Por Luiz Antônio Melo (Engenharia Ambiental, 4º ano)
O Brasil é um país conhecido por ser apaixonado por esporte, mas muitas vezes restrito ao futebol, quando se pensa na atenção do grande público. Entretanto, já se viu que a nossa nação também possui paixões em outros campos, como quando vibramos com as voltas alucinadas de Ayrton Senna, com as cestas de Oscar Schmidt, os cortes de Giba e as grandes vitórias de Gustavo Kuerten, o Guga, nas quadras ao redor do mundo. O ciclo olímpico que se inicia é uma prova disso. Conseguimos, do mesmo modo que vibramos com um gol, nos emocionar com uma quebra de recorde no atletismo ou na natação ou com uma nova marca no salto em distância. Para mim, essa é a grande beleza dos jogos olímpicos: reunir, sob uma mesma bandeira, pessoas de todos os cantos do mundo, com uma diversidade única de modalidades, todas almejando a glória eterna conferida por um pódio ou simplesmente por uma participação olímpica. É um sentimento muito nobre, que traz imagens e sentimentos muito humanos, em um mundo cada vez menos humano.
Nos últimos anos, nós, brasileiros, vimos essas paixões extra-futebolísticas diminuírem ou sumirem, e, até mesmo, dentro das 4 linhas, minguarem. O país passou por muitos problemas e ainda passa por uma fase que mais nos separa do que nos une, com uma profusão de crises econômicas, políticas e sociais com grande impacto no jeito como nós nos vemos e vemos aos outros. Mas, um fato curioso tomou conta do nosso noticiário na fase final desse ciclo olímpico que culmina em Paris: o tênis, esporte que há muito não aparecia com relevância nas televisões e nas redes sociais, prendeu nossa atenção graças a uma jovem tenista paulistana que está fazendo história e conquistando a todo um país.
Seu nome? Beatriz Haddad Maia, atual número 22 do mundo no ranking da ATP, primeira mulher brasileira a chegar em uma semifinal de Roland Garros nos últimos 48 anos, seguindo o legado de uma pioneira chamada Maria Esther Bueno, por vezes esquecida, mas com uma trajetória única. Bia possui as características que vibram e fazem vibrar em cada um de seus jogos: humilde, guerreira, firme e entregue ao jogo. Cada ponto é uma batalha travada sem medo e cada saque é um tiro de canhão que vem. Ela traz algo que, há muito, se perdeu: a verdadeira paixão no ofício de representar o Brasil e o jeito muito nosso de, como diz Fábio Brazza, “cair no chão, mas se recusar a sair de maca”. E eu acredito que, cada vez mais, ela fará com que os brasileiros voltem a se reunir em torno das televisões para acompanharmos os torneios do Grand Slam e darmos apoio, mesmo à distância, para aquela compatriota que lá nos representa.
O futebol virou celeiro de craques instantâneos, que ficam multimilionários, vão muito jovens para a Europa e não possuem mais identificação com o torcedor médio. Somos lembrados, todo dia, que o futebol é um negócio muito lucrativo e que aqueles 11 jogadores que defendem a nossa camisa auri-verde são tratados e pagos como semi-deuses. Nossos craques, em sua maioria, são controversos, e acabam mais conhecidos por traições, baladas, cortes de cabelo e tatuagens do que por seus feitos esportivos. Daí vem a falta de identificação, de paixão e de amor que um dia tivemos – e que eu acredito ainda termos, mesmo dormente – pela nossa amarelinha. Mas, há esperança: viu-se, como há muito não se via, pessoas comuns prestando atenção em um esporte muito mais distante da nossa realidade. Vibrando, sofrendo, apoiando e dando pitacos. O Brasil precisa, mais do que nunca, de uma unanimidade, uma pessoa que seja um farol no meio da escuridão que estamos, tal qual foram cada um dos que eu citei acima, com o natural destaque para Ayrton Senna, que até hoje, 30 anos após sua trágica morte, ainda é unânime e deixa muita saudade.
Meu intuito nesse texto não é dizer que a Bia vai ser o novo Senna, nem o novo Guga. Não, o meu único aceno é para que nos atentemos ao fenômeno que vem aí, com valores e características que podem sim serem colocados como de uma líder, uma referência para jovens mentes que crescem nas nossas terras. Após a derrota por 2 sets a 0 para Iga Swiatek, número 1 do mundo e tricampeã de Roland Garros, Bia deu a seguinte declaração: “Eu não sou especial, sou sim fruto de muito trabalho duro e muita dedicação, se eu cheguei, qualquer um consegue chegar”. Esse é um exemplo que, sem dúvidas, nós queremos espalhar por todo o país e mostrar ao mundo com o orgulho que nos é característico. Que a Bia continue sendo, simplesmente, ela mesma, e esteja cada vez mais presente no nosso dia a dia, lutando, vencendo e apaixonando esse país, mais uma vez, pelo esporte da bolinha verde. Paris será o palco das próximas batalhas nesse 2024, e ela pode entrar na quadra sabendo que tem o país todo na sua retaguarda e na sua torcida. Vai Bia!
Faça um comentário