O Politécnico optou: análise de optativas (3ª edição)

Imagem de Júpiter capturada pelo telescópio Hubble (Reprodução/NASA)

A graduação às vezes pode parecer um labirinto. Mais difícil decifrar os caminhos para seguir até o fim do que, de fato, trilhar algum deles. Entre um emaranhado de opções, extensões, anseios e obrigações, nem sempre é fácil fazer as mais simples escolhas.
Com todas as decisões exigidas pela graduação, é natural se sentir confuso ou perdido. Mas, para sua sorte, O Politécnico Optou está de volta para te ajudar nessa jornada!
Escolher uma disciplina optativa pode ser uma interrogação gigante na mente exausta do politécnico. Uma matéria com uma proposta interessantíssima acaba por ser sufocante, enquanto uma que você sequer cogitaria se matricular vai ser um dos melhores momentos da sua semana. Para ajudar com isso, convidamos (por livre e espontânea pressão) alguns colegas dispostos a compartilharem suas experiências e alegrias (ou sofrimentos) com disciplinas optativas.
Você já pensou em fazer uma disciplina de literatura africana? O quanto o refino de petróleo pode te interessar? Análise real te assusta? Pesquisas e metodologia científica parecem ser sua praia? Então esse texto é para você!
Caso alguma disciplina sobre a qual você queira informações não esteja aqui, você pode ler as edições anteriores da coluna no site do jornal (1ª edição e 2ª edição)! Além disso, aproveite para deixar suas sugestões de disciplinas e para participar da quarta edição do O Politécnico Optou!
Vale lembrar que o período de primeira interação de matrícula para o segundo semestre vai do dia 4 ao dia 11 de julho!


Álcool, Saúde e Sociedade (PRG0011)
(2 créditos-aula e 1 crédito-trabalho)

Com caráter informativo, essa é uma disciplina que conta com uma série de videoaulas de temas dos mais variados sobre como o consumo de álcool pode afetar nossas vidas, não só no sentido de “consequências”, mas também no que diz respeito a questões biológicas e químicas, o que eu, particularmente, achei muito interessante.
Sobre a avaliação, quando cursei (no segundo semestre de 2020), eram apenas testes no Moodle, que podíamos fazer quantas vezes quiséssemos até gabaritarmos.
Tirando todas as possíveis “piadas” que costumam ser feitas a respeito dessa matéria, vale
ressaltar que ela é bem interessante para quem tem curiosidade sobre o assunto e quer entender um pouco mais sobre seus impactos a partir de uma perspectiva científica.
Dica para matrícula: PRG0001 é uma disciplina pela qual
muitas pessoas têm interesse; então, as vagas são muito
disputadas e preenchidas logo. Vale a pena, inclusive, mandar um e-mail para o coordenador perguntando se ele aceitará
requerimentos (o que geralmente acontece).

Beatriz Bicudo,
Engenharia Elétrica, 4º ano.
Nota: 10,0


Metodologia Científica e Tecnológica (PCC3110)
(2 créditos-aula)

Cursei essa disciplina por recomendação dos meus veteranos, que me haviam feito propaganda positiva, elogiando o programa e a didática aplicada. Infelizmente, acabei sofrendo muito com o seu método avaliativo e com a quantidade de empenho que é necessário para absorver a matéria.
Explicando um pouco mais sobre a disciplina: nela, você aprende sobre os métodos aplicados para fazer pesquisa, quase como se fosse um auxílio para uma futura iniciação científica que você venha a fazer. O professor realmente é apaixonado pelo assunto, o que dá um ar muito positivo às aulas, especialmente se você considera seguir carreira acadêmica ou fazer uma IC.
Contudo, a matéria exige uma dedicação tremenda, com pelo menos duas entregas por aula, o que acaba te sobrecarregando e muitas vezes tirando o gosto pelo aprendizado. As aulas frequentemente extrapolavam o limite de horário e o excesso de trabalhos em grupo acabava por provocar ansiedade antes de qualquer aula.
Em suma, é uma disciplina legal, mas somente se você tiver algum interesse pelo assunto (o que descobri não ser o meu caso). Além disso, não se engane pelo número de créditos no oferecimento, uma vez que a disciplina exige muito mais horas do que o descrito inicialmente.

Rafael Varanda Bernardo,
Engenharia Mecatrônica, 2º ano.
Nota: 5,0

Fiz essa matéria em meu ano de bixete, em uma época turbulenta. Ela exige bastante de você, com entregas semanais e um trabalho pesado para a nota, mas ela entrega tudo o que exige.
Como foi dito, o professor ensina com paixão (alguns de vocês provavelmente o conhecem de PCC3100 — a famosa PCC 1). Além disso, ele explica com detalhes profundos como funciona uma iniciação científica e sobre todos seus caminhos.
Apesar dos pontos negativos citados, acredito que aqueles que têm interesse na área de pesquisa — mesmo que acabem não trilhando esse caminho —, devem gostar bastante.

