Pedagogia do ódio: tadinho dos poros!

Tela de pesquisa do TikTok (Reprodução: TikTok)

Por Beatriz Bicudo (Engenharia Elétrica, 6º ano)

Me encanto por pessoas que não fazem a mínima para agradar os outros. Elas simplesmente são. Quem gostar (ou não) delas, será puramente por quem elas são. Dito isso, nas últimas semanas, tenho me encantado pelo conteúdo da Laurinha Lero. Anos atrás, já tinha escutado seu podcast, mas parado – na época, o seu jeito de falar me irritava (e dizer isso faz com que, automaticamente, uma pessoa que está lendo esse texto me xingue).

Laurinha, outro dia, comentava sobre o exercício que propunha aos seus alunos de redação: escrever um texto sobre algo que não gostassem – o que foi chamado de «psicologia do ódio» por colegas de profissão. Se você fosse escrever, pelo puro ato de escrita, sobre algo que não gosta, seria sobre o quê?

Com toda a licença poética para usar o espaço desse jornal para isso, eu começo: que chatice é essa história de skincare. Já começo me defendendo e fazendo a boa pra Beatriz de 50 anos: lavo o rosto, passo protetor e hidrato a pele religiosamente. Isso eu tolero (arriscando a dizer que gosto), até porque não existe coisa mais fofa do que dormir mal e eventualmente me entupir de álcool e achar que um creminho antes de dormir vai salvar meu rosto.

Voltando à minha reclamação: outro dia, uma amiga me chamou pra ir numa loja de produtos pra pele e, nossa, eu fiquei triste pelos poros! Tadinhos dos poros. É tanto produto pra eles que, no final, eu nem sabia mais se o intuito é que eles fiquem fechados ou abertos, sempre, obviamente, tentando escondê-los. Minha espécie de hate nisso de skincare vai também na ideia da gente esconder o que é tão natural. Os poros, tadinhos, são literalmente parte importante na regulação da temperatura corporal e na proteção da pele. Mas, ok… aparentemente, agora a gente vai escondê-los.

Nesse meio caminho vêm as sardinhas no rosto, mas elas são mais polêmicas. Tem época que é para esconder, passar 300kg de base e tirar essas «manchinhas» do rosto, enquanto tem época que é bonito ter. Outro dia, vi uma blogueira fazendo sardinhas fakes para sair de casa. Que fofa! Era só ter ficado exposta muitas horas ao sol na sua pré-adolescência que você tinha conseguido elas, mana. As minhas são eternas lembranças dos dois verões que passei na praia de Bertioga aos meus 12 e 13 anos.

Para parar de me alongar desnecessariamente por aqui – já que fiz isso no texto todo – me despeço reclamando da quantidade de máscara diferente para os olhos. Pasmem, gente! Estamos todos acabados e, eventualmente, ganhamos umas olheiras e isso é o fim do mundo. Como assim seu corpo tá expondo que você está acabado?

Mas que fique claro: por respeito a qualquer que seja a versão de Beatriz, escrevo esse texto e logo já procuro o próximo TikTok sobre como passar corretivo e tampar melhor olheiras. Até agora, só tenho dó dos poros; não cheguei nesse nível de empatia pelas olheiras.

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