O Politécnico viu: A Chegada

Amy Adams e Jeremy Renner em cena de A Chegada (Reprodução)

A Chegada é um filme lançado em 2016, dirigido pelo franco-canadense Denis Villeneuve e vencedor do Oscar de melhor edição de som, além de indicado a outras sete categorias, incluindo as de melhor filme, direção e roteiro adaptado. O filme retrata a chegada de 12 naves alienígenas pousadas em diferentes lugares do mundo, que, ao primeiro contato, não demonstram nenhum tipo de ameaça. Sendo assim, surgem diversas perguntas sobre quais seriam as intenções dos extraterrestres. Dentro desse panorama, a Dra. Louise Banks (Amy Adams), uma linguista americana, tem como missão decodificar a língua dos aliens o mais rápido possível para entender qual era o propósito deles estarem na terra e evitar que os Estados Unidos e outros países atacassem as naves.


Em comparação a outros filmes de alienígenas, A Chegada propõe uma dinâmica totalmente diferente: não se trata de uma guerra, mas sim de um enigma que deve ser decifrado. A linguística é a peça chave nessa narrativa, o desafio em decodificar a primeira língua escrita não humana é instigante e, ao mesmo tempo, angustiante. Quanto maiores os avanços em entendê-la, mais informações eram trocadas e mais interpretações erradas sobre quais seriam as intenções dos aliens surgiam. O principal perigo se tornou o próprio anseio do ser humano em dar o primeiro golpe. Qual seria o contra golpe de uma espécie que aparentemente é mais evoluída?

A narrativa é bem lenta e necessita de muita atenção, precisei assistir uma segunda vez para entender todos os aspectos do filme. A paisagem e a iluminação são nubladas, e, junto com a trilha sonora digna de Oscar, dão um ar melancólico muito interessante para o filme. Alguns conceitos de linguagem essenciais para o entendimento são abordados muito superficialmente, o que prejudica consideravelmente a experiência, mas, fora isso, é um filme que vale muito a pena.

Nota 9,5
Lucas Dorna de Mello,
Engenharia de Produção, 2º ano. 


De fato, filmes relacionados à “invasão alienígena” podem estar já saturados, ainda mais com grandes naves ao redor do mundo e com a sociedade não sabendo lidar com tal situação. Entretanto, dei a chance para A Chegada, já que sou louco por qualquer ficção científica, e fiquei incrivelmente surpreso e satisfeito com o resultado da obra.

Em questões técnicas, o filme é cinematograficamente lindo, paisagens e cenas de tirar o fôlego, efeitos especiais precisos e adequados ao tom da obra, trilha sonora hipnotizante e envolvente, além da grande atuação de Amy Adams, que faz uma professora especialista de linguística, o coração de toda a trama, que tenta se comunicar com os “visitantes”. Apesar de contrastante, o filme é construído de forma confusa, fragmentada, com aparentes flashbacks, mas que cativa o espectador cada vez mais profundamente, se associando com as características técnicas citadas.

Já em relação ao enredo, eu resumiria-o em duas palavras: “tempo” e “escolhas”. As questões filosóficas trazidas pela obra eram inesperadas para apenas mais um filme de “contato extraterrestre”, e assim, crises existenciais ou apenas questionamentos sobre a vida podem surgir com a conclusão da história. 

No fim, o enredo se desenvolve a partir dos alienígenas que visitam à Terra e a tentativa humana de se comunicar com eles, porém, eles apenas são o gatilho para refletirmos sobre o que de fato é a comunicação, qual é a nossa percepção de tempo e como lidamos com ela, e finalmente, que escolhas tomamos. Parecem temas estritamente independentes, mas com a genialidade artística da produção, se tornam um só. Assistam e se surpreendam!

Nota: 9,7
Luca Augusto Paniago,
Engenharia Mecânica, 2º ano.


“Somos a soma de todas as nossas experiências”, mesmo parecendo uma frase que poderia encontrar em um livro de autoajuda genérico, existem questões complexas associadas, desde a compreensão de grupo em comum até a estruturação linear da frase. E o filme busca mostrar como a linguagem influencia nossas vidas.

Com o contexto do desconhecido inicial do filme nos é apresentada, mesmo de forma sutil, a questão da linguagem visual com a movimentação da câmera, da utilização das cores para representar da falha em buscar entender o que está sendo dito pelos alienígenas, até mesmo o som retratando o clima de tensão constante.

