Por Diego Roiphe de Castro e Melo (Engenharia Civil, 2º ano)
Fui graciosamente informado pelo calendário, que, com o fim do interminável agosto, veio também o aniversário do tal Grêmio Politécnico da USP. Neste dia primeiro, a entidade chega a seus 121 anos – ou, para os fanáticos de exatas: onze ao quadrado. Para esses, o aniversário quadrático é um marco mais ou menos raro (acontecendo apenas pela décima primeira vez, e voltando a acontecer apenas daqui a 23 anos) e que mostraria a potência da associação de alunos da Politécnica. Para mim, porém, o aniversário palindrômico convida à recapitulação da história, de trás para frente.
A lenda reza que, no retorno da festa de fundação do Centro Acadêmico XI de Agosto, os alunos Ranurpho da Mata Pinheiro Lima, João Vasques e Alexandre Albuquerque (o Grande), reunidos em uma mesa de bar, inspirados pelo CA do Direito – e, possivelmente, por alguns copos de cerveja, ou o que quer que bebessem à época –, decidiram fundar a entidade de representação dos politécnicos. Aqui fica também a curiosidade de que o Grêmio Politécnico é, inclusive, duas semanas mais velho que o “Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense”, o que, pessoalmente, diria não ser uma coincidência. Diria, até, que, os gaúchos, vendo no Grêmio de 1º de setembro o embrião de uma associação que faria muita história, decidiram aproveitar a onda e nomear da mesma maneira o clube de futebol, que também gosto de chamar de “Grêmio 2”.
Se posso dizer que os amantes-do-esporte-bretão do Rio Grande do Sul já viram grandeza na recém-fundada entidade estudantil, não sei se é possível dizer o mesmo dos próprios fundadores da tal associação. Seriam tão visionários e confiantes a ponto de vislumbrarem um Grêmio centenário e marcadamente influente em grande parte da caminhada da nossa nação? Ou seriam plenamente despretensiosos e pragmáticos, fundando a entidade apenas por julgarem preciso e necessário? Nenhum dos cenários apequenaria o corajoso ato do trio politécnico, mas posso crer que o lançamento da pedra fundamental do Grêmio foi com uma certa “pretensão inocente”: fruto da necessidade do momento, ao mesmo tempo que poderia ser a oportunidade de lavrar o terreno para que, no futuro, a comunidade politécnica pudesse ter voz e influência para além da própria Escola.
Assim dito, assim feito. De todos os feitos e projetos da entidade, destaco apenas alguns: a participação no movimento pela nacionalização da exploração do petróleo (“O Petróleo é Nosso”), a grande influência na criação de um plano nuclear brasileiro (com a atuação da Comissão de Energia Atômica do Grêmio e levando a campanha “não exportaremos o nosso futuro” a nível nacional), a construção da Casa do Politécnico (para abrigar estudantes de fora de São Paulo), a Campanha “Paula Souza” de Alfabetização de Adultos (pioneira no país, contando com ensino noturno), o Grupo de Teatro da Poli (GTP, hoje com quase 8 décadas de grande destaque no teatro universitário), o Escritório Piloto (e seus projetos de engenharia social), o Cursinho preparatório para vestibular (hoje Cursinho Popular da Poli-USP), o Poliglota Idiomas (para facilitar a internacionalização e desenvolvimento dos estudantes), a participação nos movimentos de resistência a ambas as ditaduras (de Vargas e a Ditadura Militar), a criação da UNE, UEE-SP e DCE da USP, a participação em congressos e encontros internacionais de estudantes e entidades estudantis (sempre almejando a união e luta conjunta), o Departamento de Livros e Publicações (que editou livros e apostilas aos alunos por muitos anos), o Banco Politécnico (que cedia empréstimos a juros baixíssimos e ajudava financeiramente os alunos), a Semana de Arte na Poli (SAPO, neste ano em sua 36ª edição), a criação do fundo de endowment da Poli (hoje “Amigos da Poli”), a criação da própria AEP (Associação dos Engenheiros Politécnicos), e muito mais. Isso, é claro, além do constante auxílio aos alunos e da luta incansável e diária pelos direitos do corpo estudantil e por justiça (em âmbito interno e externo à universidade).
Tudo isso ficou registrado nas páginas da Revista Politécnica e deste Jornal O Politécnico, meios de expressão estudantil, dando voz a demandas e sendo espaço aberto de diálogo político, técnico, cultural e artístico, desde sua criação.
Que fique claro que, nestas linhas, não há uma espécie de auto-elogio, mas, antes, um alto elogio, à tão grandiosa e conquistadora entidade, que, construída por tantas pessoas ao longo da história é, mesmo, muito maior e mais importante do que qualquer um que algum dia teve “do Grêmio Politécnico” como aposto.
Por fim, apenas desejo que, em seu décimo primeiro quadrado, o Grêmio Politécnico dos alunos da Escola Politécnica da USP possa ser cada vez mais multiforme, honrando seu passado de conquistas e sabendo ser vanguarda, fazendo história a cada passo!
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