O Politécnico viu: Brilho eterno de uma mente sem lembranças

Capa do filme Brilho eterno de uma mente sem lembranças (Divulgação)

Joel Barish (Jim Carrey) descobre que sua ex-namorada, Clementine Kruczynski (Kate Winslet), contratou os serviços da inovadora empresa Lacuna Inc. para ter todas as lembranças do relacionamento entre os dois deletadas para sempre. Desiludido, ele decide fazer o mesmo; entretanto, durante o procedimento, Joel muda de ideia e se vê preso em sua própria mente — desesperado para manter viva a memória de sua amada.

Dirigido por Michel Gondry e roteirizado por Charlie Kaufman, Brilho eterno de uma mente sem lembranças (Eternal sunshine of the spotless mind — 2004) apresenta uma jornada onírica que mistura drama e romance, com pitadas do característico humor kaufmaniano, além de um pano de fundo de ficção científica. Com 1h 48min de duração, o longa foi indicado a duas categorias do Oscar: melhor atriz (Winslet) e melhor roteiro original, tendo vencido a segunda.


Ao apresentar um Joel introspectivamente vulnerável e uma Clementine minimamente menos idealizada do que o de costume — “apenas uma garota problemática procurando por paz de espírito” —, Brilho eterno de uma mente sem lembranças é capaz de se aproximar do espectador, mesmo com uma proposta inicialmente distante. Até personagens secundários são desenvolvidos com profundidade considerável, levantando questões complementares à reflexão principal da trama — talvez o melhor exemplo seja o de Mary (Kirsten Dunst).

Como em um fluxo de consciência, o filme possui uma narrativa não linear, que, de certa forma, simula a estrutura da memória humana. Apesar de vez ou outra o diretor fazer questão de distingui-las, lembranças e realidades se misturam com impressionante fluidez. Cenas, inclusive, são repetidas, com pequenos diferenciais, elementos narrativos que sutilmente conduzem o clima da história — desde a trilha sonora até, claro, a cor de cabelo de Clementine. Esses aspectos fazem o público se perguntar: será que isso é real? Será uma lembrança? Será um sonho? Será o início de uma linha temporal ou o meio de um ciclo? E será que importa?

O filme usa o amor como ponto de partida para questões filosóficas existenciais e deterministas, e o elemento de ficção científica levanta reflexões sobre a consciência humana. Apagar as memórias de alguém que foi muito importante e amado, mas que deixou marcas dolorosas, teoricamente, não seria possível. Afinal, a memória determina o eu atual tanto quanto o eu atual ressignifica a memória. Logo, mesmo as marcas (e talvez principalmente as marcas) deixam uma contribuição considerável na formação do eu, sendo indissociáveis a ele. 

Agora, ignore tudo isso e suponha, só por um instante, que esse procedimento seja possível… você esqueceria?

Nota: 8,7
Mateus de Pina Nascimento,
Engenharia Mecatrônica, 2º ano.


O que acontece quando a ciência e a tecnologia buscam solucionar problemas profundamente humanos? Esse questionamento, embora muito presente em produções recentes, já foi desenvolvido no início dos anos 2000 por Michel Gondry em Brilho eterno de uma mente sem lembranças.

Joel (Jim Carrey) descobre que Clementine (Kate Winslet), sua mais recente namorada, procurou uma empresa especializada em deletar memórias para esquecer do relacionamento pregresso dos dois. Para lidar com a dor emocional infringida pelo rompimento, somada à causada pela descoberta, ele decide passar pelo mesmo procedimento. Contudo, em meio aos flashbacks do relacionamento, ele se arrepende. Sem conseguir externar o interesse em desistir, o filme leva o espectador a compartilhar a angústia de Joel em perder suas memórias e reviver junto a ele os piores e os melhores momentos de seu relacionamento.

Absurdamente sensível, a obra consegue com leveza tocar em questionamentos filosóficos labirínticos. O filme se permite ser assistido com múltiplos olhares e essa é sua grande magia. Sem pretensão de refletir, você pode simplesmente apreciar um grande drama romântico. Para os mais questionadores, é fértil em produzir reflexões. O enredo é bastante competente em ser agradável e complexo simultaneamente, algo que poucas produções que eu conheço são capazes de fazer.

Nota: 9
Yasmin Ramos de Azevedo,
Engenharia Civil, 1º Ano.