Samira Paulino dos Santos,
Engenharia de Materiais, 3º ano.
Nota: 7,0


Biblioteca com Função Educativa: a Criança e o Jovem (CBD0277)
(4 créditos-aula)

Cursei no segundo semestre de 2020. Apesar de estarmos num meet às sextas à noite, as aulas eram bem participativas (nada obrigatório, mas a turma interagia bastante), o que dava uma liberdade bem legal para quem queria se aprofundar melhor no assunto.
As discussões eram baseadas em textos disponibilizados previamente (nada muito longo) e eventualmente eram cobradas atividades sobre eles (mas questões bem pontuais). A maior parte da avaliação foi uma apresentação de proposta de atividade para crianças em bibliotecas.

Beatriz Bicudo,
Engenharia Elétrica, 4º ano.
Nota: 10,0


Introdução à Análise Real (MAP0216)
(6 créditos-aula)

Cursei “Introdução à Análise Real” em 2020.2, com o professor Rodrigo Bissacot. Já tinha sido avisado que era uma disciplina extremamente difícil e que alguns alunos da Poli cursavam por conta de ajudar em certos processos de DD na França. Resolvi cursar e foi uma experiência à parte, especialmente porque era bixo.
Não tem pré-requisito, porque você aprende a matemática do básico (literalmente criando o conjunto dos naturais), mas é interessante ter feito Cálculo I.
Resumiria dizendo que a gente aprende coisas muito parecidas com o Cálculo da Poli, mas trocando tudo que os professores dizem “dá pra provar que” por “vamos provar que”. Literalmente tudo, desde como somar até a como integrar.
A disciplina realmente demanda muito do aluno, foi a que mais me dediquei de longe, passava horas fazendo as provas (todas de demonstrações, fuja se não gostar) e as listas (que foram várias) davam pelo menos umas 20 páginas cada. Além disso, eram 6 créditos-aula, mas a aula era excelente, os monitores, muito dedicados e a matéria provavelmente tinha as conclusões mais bonitas que eu aprendi na graduação — uma ode à matemática.

Arthur Belvel Fernandes,
Engenharia Mecânica, 3º ano.
Nota: 9,1


Vibrações Mecânicas (PMI3925)
(2 créditos-aula)

Cursei esta disciplina no segundo semestre de 2021. É uma optativa direcionada à turma de engenharia de petróleo e costumava ser ministrada em Santos, mas com a vinda do curso para cá, é possível que seu próximo oferecimento seja em São Paulo.
Trata-se de uma disciplina que visa mesclar os conceitos de ondulatória aprendidos em Física II com Mecânica I e um pouco de Python. Olhando assim, mas que cria do diabo que parece! Uma mistura perfeita de tudo o que é mais odiado na poli… mas quem acha isso não poderia estar mais enganado!
O professor responsável, até então, pela matéria é um grande anjo chamado Ronaldo Carrion, que (além de ser perfeito) explica muito bem a matéria, e não exige muito dos alunos (quase nada pra ser bem sincero — eu já disse que o Ronaldo é perfeito?).
O método avaliativo se resumia a testinhos curtos semanais, geralmente focados na implementação de um código computacional que simulasse um dado fenômeno oscilatório (é quase que só pegar a equação que ele dá no slide e “plotar” no Python); e mais um último problema, para ser resolvido em duplas, levemente mais complicado, acompanhado de uma pequena apresentação explicando a solução proposta, também devendo ser implementada em código.
No geral, foi uma matéria bem tranquila (inclusive, aprendi mais de Física II nessa optativa do que na própria matéria). Não é tão “coxa” a ponto de poder largar e deixar para estudar tudo de última hora, mas também não exige nada além dos créditos da disciplina. Para os outros três trouxas que (como eu) gostaram de MAC2166 e ficaram com um gostinho de “quero mais”, não poderia recomendar nada melhor.

