30 anos sem Ayrton Senna

Ayrton Senna "do Brasil" (Reprodução: ESPN)

Por Jobel Junior (Engenharia Elétrica, 3º ano)

No dia 01 de maio deste ano fez 30 anos da morte de um dos maiores heróis do Brasil: Ayrton Senna da Silva, piloto de Fórmula 1, empresário e filantropo. Ele marcou os anos de 1984 a 1994, pilotando os carros mais rápidos do mundo na famosa Fórmula 1, nessa época o Brasil inteiro parava para assistir as corridas, não tinham carros na rua, transportes públicos vazios, mas casas, bares e restaurantes cheios com a TV ligada para ver a bandeira balançando, o Galvão Bueno gritando “Ayrrrton Senna é do Brasiiilll” e sentir o orgulho de ser brasileiro aos finais de semana enquanto durante a semana era a vida do brasileiro médio. Mas hoje temos muitos Politécnicos com menos de 30 anos, nunca viram o Senna na TV, nem acompanham a Fórmula 1, então para contextualizar um pouco mais para vocês saberem:

Ayrton Senna, o “Rei de Mônaco”, o “GOAT” (Greatest Of All Time/Melhor de todos os tempos), o “Rei da Chuva” e 3 vezes campeão mundial entre outros títulos e apelidos que Senna ganhou ao longo de sua carreira, seu período mais famoso é durante, claro, a Fórmula 1 chamada de “o pináculo dos esportes a motor”, com seus Grandes Prêmios ou GP, e o mais avançado da engenharia automobilística sendo testado nos seus carros, e posteriormente aplicado nos carros de rua (hoje o carro de rua mais barato do mercado é muito mais desenvolvido que os carros de Fórmula 1 há 30 anos atrás). Os melhores engenheiros do mundo, produzindo os melhores carros do mundo e sendo pilotados pelos melhores pilotos do mundo, e no 1° lugar do pódio um macacão vermelho e um capacete verde amarelo: o brasileiro Ayrton Senna.

Largada / 1° Marcha

Filho do empresário Milton Guirado Theodoro Da Silva e de Neyde Joanna Senna Da Silva, Ayrton Senna nasceu em 21 de março de 1960. Ayrton desde pequeno gostou de carros, andava de kart sempre que podia, assistia o anime “Speed Racer” na TV e tudo mais que era possível de consumir sobre carros. 

Aos trezes anos, em 1973,  competiu pela primeira vez em uma prova oficial de kart, no Kartódromo de Interlagos, hoje conhecido como Kartódromo Municipal Ayrton Senna, e, adivinhe só, Senna ganhou a corrida. Em 1977 ganhou o seu primeiro “Campeonato Sul-Americano de Kart”, ganhou 3 vezes o campeonato brasileiro, duas vezes o campeonato paulista e foi duas vezes vice-campeão mundial, mostrando que o Senninha nasceu para correr. Foi durante sua carreira no kart que Senna desenvolveu uma das suas mais famosas habilidades, após perder uma corrida por conta de ter chovido. Movido pela frustração toda vez que as primeiras gotas começavam a cair na Cidade da Garoa, Senna ia para Interlagos e corria e corria para ser o melhor corredor na chuva. Mais tarde na sua vida ganharia o apelido de “Rei da Chuva” pois todo mundo sabia, se pista começar a molhar Senna vai ganhar.

Senna pilotando um kart (Reprodução: Placar)

2° Marcha

Depois dessa trajetória no kart Senna atraiu a atenção de várias equipes na Fórmula 1, em 1984 fechou contrato com a equipe Toleman, marcando um ponto do segundo GP do ano na África do Sul. Uma semana antes do GP de Mônaco de 1984, ocorreu uma corrida especial chamada de “Corrida dos Campeões de Nurburgring”, com vários ex-campeões correndo com o mesmo carro, para não terem a desculpa de “ganhou porque o carro era melhor”, e entre os melhores pilotos da história Senna conseguiu o humilde 1° lugar, logo a frente de Niki Lauda, um dos melhores da história e 3 vezes campeão mundial. 

No GP de Mônaco daquele ano, seu desempenho chamou a atenção de todas as equipes. Ele se classificou em 13º no grid de largada e avançou rapidamente pelas estreitas ruas de Monte Carlo. Na volta 19, ultrapassou Niki Lauda, que estava em segundo lugar, e começou a desafiar o líder Alain Prost, lutando pelo primeiro lugar durante várias voltas com seu limitado Toleman. Não ganhou por uma regra do regulamento que, por estar com uma chuva muito forte, a corrida foi encerrada na volta 31 quando Prost ainda estava na frente. Ainda em 84 Senna ainda ganharia 2 pódios, terceiro lugar no GP da Grã-Bretanha e no GP de Portugal.

Era Lotus / 3° Marcha

De 1985 a 1987 Senna correu com sua famosa Lotus preta, com a qual na sua segunda corrida ganhou sua primeira vitória na Fórmula 1 no GP de Portugal, na frente de Prost, em uma corrida sob forte chuva, onde, claro, era o reinado do “Rei da Chuva”. No GP da Bélgica conseguiu sua segunda vitória também sob chuva.