Se me fosse dado um dia, outra
oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando
pelo caminho a casca dourada e inútil das
horas…
Seguraria o amor que está à minha
frente e diria que eu o amo…

Enquanto assistia ao filme, me lembrava dessa passagem de um dos meus poemas favoritos: “O Tempo”, de Mário Quintana.

Brilho eterno de uma mente sem lembranças sem dúvida é um dos meus filmes preferidos. A começar, entrega um elenco de peso, cheio de artistas bons. Imagine Jim Carrey, Rose do Titanic, Sr. Frodo, Mary Jane, Hulk e o cara do Alvin e Os Esquilos na mesma obra de 2004. Agora, com todo esse casting, monte uma aventura dramática que una o romance e a ficção científica sem deixar a história irreal, fazendo com que o espectador se prenda ao roteiro imaginando-se na trama. Tarefa difícil? Pois a equipe por trás desse filme conseguiu realizá-la com maestria.

No início, quem está assistindo pode se sentir perdido, sem entender por que os personagens principais estão alí, por que são tão instáveis, quantas cores o cabelo de Clementine tem… mas, com o passar do tempo, tudo se encaixa. A obra, em menos de duas horas, provoca tristeza, aventura, paixão, esperança e pessimismo. Essa combinação de sentimentos ocorre na mente do protagonista, nos arredores dos coadjuvantes e no próprio espectador.

É difícil falar sobre esse filme sem parecer uma declaração de amor. E é exatamente isso que o roteiro é: uma reflexão sobre a dor do amor e o vazio da falta dele. O que seria melhor? A dolorosa lembrança de uma vida gostosa  perdida, ou a paz de uma página em branco? Talvez alguns prefiram a segunda opção, pois, como dito pela grande paixão e a maior decepção de Joel, “feliz é o destino da inocente vestal, esquecida pelo mundo que ela esqueceu, brilho eterno de uma mente sem lembranças”.

Nota: 10
Murilo Ferreira Noronha,
Engenharia de Produção, 2° Ano.


Inicialmente, pensei que Brilho eterno de uma mente sem lembranças seria mais um “comedião” do naipe Jim Carrey como Sim Senhor (ou o ilustríssimo Pinguins do papai). Felizmente, estava enganado. Esperando dar risadas falsas de piadas mal encaixadas, me deparei com uma profunda reflexão sobre o amor e o amar (sim eles são diferentes!).
Diante da nova tendência d’O Politécnico de escolher cartas de amor para análise crítica, me senti confortável para deixar um esclarecimento pessoal sobre esses conceitos. Amor não é uma emoção, e muito menos um sentimento. Comparar o amor com emoção é como comparar um bairro a um país, uma letra a um texto, uma célula a um corpo. Amor é raiva, tristeza, felicidade, frio, calor, dor, prazer, vida e morte. É transbordar, é excesso, é a certeza da incerteza. O amor é muito diferente do amar. Amar é uma escolha, que se faz a cada segundo, cada infinitesimal de momento. Amar é arriscar tudo.

Mas o que acontece, que mesmo a sentir o amor você desiste de amar? Quem ganha esse embate entre mente e coração?
É esse embate, essa dúvida, que o Brilho eterno de uma mente sem lembranças descreve com maestria, nos encantando e desapontando em toda a sua extensão. De um jeito único, entrega a sua mensagem, a qual eu deixo para o leitor descobrir e se surpreender assistindo o filme. 

E por fim, deixo a súplica de um romântico desiludido: ame!

Nota: 9,5
Rafael Varanda Bernardo,
Engenharia Mecatrônica, 2° Ano.


No seu início, Brilho eterno de uma mente sem lembranças me deixou um pouco receoso, as primeiras cenas são confusas e desconfortáveis, parecem surgir do nada e irem a lugar nenhum.
Com o passar da trama, a confusão do que é passado e presente, do que é real e imaginário se intensifica ao mesmo tempo em que se justifica e nos faz mergulhar no mundo caótico das memórias desconexas do protagonista. Contudo, enquanto a confusão dos primeiros diálogos se torna ponto fundamental da trama, o desconforto que eu senti nesse início só volta a se repetir no fechamento da obra, — e, nesse ponto, não tenho como evitar spoilers — as conversas entre Joel e Clementine após o processo de apagar memórias, até após saberem a verdade, me trazem um sentimento de que falta algo. E falta mesmo, afinal, tanto Joel quanto Clementine, considerando que somos moldados pelas nossas experiências — uma visão bem determinista aqui —, não são mais o Joel e Clementine que se apaixonaram, eles nem são mais eles mesmos, pois arrancaram parte da sua história e isso fica evidente quando ouvem suas fitas do passado, eles estão ouvindo estranhos, não se reconhecem, querendo apagar um ao outro, apagaram-se juntos.
O início, que à primeira vista me causou receio, agora é para mim uma das melhores partes do filme.