Henrique Mesquita Marins Uva,
Engenharia de Materiais, 3º ano.
Nota: 9,0


Literaturas Africanas de Língua Portuguesa III (FLC0489)
(2 créditos-aula e 1 crédito-trabalho)

Cursei essa matéria no meu segundo semestre. Pelo menos em 2020, era oferecida para a turma de Letras, inicialmente sem vagas reservadas para optativas livres. Contudo, como não tem pré-requisitos e o professor é bem tranquilo, consegui me matricular por um requerimento simples explicando minhas motivações para cursá-la.
A primeira aula foi bem interessante e abrangente, dando um contexto geral sobre literatura, história e a cultura portuguesa trazida pela colonização na África. As aulas seguintes eram focadas em Cabo Verde (são quatro matérias dessa, cada uma com foco em um país africano de língua portuguesa), por meio da análise literária de livros como Mornas eram as noites, Flagelados do vento leste e Marginais.
A aprovação dependia apenas da avaliação final, já que a presença não era obrigatória. Essa avaliação era a discussão de uma das sete propostas apresentadas. Fiz um texto de seis páginas sobre o tema Por que a revista Claridade é considerada um marco na Literatura de Cabo Verde? O que a distingue de outras manifestações literárias de Cabo Verde? durante uma semana de provas (ou seja, bem na pressa) e consegui passar tranquilamente.
No geral, achei uma matéria muito divertida e esclarecedora, o que permitiu “fugir” um pouco dos números e cálculos da Poli, sem muito trabalho — já que as aulas eram em um tom de conversa e a avaliação dependia apenas do seu entendimento das aulas, sem cobrar muita pesquisa e estudo por fora.

Carolina Mendes Esposito,
Engenharia Civil, 3º ano.
Nota: 10,0


Refino de Petróleo (PMI3916)
(2 créditos-aula)

Uma recomendação especial de uma matéria específica para os caros colegas futuros engenheiros de petróleo foi altamente
sugerida para mim em meu tempo de bixete e futura transferida: “Independentemente do que vocês quiserem para o futuro,
façam”.
E o conselho valeu a pena. Realizei na modalidade remota, mas todos os valores da matéria se mantém. Ela normalmente é conhecida por ser fácil, mas é muito mais do que isso.
O conteúdo é tranquilo mesmo para alunos de outras áreas — para aquela pessoa que decorou a torre de destilação para o vestibular e quer entender mais por trás. As aulas não eram estendidas e, no ensino à distância, eram a alegria das tardes de segundas-feiras.
A professora é um anjo do departamento do PMI e tem uma didática incrível. Ela consegue te aprofundar bastante em algumas partes do conteúdo sem te deixar perdido no meio do caminho.
Antes, a disciplina era restrita para o pessoal de Santos, mas, com a subida do curso, se tornou disponível para toda a Poli.

Samira Paulino dos Santos,
Engenharia de Materiais, 3º ano.
Nota: 9,0


Ambiente e Sustentabilidade de Alimentação (HSA0126)
(2 créditos-aula)

Uma matéria muito interessante e tranquila, que aborda a relação entre a produção de alimentos e suas implicações socioambientais. É disciplina obrigatória da Nutrição, mas os conteúdos abordados são importantes para quem se interessa pelo meio ambiente porque explica conceitos de sustentabilidade, segurança alimentar, agroecologia, gestão de resíduos e saneamento básico, o que eu achei sensacional.
Os professores são ótimos, explicam bem e deixam indicações boas de leituras das aulas. A avaliação foi elaborar um podcast em grupo com alguns temas propostos pelos professores, gostei de fazer porque achei diferente.

Beatriz Machado,
Engenharia Ambiental, 2º ano.
Nota: 9,8


Tópicos de Pesquisa nas Ciências Contemporâneas (PRG0006)
(1 créditos-aula e 2 créditos-trabalho)

Oferecida de forma totalmente remota, conta com questionários e vídeos semanais (de até vinte minutos) que abrangiam tópicos (como evidenciado no título da matéria) de pesquisa nas ciências contemporâneas, como: gravimetria, neurociência computacional e biofotônica. Esses nomes, mesmo que grandes e fora do que vemos na Poli, são explicados de forma simples e didática, já que a matéria é oferecida para toda a USP.
Além disso, 60% da nota é composta com base em um texto de divulgação científica. Sua construção é feita ao longo do semestre com entregas pré-definidas de três versões, avaliadas tanto pelos monitores como por alguns alunos, tornando a experiência ainda mais legal e integrativa (ainda que toda à distância).
Recomendo muito essa matéria por promover o desenvolvimento acadêmico dos alunos, tanto na parte da escrita como nos conhecimentos atuais apresentados. Isso sem contar o fato de ser online e ter atividades que podem ser feitas com uma dedicação de uma a duas horas na semana, que não são difíceis ou muito exigentes em questão de conteúdo e aprofundamento.

Carolina Mendes Esposito,
Engenharia Civil, 3º ano.
Nota: 9,5

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