Curricularize já!

Por Jobel Junior (Engenharia Elétrica, 3º ano) e Rodrigo Matsuura Cirillo (Engenharia Ambiental, 3º ano)

É com grande prazer que finalmente, depois de uma jornada de quase 2 anos, podemos anunciar que este ano conquistamos a aprovação de algumas pautas relevantes na Comissão de Cultura e Extensão (CCEx). Ao longo das reuniões que tivemos no primeiro semestre, pudemos aprovar em consenso: a extensa pauta da curricularização de extensão, incluindo as Atividades Extensionistas (AEx); as Atividades Acadêmicas Complementares (AACs); e o Formulário de Credenciamento de Grupos de Extensão, pautas que já demandavam uma definição da escola desde 2022 e, portanto, estavam atrasadas a certo tempo mesmo com empenho e esforço dos representantes discentes e professores empenhados no tema.
Acreditamos que a grande dificuldade na aprovação desses tópicos foi a compreensão e delimitação das definições do que é extensão ou do que é complementar, afinal, na Poli e em muitas outras unidades você com certeza já deve ter ouvido falar de grupos de extensão, embora não saiba ao certo o que seria a “extensão”. A princípio, qualquer um poderia imaginar que a “extensão” se refere à realização de atividades extras em grupo na universidade, ou seja, atividades não obrigatórias, mas que podem auxiliar a compor habilidades relevantes ao mercado de trabalho ou agregar ao seu currículo. Essa definição, na verdade, serve mais como uma atividade complementar do que como atividade de extensão.

E o que é extensão, então?

A extensão é um dos pilares da USP, junto ao ensino e pesquisa, que abrange projetos e atividades da universidade que busquem construir, de maneira colaborativa com o público externo, soluções que devolvam o investimento da sociedade feito na universidade pela criação de um novo conhecimento, que foca na superação das desigualdades e formação de uma sociedade ética, democrática e justa. As atividades que constituem extensão devem obedecer também outros 5 pilares, de acordo com a Política Nacional de Extensão Universitária – atualizada em 2012 e baseada no Plano Nacional de Extensão Universitária criado em 1999. Para ser constituído como extensão, a atividade deve conter:
(1) Interação Dialógica, interação direta e de mão-dupla entre a universidade e setores definidos da sociedade para criação de um conhecimento novo;
(2) Interdisciplinaridade e interprofissionalidade, incorporação de conhecimentos específicos e gerais para compreensão da complexidade do problema de modo a garantir que as soluções sejam efetivas;
(3) Indissociabilidade ensino-pesquisa-extensão, vínculo acadêmico indissociável da extensão que garante o desenvolvimento profissional e cidadão dos alunos, além de contribuir positivamente à universidade;
(4) Impacto na formação do estudante, proporcionamento de experiências e contato com temas que compõem a formação técnica, ética e solidária dos estudantes e requerimento de novos critérios para garantir isso – a presença de um professor orientador, a definição de objetivos e competências na ação e métricas de avaliação da participação;
e (5) Impacto e transformação social, a atuação deve ser pautada nos interesses e necessidades da maioria da população, pensando também no desenvolvimento social e regional, indicadores que devem ser medidos a partir do feed- back direto do setor afetado;
Em resumo, a extensão não é nada simples de definir, mas ela foi criada para resolver um problema igualmente difícil: a tarefa de aos poucos resolver a desigualdade social arraigada em nossa sociedade usando o conhecimento gerado nas universidades.
Não haveria outra forma mais genial do que utilizar as grandes mentes da universidade para trabalhar nesse grande quebra-cabeça, além de contribuir para que elas mesmas aprendam pilares que não podem ser ensinados somente em sala de aula – a ética, a solidariedade e a consciência social – isso apenas a graduação e a pesquisa não conseguiriam alcançar.

Mas como essas pautas aprovadas afetam minha vida?

A aprovação das Atividades Acadêmicas Complementares (AACs) e da curricularização de extensão faz andar processos travados desde 2022 e que precisam ser iniciados para garantir a graduação dos ingressantes 22 e 23. Em conjunto com as novas Diretrizes Curriculares Nacionais, oriundas do Ministério da Educação e Cultura (MEC), fica determinado que os alunos devem cumprir 2 créditos de AACs – a partir dos ingressantes 2022 – e 10% dos créditos totais da graduação como créditos de extensão – a partir dos ingressantes 2023. Caso a Poli não cumpra esses requisitos, há o risco de não sermos recredenciados, processo que ocorre a cada 5 anos, e perdermos muito do prestígio acadêmico e reconhecimento internacional.

Como eu consigo esses créditos?

As atividades que podem contar créditos de AACs são: atividades esportivas; bolsas em projetos de ensino; estágios não obrigatórios; monitoria em cursos de graduação; apoio ou participação na semana de recepção; premiações acadêmicas; PETs; programas de tutoria; participação em visitas técnicas ou monitoradas; participação em atividades culturais; bolsas em projetos de extensão; participação e/ou premiação em competições estudantis; cursos extracurriculares; participação ou administração de empresas júnior, grupos de extensão, centros acadêmicos ou entidades estudantis; oficinas de treinamento prático; participação na publicação de textos; participação e/ou organização de semanas acadêmicas; e premiações por projetos sociais ou comunitários.
Os créditos de AACs são obtidos a partir da inclusão direta das atividades no Júpiter (dentro da aba de requerimento), cada aluno deve fazer sua submissão e preencher os campos obrigatórios, incluindo um arquivo válido para certificação da atividade que deve ser confirmado conforme cada tipo de atividade. Vale ressaltar que as atividades que requerem certificado e ainda não possuem um modelo terão um trabalho extenso para começar a produção desses certificados, mas já estão sendo articuladas conversas com grupos de extensão, centros acadêmicos e a atlética, para chegar a um acordo quanto ao modelo e para garantir que as atividades organizadas centralmente por alunos não fiquem defasadas. Depois da inclusão, a CCEx analisa os envios e aprova, ou dá um retorno referente ao que precisa ser corrigido. Quando aprovado, os créditos são contabilizados automaticamente.