Nota: 9
Bruno Pereira dos Santos,
Engenharia Civil, 1º Ano.


É possível apagar memórias? Essa pergunta não tem tanto efeito diante dos avanços tecnológicos, e também por ser um assunto muito comum em filmes e séries, como Black Mirror (2011-presente), produzida atualmente pela Netflix. Quando Brilho eterno de uma mente sem lembranças foi lançado em 2004, a temática conquistou facilmente os espectadores.
Jim Carrey e Kate Winslet interpretam os protagonistas Joel e Clementine, respectivamente — o que torna o filme ainda mais grandioso —, que inicialmente se apresentam um casal inusitado formado pelo acaso, mas que romperam o relacionamento devido às circunstâncias. Esse é o ponto que leva Clementine a um experimento para apagar lembranças de seu cérebro permanentemente. O filme, então, se desenrola a partir da decisão de Joel de adotar o mesmo procedimento. No entanto, Joel se arrepende durante a sessão em que os especialistas estão apagando Clementine de sua mente.
Particularmente, o filme não chamou a minha atenção como eu esperava. Apesar do filme ter uma proposta inovadora e genial ao meu ponto de vista, o roteiro deixa a desejar. Os sentimentos de Clementine ficam subentendidos e seu protagonismo se limita ao decorrer da história, desperdiçando a oportunidade de explorar a fundo a personagem. As tramas envolvendo personagens secundários são desconexas e deixam “pontas soltas”. O filme com uma duração de tela razoável de 1 hora e 48 minutos me deu a impressão de estar assistindo por mais de 2 horas.
Apesar de conter furos de roteiro e não aproveitar personagens como Clementine, não há como taxar o filme como fraco ou semelhante. A direção cria uma atmosfera melancolicamente agradável e transmite aos que assistem as sensações esperadas. O drama nos dá um final satisfatório e no contexto geral entrega um bom filme e deixa diversos pontos que refletiremos após terminar a sessão.

Nota: 8
Matheus Souza e Silva,
Engenharia Civil, 1º ano.


Ao suscitar reflexões de grande profundidade quanto à função essencial e ao funcionamento da memória de um indivíduo, em especial através do delicado fenômeno da alteração retroativa de eventos passados – ou seja, como eles podem ser tornados mais alegres ou amargos, alterados em si próprios por existirem apenas na medida em que são recordados — Brilho eterno de uma mente sem lembranças constrói um excelente debate. Feito admirável, afinal a discussão poderia se perder em clichês vazios (vide A Vida em Si, de 2018) e não o faz — o crucial é a compreensão de que não se trata de mera mudança da análise que se faz do evento, posto que, na realidade, ele deixa de ser fixo uma vez que já se encerrou. Metaforizado na sequência em que Joel viaja com Clementine por sua memória, o conceito é muito bem expresso.

Nem tudo, porém, são flores. As infrações éticas apresentadas são extremamente óbvias, afinal a maneira com que Dr. Howard trata sua secretária (ou a equivalente situação entre Patrick e Clementine) é condenável pela omissão de informações a que as personagens teriam direito, proporcionada pela sua vulnerabilidade devida à amnésia; não é muito diferente de se aproveitar de alguém alcoolizado, banal em relação às demais ponderações interessantes que a obra traz.

A tese do filme nunca é perdida de vista: o fato de que ao revisitarmos nossas memórias saímos de nossa perspectiva inicial por já termos vivido experiências posteriores, sermos já outras pessoas, está presente em toda a narrativa. Joel começa a sua jornada revivendo a sala da clínica em que esteve na mesma manhã, mas há duas versões dele no cômodo — ele está fora de seu eu passado, e esse descompasso só aumenta à medida que as recordações mais distantes são acessadas. Eis a raiz do arrependimento, cerne de Brilho eterno de uma mente sem lembranças

Nota: 8,5
Laura Carmieletto Saran
Engenharia Química, 1º ano.

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