Em 1986 sabendo que sua Lotus era inferior aos carros de outras equipes, Senna adotou uma estratégia arriscada, não trocar de pneus durante as corridas, tentando aproveitar qualquer mínima vantagem. Com essa estratégia Senna começou a liderar o campeonato pela primeira vez, depois de vencer o GP da Espanha, por uma diferença de 0,014s, uma das menores da história da Fórmula 1.

Em 1987, com um novo patrocinador e o novo motor Honda, Senna ganhou dois GPs seguidos, o GP de Mônaco e o dos EUA e liderou o campeonato, mas infelizmente não ganhou. Esse ano foi o último ano de Senna na Lotus, porém o contato com a Honda criaria uma das maiores amizades entre empresa e piloto. De curiosidade foi através dessa amizade que mais tarde Senna seria essencial para o desenvolvimento do Honda NSX conhecido como a “Ferrari Japonesa”. Essa amizade iria crescer ainda mais quando Honda e Senna se juntassem à McLaren.

A Lotus 97T da primeira vitória de Senna na F1 (Reprodução: GE)

Era McLaren / 4° Marcha

De 1988 a 1993 temos a mais famosa das eras do Senna, no imaginário além do macacão vermelho e capacete verde amarelo, todos se lembram da famosa McLaren MP4/5 de seu primeiro título em 1989, branca e vermelha patrocinada pela marca de cigarros Marlboro. Em 1988 equipados com motores V6 Turbo Honda, Ayrton Senna e Alain Prost dominariam o campeonato, nesse ano no GP de Mônaco,  durante os treinos oficiais Senna superaria seu colega por 1,5 segundos de vantagem. Para aqueles que não entendem o quão isso é impressionante, na época os melhores pilotos conseguiam tirar uma vantagem de 0,8 segundos com muito esforço, Senna conseguiu tirar 1,5. 

No GP do Japão Senna tinha a oportunidade de fechar o ano vencendo o campeonato mundial pela primeira vez na sua vida, mas teve um problema na largada, caindo de 1° para 17°, mas Senna não iria perder seu título mundial. Após ultrapassagem e ultrapassagem, na 28° volta Senna voltou para 1° e venceu com uma margem de 13 segundos para o segundo colocado, seu parceiro Prost, conquistando seu 1° título mundial.

Em 1990 também do GP do Japão, agora Prost corria pela Ferrari e Senna ainda na McLaren, nessa última corrida do ano o segundo título de Senna já estava garantido, ele só precisava de uma coisa, ficar a frente de Prost, caso Prost ganhasse Senna perdia seu título, na largada Prost ultrapassa Senna, neste ano a Ferrari estava bem melhor que a McLaren, não tinha como Senna ultrapassar Prost com um carro pior, e Senna fez o que qualquer pessoa sã faria nessa situação onde está valendo tudo, Senna bateu de propósito, sim de propósito em Prost, destruindo os dois carros, e como Prost teve que abandonar a corrida Senna conquista seu segundo título mundial.

No ano de 1991, ocorreria o evento que marcaria a história de Senna e do Brasil para sempre, no GP do Brasil no famoso autódromo de Interlagos, essa corrida poderia ser a primeira vitória de Senna em casa, do lado de onde ele cresceu e aprendeu a correr. Enquanto liderava a corrida, um péssimo sinal: Senna perdeu a quarta marcha do câmbio, tendo que trocar da terceira direto para a quinta (vale lembrar que nessa época os carros de fórmula 1 tinham marcha manual, caso você não entenda o que vai acontecer a seguir pergunte para um amigo seu que já dirigiu um carro manual) após perder a quarta marcha Senna teve outro problema, nenhuma marcha funcionava a menos que Senna segurasse a alavanca para manter engatada, agora Senna teve que pilotar um carro de 725 cavalos com uma mão no volante e outra segurando nas marchas, depois perdeu todas as marchas menos a 6°, apenas última marcha, a cada volta o segundo colocado ficava mais e mais perto de Senna, parecia que tudo estava contra a vitória em casa, até que chegou um sinal literalmente dos céus: começou a chover. Senna conquista a tão sonhada vitória no Brasil, com chuva, o que ele mais gostava. Depois da corrida Senna estava exausto, precisou de ajuda para sair do carro, precisou de ajuda para levantar a taça da vitória, mas isso não importava Senna ganhou no Brasil, o Brasil comemorava com Senna, e ainda naquele ano Senna ganharia seu terceiro título mundial.

Em 1992 no GP da Bélgica o piloto Èrik Comas bateu contra o muro e desmaiou, ao ver a situação Senna parou no meio da pista e foi socorrer o francês, impedindo que houvesse um incêndio no carro, ainda hoje comparam essa cena com o acidente de 1990 com Prost, Senna em um caso não pensou duas vezes e colocou sua vida e a de Prost em risco para conseguir o título, mas na outra parou a corrida para socorrer um outro colega piloto.

