Por Samuel Mioto Visotto — Engenharia Elétrica, 2º ano.
Não se preocupe, Politécnico desamparado, esse não será um texto meloso fazendo uma ode ao amor. Não nessa data tão preocupante para nós solteiros, muito pelo contrário! É hoje que compreenderemos por fim essa questão, iremos encontrar a fórmula do amor de uma vez por todas!
Antes de qualquer coisa, vamos abrir mão de toda essa ladainha metafórica que normalmente é atribuída ao amor, aqui o definiremos de forma operacional: é a disposição comportamental para uma preferência direcionada a um objeto afetivo (ou também uma vontade de ficar próximo a alguém). Assim, nossa função deverá nos devolver 1 se for amor e 0 se não for. Definido o contradomínio, vamos às variáveis.
Para isso, é importante prevermos com qual conjunto estamos trabalhando. Por mais que os resultados sejam apenas 1 ou 0, as variáveis podem ser um pouco mais complexas. Primeiro os Naturais, visto que todos queremos um amor que aconteça naturalmente, então esse entra. Depois os Inteiros, e como não rola amar por partes, pela metade, esse entra também. Racionais? É exatamente o que estamos tentando ser aqui, coloca junto. Agora os Irracionais? Ah não, esse não, esse não tem espaço aqui.
Maravilha, só falta então definirmos nossas variáveis e depois é só arranjá-las da forma certa. A fim de diferenciarmos o amor de paixão e desejo, adicionaremos a variável “t” de tempo. Após isso, como não pode faltar, teremos o X e o Y, o nosso afeto em relação ao objeto e vice versa, respectivamente. Por fim, uma variável Z que seja a correlação entre os afetos, a fagulha, a química que tanto se fala.
Então já temos uma ideia da nossa f(x, y, z, t), mas tem cara de que vai dar trabalho; o gráfico disso daria cinco dimensões, então não vai dar nem pra desenhar. Vamos tentar derivar então, aprendemos em cálculo 1 que isso nos ajuda a ter uma ideia da função. A derivada parcial em t vai ser tranquilo, a passagem do tempo é constante, agora em X e Y… acho que não vai rolar, os afetos estão longe de serem contínuos e não se comportam bem, são sempre inconstantes. Uma hora gosto, outra odeio, sinto que amo, depois acho que nem tanto assim, uma bagunça. Já em Z como seria? Pensando bem, existem tantas outras variáveis que podem interferir em Z, na “química”, e a beleza? E as fantasias de cada um? A disponibilidade? Não consigo nem definir um intervalo par Z, quantificar ele, quem dirá derivar.
Coloquei na calculadora, no Geogebra e no Wolframalpha algumas teorias: somar os afetos, multiplicar pelo tempo e depois dividir por Z, mas nada deu resultado. O tempo de processamento do Wolframalpha excedeu, o Geogebra deu pau e a calculadora desligou sozinha. Acho que somos obrigados a buscar algum erro na nossa teoria, certamente só pode ser na variável Z, mas o quê?
Pensando bem, faltou um conjunto para analisarmos, o dos Reais. Todos queremos um amor real, não? Mas para ser Real precisa conter os Irracionais também… como isso pode ser possível? Se Z for Irracional, vai tudo por água abaixo. Desculpe te iludir Politécnico, parece que não conseguimos, afinal, estabelecer a derradeira fórmula do amor. E também parece que esse vai ser um texto meloso de ode ao amor, foi mal aí.
Mas nem tudo foi em vão, pelas nossas pesquisas foi possível concluir duas coisas. A primeira é que se não é possível racionalizá-lo, não há por que pensar tanto sobre isso, o único jeito é nos entregar a ele sempre que tivermos a chance. Amar sem medo, pois se não amarmos por receio de sofrer, acabaremos sofrendo pela falta de amor. E por último, como não podia faltar mais incongruência nos resultados, notou-se um fenômeno inesperado: a fórmula do amor só é multiplicada quando dividida.
Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente.
(Clarice Lispector)
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