Quanto aos créditos de extensão, eles podem ser obtidos por três meios: por créditos de extensão contidos nas próprias disciplinas, por exemplo disciplinas que requerem algum trabalho de projeto e/ou pesquisa com foco na comunidade fora da universidade; por atividades extensionistas (AEx), inscritas pelos próprios professores; e por estágios, nesse caso serão válidos estágios com algum caráter extensionista. Os créditos presentes nas disciplinas ou nos estágios estão sendo pontuados no Júpiter pela Comissão de Graduação e serão inseridos no histórico automaticamente após a conclusão. Os créditos de AEx passam por um processo um pouco diferente, requerem a inscrição em uma das atividades e são inseridas após o término da atividade, exigindo também uma confirmação do cumprimento da carga horária designada pelo aluno. As AEx funcionam de modo bem diferente da disciplina pois são periódicas e únicas: são oferecidas por diversos professores, com diferentes cargas horárias e objetivos, possuem um processo de seleção definido com critérios e vagas limitadas. Para se inscrever, você precisa acessar a aba de AEx no Júpiter durante o prazo e aplicar para o processo e, se for selecionado, poderá cumprir a atividade recebendo os créditos ao final dela. O processo de criação de novas AEx ainda é bem embrionário, houve apenas uma inscrita até o momento de produção desse texto, mas já estamos trabalhando também um processo de divulgação para que todos estejam cientes das AEx com inscrições abertas, sem necessidade de checar o Júpiter constantemente.

E os grupos de extensão?

Conjuntamente com o surgimento de toda essa demanda de novos créditos e redefinições do sistema, também é muito pertinente perguntar o que acontece com os grupos de extensão nesse cenário. Contam só como AACs? Se chamamos de extensão porque não poderia contar para a extensão? Justamente por isso, simultaneamente, também foi aprovado o Formulário de Credenciamento dos Grupos de Extensão. Inspirado no modelo de controle proposto pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, os grupos agora podem submeter um formulário para formalizá-lo e transformá-lo oficialmente num grupo de extensão reconhecido pela Poli. Nele, devem constar o professor responsável pela supervisão do grupo, o aluno representante, uma série de descrições dos objetivos e organização do grupo e os projetos que realizam ao longo do ano. Caso o envio seja aprovado, os grupos reenviam o formulário anualmente, num período estipulado pela comissão, para regularizar a sua situação. Uma vez feito o credenciamento, o grupo agora tem autonomia para que seus membros possam cadastrar suas atividades como AACs, fazendo com que seus esforços sejam recompensados e reconhecidos no seu histórico escolar, registrando a experiência e dedicação empenhados também em um documento oficial da escola.
Para as AEx ainda existe a necessidade burocrática de ter um professor envolvido, mas, uma vez que já é necessário um professor para realizar o credenciamento do grupo, os dois problemas se resolvem de uma só vez. Também é preciso se atentar à questão da interlocução entre universidade e sociedade, por exemplo, grupos com foco em competições não se enquadram nessas definições de extensão, e portanto não poderiam ter suas atividades consideradas para uma AEx, por outro lado, o que alguns grupos já fazem são workshops em escolas públicas, o que nesse caso permite a contabilização como AEx. Então, para o caso de AEx, o grupo precisa definir alguma atividade, projeto ou evento que cumpra com os requisitos de extensão, depois conversar com seu professor orientador para inscrever uma AEx sobre essa atividade, projeto ou evento e permitir que os membros do grupo participem dessa AEx. Assim, o grupo consegue agregar valor com créditos de AACs e créditos AEx para seus membros cumprindo seus projetos e dentro do seu cronograma.

Conclusão

Chegamos ao fim desse texto e você caro leitor e colega deve estar pensando “O QUÊ? Além de 30 créditos aula + trabalho + testinhos + semana de provas + minha vida fora da Poli, ainda tenho que cumprir TUDO ISSO para me formar?”. E sim, não temos muito como voltar atrás por serem ordens vindas de um nível acima da Poli, mas nossa intenção com esse texto não é alarmar, mas sim informar como se darão todos os procedimentos, uma pequena aula-relâmpago sobre as boas novas, também saibam que essas implementações virão com calma para garantir que ninguém seja sobrecarregado e as coisas se ajeitem da maneira mais assertiva possível. Algumas delas ainda estão em discussão e podem acabar sendo diferentes do que foi explicado nesse texto, a base ainda vai permanecer, mas alguns detalhes podem mudar naturalmente com o tempo e a chegada de novas conclusões. Recomendamos que fiquem atentos conforme novas atualizações saem e prestem uma atenção especial ao anúncio dessas mudanças de caráter acadêmico, não exitem em contatar um Diretor(a) do Grêmio em caso de qualquer dúvida. Não deixem para resolver isso no final da graduação e procurem abraçar a extensão positivamente como uma forma de aplicar os seus conhecimentos e ganhar novas experiências, não perca essa oportunidade: Curricularize Já.

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