Em 1993 Senna conquistou não um título mundial mas o título de “Rei de Mônaco”. Mônaco é um principado conhecido principalmente pela corrida de fórmula 1 que acontece anualmente, tido como uma das pistas mais importantes da Fórmula 1, até então o piloto britânico Graham Hill (1929 -1975) havia o recorde de 5 vitórias em Mônaco, em 1993 Senna conquista sua 6ª vitória em Mônaco, agora, embora seja um príncipe quem governe, o Rei de Mônaco agora é Senna.

GP do Brasil de 1991 (Reprodução: YouTube)

5° Marcha / O Fim

Senna desejava muito correr com a equipe Williams e seus motores Renault, em 1994 Senna fecha contrato com a equipe. A Williams até tinham trazido inovações incríveis para o esporte, como a suspensão ativa, e possuía o carro mais dominante da época, era o encontro do melhor carro e o melhor Piloto. 

Porém os organizadores da fórmula 1 baniram qualquer assistência eletrônica dos carros, a suspensão ativa, o controle de tração e os freios ABS, na tentativa de tornar as vitórias mérito do piloto sem ajuda de tecnologias, algo como “vencer no braço”. Isso acabou com o desempenho do carro da Williams. Senna reclamava que o carro era ruim, Senna mesmo com um carro ruim conseguia fazer desempenhos incríveis, mas não conseguia vencer.

Na terceira corrida de 1994, o GP de San Marino em Ímola, Senna entrou na curva Tamburello (a mesma em que bateu o brasileiro Nelson Piquet com a Williams em 1987) e perdeu o controle do carro devido a uma barra de direção quebrada, seguindo reto e chocando-se violentamente contra o muro de concreto. A telemetria mostrou que Senna, ao notar o descontrole do carro, ainda conseguiu, nessa fração de segundo, reduzir a velocidade de cerca de 300 km/h  para cerca de 200 km/h. Porém, após a equipe médica levar ele para o hospital Senna foi declarado morto às 13:40 do horário de Brasília no dia 01 de maio de 1994.

Esse GP da Bélgica não ficou marcado só pela morte de Senna, o brasileiro Rubens Barrichello também havia sofrido um acidente, o austríaco Roland Ratzenberger também faleceu, um acidente entre J.J. Lehto e Pedro Lamy fez arremessar dois pneus para a arquibancada, ferindo vários torcedores, o italiano Michele Alboreto, da Minardi, perdeu um pneu na saída dos boxes e se chocou contra os mecânicos da Ferrari, ferindo também um mecânico da Lotus. Durante um momento as comunicações na pista vieram a falhar e o francês Érik Comas saiu do pit stop e não sabia que a corrida havia sido interrompida, ou que Senna havia batido, Comas foi o último piloto que se aproximou da Williams de Senna, em uma entrevista para o UOL Esporte, Comas comenta que na mesma pista dois anos antes Senna foi o socorrer quando ele havia batido, mas em 1994 Comas não conseguiu ajudar seu amigo, e isso o remói até hoje.

O mundo inteiro sofreu com a morte de Senna, mas com certeza o Brasil foi quem mais sofreu. O governo brasileiro declarou três dias de luto oficial, concedeu a Senna honras de chefe de estado, com a característica salva de tiros, o corpo de Senna foi sepultado no Cemitério do Morumbi, no jazigo 11, quadra 15, setor 7, para quem quiser visitar.

O herói

Os que conheceram Senna em vida sempre dizem que ele era uma pessoa gentil, Senna diversas vezes fez atos de filantropia, doando milhares de dólares para instituições para crianças carentes, e ao mesmo tempo quando ficava atrás do volante era o piloto mais feroz da corrida. Em 1990 Senna ajudou na reforma do Autódromo de Interlagos com algumas ideias, os organizadores sugeriram uma curva ligando a reta dos boxes com a curva do sol, Senna propôs um “S” para ligar as duas partes, hoje essa curva é conhecida como o “S do Senna”.

Após a sua morte sua irmã Viviane Senna fundou o Instituto Ayrton Senna, uma ONG que oferece oportunidades de desenvolvimento humano a crianças e jovens de baixa renda, concretizando o sonho de Ayrton de ajudar o Brasil a diminuir as desigualdades sociais.

Esse ano marcando os 30 anos da morte de Senna houveram diversas homenagens no campeonato da fórmula 1, até a data da publicação deste texto: em Ímola, onde Senna morreu, Sebastian Vettel correu com a McLaren MP4 de Senna numa volta em homenagem ao piloto, no GP de Mônaco a equipe McLaren correu com uma pintura verde e amarela especial em homenagem a Senna, provavelmente ainda vão acontecer mais, então recomendo acompanhar esse esporte que, junto do futebol, está marcado no coração dos brasileiros.

Chegamos no final desse texto, que embora grande, ainda não foi possível cobrir toda a vida de Ayrton Senna, caso durante algum momento da sua leitura você chorou em cima desse jornal vá atrás do que foi possível falar sobre esse herói, existem documentários, artigos, filmes e notícias falando sobre esse que foi o maior piloto de fórmula 1 da história, o Rei da Chuva, Rei de Mônaco, o GOAT, e 3 vezes campeão mundial: o herói Ayrton Senna do Brasil.

Ayrton Senna, o GOAT (Reprodução: Terra)

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