Ainda bem

Reprodução: @crisvector

Por Beatriz Bicudo, (6º ano de Engenharia Elétrica)

Beauvoir já nos dizia: “basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos
das mulheres sejam questionados.” Ela também nos alertava para sermos sempre
vigilantes, já que nossos direitos enquanto mulheres nunca são garantidos.

Me desculpa, Beauvoir e militantes, genuinamente admiro vocês quanto à luta pelos direitos
das mulheres, mas eu não consigo me manter sempre vigilante e pronta para debater
qualquer assunto que diz respeito aos direitos das mulheres, aos nossos corpos ou
simplesmente ao fato de podermos existir. A gente já administra tanta coisa, é aquela
pressão toda pro nosso desempenho acadêmico e profissional, são todas aquelas sutilezas
que vão tentando nos podar de falar, opinar e até mesmo se vestir. Anos atrás estava eu
junto com outra Beatriz (que feliz coincidência) fundando o coletivo feminista da escola e
hoje tô aqui… assim.

Mas também, o que esperar de mim? Há anos escuto de diferentes pessoas “Bia, lê o
Conto de Aia” e eu, de certa forma, tenho evitado essa leitura. Nesse texto, um país fictício
comandado por homens coloca as mulheres numa única posição: gerar filhos para as
famílias dominantes. Nesse sentido, o estupro, mais que normalizado, é estimulado. Mas
para que tanto receio meu de ler esse livro? É medo do quê? Será que é medo de qualquer
tipo de ligação com o Brasil?

Ainda bem que hoje a gente não tá tendo que discutir sobre criminalização do aborto, sobre
equiparação de aborto à homicídio. Ainda bem que hoje a gente não está ignorando a
gravidade da violência sexual que dilacera todos os dias meninas no nosso país. Ainda bem
que a gente nem tá falando de um país onde é registrado um estupro a cada oito minutos.
Ainda bem que tudo isso que citei não passa de ficção, a gente já tem tanta questão para se
preocupar: é homem querendo falar onde podemos ir, o que devemos estudar, quais
assuntos nos cabem, quando e onde nossa opinião é bem-vinda. Ainda bem que isso tudo
não passa de devaneios. É hora de ir! (Ou de fugir?)

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