quentin Tarantino, serem considerados bons são as premiações e a sua consequente alçada intelectual. Também lanço aqui a minha cruzada pessoal aos idólatras. Não, caro leitor, o seu filminho de super-herói ou a sua animação japonesa preferida não são altamente revolucionários e geniais, tampouco dignos de todos os louros possíveis.
Cartas de amor, tal qual The Fabelmans (2022), em nada agregam à cultura, longe disso, auxiliam a manutenção da mediocridade do homem moderno. Qual a dificuldade em provocar o espectador? Tudo no cinema, na arte, na literatura e na música estadunidense deve soar lindo, fantástico, romântico, esplendoroso e perfeito. A arte não deve ser apaixonante e espetacular, ela tem que ser uma pedra no sapato de seu apreciador, ou um soco em seu estômago. Empurre-o, critique-o, jogue-o na lama, se for preciso. Ela deve ofender todos os preconceituosos e intolerantes, deve romper com os extremos. Enfim, talvez eu esteja contestando a própria natureza, a inércia é uma das leis da física, ora! Nesse sentido, é claro, uma arte contestativa gera repulsa. Ninguém gosta de ser incomodado e tampouco ter os seus ideais e a sua moralidade questionados. Contudo, é importante apontar a atribuição negativa à palavra “repulsa”. Por vezes, a arte deve parecer crua, mas que assim seja! Somos frios e indiferentes com os nossos pares rotineiramente, então por que ficar ofendido com aquilo que retrata a ti mesmo?
Desconstruir a arte moderna se faz necessário. Talvez este seja o ponto, igual um pensador alemão fez certa vez com a filosofia, é preciso fazer arte com o martelo. Parti-la em pedaços e por meio desses pedaços ela poderá renascer. Desse modo, ela irá ressurgir como uma nova arte, a arte do incômodo. Uma arte que não tem medo do confronto e do diálogo, uma arte não conformista, uma arte questionadora, uma arte com caráter, em suma, uma arte mais forte. Quiçá, assim, o homem contemporâneo poderá sair da mediocridade.
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