Com o desenrolar do filme é mostrado que a diferença de cada um resultou em diferentes interpretações sobre o que seriam os alienígenas e as consequências em diferentes escalas, como da população que não estava envolvida e não tinha muito conhecimento sobre até a uma provável guerra mundial devida a escolha das palavras.

Na questão técnica, como os efeitos de computação, os ângulos e a movimentação da câmera são importantes foram bem feitas, nos propiciando paisagens de admiração (a apresentação do casco do alienígena daria um belo quadro) e agrega muito para compreender a mensagem da obra.

Se teve um ponto que me incomodou um pouco, mas não diria que é um defeito do filme, é a questão das cascas, do que são feitas, por que a gravidade se alterava, entre outros pontos que deveriam ser estudados, mas virou “Não sabemos e estamos tomando um couro para a equipe de tradução”.

No fim foi um bom filme de assistir, não de forma pretensiosa, mas como uma reflexão que precisa de atenção.

Nota: 9,6
Maikon Yukio,
Engenharia Civil, 5º ano.


Alguma coisa está fora da ordem.  Fora da nova ordem mundial… Nossa realidade é permeada de camufladas questões conflitantes, que, a um toque de arte, se tornam fraturas expostas: a música dançante é a mesma que nos captura em um pensamento paralisante; a ficção distante é a mesma que nos puxa à realidade contornante. E seguindo adiante, às vezes, voltamos para trás…

O filme A Chegada parte da ficção clássica, que agrada o público com alienígenas e tecnologias futurísticas, para chegar a pertinentes reflexões sobre a natureza humana e, mais especialmente, sobre nossas formas de conexão. Somos mesmo animais sociais? O filme capta bem essa ânsia pelo diálogo com o desconhecido em oposição aos entraves que nós mesmos plantamos na comunicação: ao mesmo tempo que as personagens trabalham duro para dialogar com os seres extraterrestres, as mesmas caem em falhas de comunicação em nível individual, organizacional e, até mesmo, internacional. Será mesmo que queremos entender o outro? 

Outra reflexão marcante na obra e, talvez, a mais original, é sobre como nossa forma de falar está atrelada à nossa forma de pensar. E para você que, já na época do colégio, não gostava da área de linguagens, não tema adentrar tal reflexão! O próprio filme nos instiga a pensar sobre a legitimidade de separar as ditas humanas das exatas. A realidade não contempla ambas? 

Em questão de tempo, A Chegada não é aquela ação corrida de início ao fim (embora o trailer venda essa ideia). O ritmo da obra é perfeito para o telespectador não se atropelar no raciocínio e poder se apegar aos detalhes, que, em grande maioria, são reveladores e nos encaminham ao encerramento.  

No final do filme, tomado por reflexões e questões sem resposta, a única certeza é que, de fato, alguma coisa está fora da ordem…

Nota 8,8
Veronica Duval,
Engenharia de Produção, 2º ano.  


O filme brinca com a hipótese da relatividade linguística (por vezes, erroneamente chamada de Sapir-Whorf) em sua vertente forte, o “determinismo linguístico”, que diz que a língua em que pensamos determina os nossos pensamentos, além de limitar toda nossa cognição. Levando essa hipótese (já falsa, ainda que sua versão “fraca” — “a língua influencia nossos pensamentos” — seja considerada verdadeira) a um nível maior de abstração, A Chegada mostra como uma língua circular pode nos fazer prever o futuro, se é que “futuro” ainda faz algum sentido. O filme é, à primeira vista, confuso (vale a pena ver de novo), e falha em trazer alguns aspectos que o livro desenvolve melhor nesse quesito de explorar a língua, o ponto chave do filme e que faz com que a obra destoe positivamente da imensa maioria das ficções científicas.

Nota: 9,9
Arthur Belvel,
Engenharia Mecânica, 3º ano.


As coisas só são do jeito que são porque tudo aconteceu exatamente do jeito que aconteceu. O bater de asas de uma simples borboleta poderia influenciar o curso natural das coisas e, assim, provocar um tufão do outro lado do mundo. O efeito borboleta, a teoria do caos, ou qualquer nome que queira chamar o conceito pode nem ter grande veracidade em sua atribuição científica, mas talvez sua verdadeira riqueza seja a reflexão proposta pela ideia.

O que aconteceria se pudéssemos mudar o passado? Tudo está conectado? Temos sequer liberdade para alterar o curso das coisas, ou estaria tudo predestinado? A chave do paradoxo é que a sua resposta está além do potencial de compreensão da mente humana, ou talvez restringida pela sua linguagem. Elucubrações além de nossa capacidade linguística-cognitiva são muitas vezes angustiantes, mas interessantes o suficiente para tirar várias madrugadas de sono. Esse tipo de pensamento é o mais rico da experiência proposta por A Chegada.

