O Politécnico Viu: O Brutalista

Adrian Brody como László Tóth em 'O Brutalista' - Divulgação

Por: Helena Hernandes Barbosa (Engenharia de Materiais, 2° ano)

“Há descrição melhor para um cubo do que sua própria estrutura?”

Nesse filme, Brady Corbet consegue, entre as suas 3 horas e 35 minutos desenrolar tantos temas e entrelaça-los de maneira opima, que essas horas acabam virando segundos. O tema central do filme pode ser ilustrado em 3 subtemas principais: obsessão, opressão e desconforto. A trama gira em torno de László Tóth, imigrante judeu da 2ª Guerra Mundial, arquiteto que segue o brutalismo, estilo arquitetonco de meados dos anos 1950, que significa “concreto bruto”. O diretor em parceria da atuação meticulosa de Adrien Brody, premiada pelo Oscar, metaforiza, de maneira nada sutil, a condição humana em torno de frieza, morte, e busca por algo idealizado que será enfraquecido em forma de uma obsessão árdua daquilo que te machuca e te faz sofrer todos os dias, e perturba a todos que ama.

Na minha visão, o filme trata de um carrossel de opressão pós guerra, transladado para a veia norte americana, que trazia com sigo o sonho de ser americano, de liberdade de expressão, e de ser quem você é, desde que esses limites teatrais não sejam sobrepostos. László chega na América tão sonhada já viciado em drogas, o que seria até compreensível pois fica feliz ao ver a estátua da liberdade, que no nosso visual, de quem está assistindo o espetáculo, aparece de ponta cabeça, referência central do filme,como uma ironia as formas de arquitetura e de símbolos, que trazem os ideias de maneira torta, pois, em maioria, fogem da realidade.

A real vontade de László reconstruir sua vida cai por terra, pois, o primeiro lugar que vai é em um prostíbulo, local que apenas amplifica sua obsessão. Essa obsessão fica cada vez mais conturbada a partir do momento que o Harrison Lee, o caçador de troféus, patriarca da família, o provedor de sonhos aparece. Lee vê o arquiteto com um olhar repugnante no começo, mas após reconhecer a sua antiga fama na Europa se recompõe e traz uma solução para o imigrante sem casa, um grande projeto brutalista.

Harrison, ao redor da trama, se mostra o mais oprimido de todos, mesmo sendo abastado, lida com amplos conflitos internos quase não visíveis aos olhos. Na minha opinião, demonstra atração não apenas intelectual, mas física por László, sempre ressaltando o quanto era interessantes e ao considerar a sociedade da época, obviamente, como exemplo nato de sonho americano, era oprimido a se sentir verdadeiro, oprimindo até certo ponto sua possível homossexualidade, o que retoma uma das principais combustíveis do carrossel, o oprimido acaba virando o opressor, o que resulta em cenas e em um final trágico.

Olhando pela estética do filme, período de ebulição urbana, László imigrante pós guerra que viveu um período em um campo de concentração, recria, de maneira alegórica, o próprio campo em sua nova obra arquitetônica. Paredes altas, janelas pequenas, espaços de certo modo ofegantes, insuportáveis, evocando a cor frígida do concreto, projeto de referência simples para a visão óbvia, mas grotesco e feio para quem realmente entende osignificado e consegue decifrar a dor do protagonista, obstinado em trazer algo, mas apenas é silenciado como uma forma de denúncia ao sonho americano.

O filme é um prato cheio para os politécnicos amantes da engenharia e arquitetura, e sim, em meio a pilares tortos e concretos gelados constroem, uma história de revelação, dor, e sentimento da maneira mais brutal já vista. László, em um diálogo, responde porque da arquitetura ter sido a escolha dele, explica que seu trabalho é uma de forma de eternizar o seu pensamento, suas vontades, e seu passado, foram uma forma de debate político aos ciclos da humanidade, algo materializado que sobrevive a erosões.

Nota: 5/5

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