Diferente da maioria dos outros filmes de ficção, o que chama a atenção em A Chegada não são cenas de ação bem coreografadas ou efeitos visuais exagerados. O verdadeiro trunfo do filme é seu conteúdo político e científico, que realmente te prende na história. Concluindo, o filme tem um enredo incrível, mas o que realmente o diferencia é a forma em que a história é contada. As brincadeiras com cronologia, as referências políticas e os flashbacks extremamente bem colocados fazem o filme ser uma verdadeira aula de como se contar uma boa narrativa.

É uma experiência que vale a pena mergulhar completamente e aproveitar cada segundo.

Nota: 9,4
Rafael Varanda,
Engenharia Mecatrônica, 2º ano.


“O que é um filme clássico?

Para o senso comum, trata-se de uma obra antiga — talvez até em preto e branco — que sobrevive às mudanças sociais, sendo pertinente às discussões vigentes. Além disso, ela teria uma linguagem cinematográfica mais ortodoxa — estabelecendo-se, novamente, um sentido de oposição à modernidade. Assim, filmes da Era de Ouro de Hollywood são considerados grandes clássicos, como Cidadão Kane e Casablanca. O Poderoso Chefão, por outro lado, jamais poderia receber essa alcunha. De Volta para o Futuro e Central do Brasil, então, nem se fale. Um filme contemporâneo jamais seria um clássico. Aliás, nunca mais se produziriam clássicos. Ora, não seria melhor o cinema fechar as portas de vez?

Há várias razões pelas quais um filme é classificado, que vão desde revolucionar culturalmente sua geração até ser tão ruim que se torna um clássico cult. E esse processo pode não ser imediato. Alfred Hitchcock, por exemplo, foi rejeitado durante boa parte de sua carreira, mas, hoje, é considerado um dos maiores diretores de todos os tempos. É comum nem todos os detalhes de um filme serem compreendidos na primeira sessão, sendo necessárias novas experiências para que sua proposta seja absorvida por completo.

E com A Chegada não é diferente. A proposta cíclica da narrativa clama por um segundo encontro e transcende a cadeira do cinema (ou o sofá da sala). É daquelas experiências que permanecem com o espectador por dias e dias, que são levadas como bagagem. E, não tenha dúvida, em algum dos cento e dezesseis minutos do filme — ainda que inconscientemente —, você saberá a resposta da minha pergunta: isso é um clássico.”

Escrevi o texto acima no meu primeiro mês no jornal, ao conhecer o “OPV”. Esse era o filme sobre o qual eu desejava — ou melhor, precisava — falar. Curiosamente, não foi o que escolhi na minha vez de sugerir, porque eu queria entregar um texto do nível desta obra, o que seria improvável, para dizer o mínimo. Imagine, portanto, minha reação ao saber qual seria o filme de janeiro. Se seu palpite foi “surto”, parabéns! Detesto boa parte do que redigi e, honestamente, não seria capaz de melhorar tanto assim. O ponto é que esse filme já me fez pensar tanto, mas sinto que, mesmo se o visitasse dez outras vezes, não conseguiria absorver sua imensidão. Clássicos são assim: ficam com você e te fazem refletir, para muito além da própria obra — basta notar a fração deste texto que trata sobre o filme em si.

Certa vez, Martin Scorsese, meu diretor de clássicos favorito, disse: “Agora, mais do que nunca, nós temos que conversar uns com os outros, ouvir uns aos outros e entender como vemos o mundo, e o cinema é o melhor meio de fazer isso”. A Chegada presta esse papel, cumprindo a função primordial da ficção científica: denunciar problemas, por meio de universos fantásticos, futurísticos e improváveis, fazendo o espectador se perguntar: “e se?”, especulação que é ponto de partida para discussões ainda mais profundas. Afinal, e se os alienígenas de fato chegarem no futuro? Bom, talvez eles não tenham muito o que salvar…

A Chegada rompe a barreira do tempo, tratando sobre como nossa cognição é determinada pela linguagem, sobre como os sentimentos humanos podem ser refratados através do prisma da nossa compreensão do mundo e sobre como o impacto de nossas experiências pode moldar a linha de tempo da nossa existência. A sutileza dessa reflexão, moldada de maneira quase etérea, transforma A Chegada em um dos clássicos mais importantes da história da ficção científica.

Nota: 10
Mateus Pina,
Engenharia Mecatrônica, 2º ano.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*