Longe de casa

De frente com a cidade grande (Reprodução: pxfuel)
Por Bruno Pereira dos Santos — Engenharia Civil, 1° ano.

Quando, no início do ano, eu planejava vir para este povoado desconhecido chamado São Paulo, já imaginava que não seria fácil estar tão longe de casa. No entanto, não houve dor fictícia que conseguisse prever a agonia que a realidade causaria: crises pré-P2, a saudade contínua, a pressão excruciante, a vontade de só voltar para casa… 

Deixar para trás família, amigos, a calma da cidade pequena, tudo em nome da ambição pessoal, tem seu custo e eu ainda não sei até que ponto estou disposto a pagá-lo. Porém, felizmente, meu copo está mais do que meio cheio no momento e, por isso, decidi trazer meu relato dos primeiros três meses que pareceram um ano. Espero que sirva como conforto para algum outro bixo de São Paulo — de qualquer forma, já me serve como um desabafo. 

A minha primeira crise aconteceu já na semana de recepção: finalmente conhecer meus futuros colegas e (se tudo desse certo) amigos era empolgante, assim como também gerava um nervosismo avassalador. Esse medo, de não me encaixar nesse novo mundo, me travou. Afinal, o meu sonho era seguir na tranquilidade do meu ensino médio, com meus amigos numa cidadezinha do interior do Rio Grande do Sul, e não precisar me preocupar com mais nada — assim como todo sonho, não era real. No fim, nem se eu ficasse na minha cidade as coisas seriam assim. Meus amigos também foram para a faculdade, e o ensino médio acabou. Por mais que a gente não queira, a vida passa, e eu precisava segui-la. Doeu, mas me trouxe uma força nova. 

Por sorte, fiz parte do grupo privilegiado que não foi atropelado pela P1 e pela P2. Ainda assim, queria ter todo mundo aqui comigo, até para comemorar. Mas não. Os resultados chegaram e a semana seguiu; afinal, a pressão da Poli não pode parar! Dei meu jeito, comentei com minha família e amigos por videochamada mesmo e ter tido essa chance de compartilhar já melhorou meus dias. No fim, por mais longe que a gente esteja, a conversa a quilômetros de distância já resolve muita coisa e também serve como válvula de escape de quase toda a pressão.

Na semana pré-P2, tive minha última crise até agora: a insegurança de me sentir completamente desinteressante. A universidade está cheia de pessoas incríveis e eu não me sentia uma delas — vai ver era aquela história do jardim mais verde do vizinho. O problema é que, dessa vez, não era algo que eu quisesse compartilhar com quem estava longe. Eu não queria ninguém preocupado comigo. O que me restou (e acho que acabou sendo a escolha correta) foi desabafar com quem eu já tenho intimidade aqui. Todo mundo está lidando com problemas e vai entender que desabafar é fundamental, às vezes até se abrir mais. A Poli é uma nova casa, devemos nos sentir bem dentro dela; portanto, criar conexões é uma das melhores atitudes a se tomar.

Hoje, já estou muito mais confiante sobre minhas decisões, porém não tenho certeza do que o futuro trará. E se vierem crises ainda piores? E se eu perceber que não é o que eu quero? E se eu me sentir sozinho demais? Estou com meu plano B guardado aqui comigo: dou meia-volta e começo tudo de novo. Somos jovens ainda, a maior parte dos bixos ainda tem menos de 21 anos, e não temos qualquer obrigação de chegar aos 25 graduados. Sendo bem sincero, não somos nem obrigados a nos graduarmos, mas entendo a pressão, os sonhos e a preocupação com a carreira profissional que nos levam a esse caminho. 

Foram essas pequenas lições que fui aprendendo na minha curta estadia nesta terra desconhecida. A saudade em si não passou, mas me fez valorizar muito mais quem sempre esteve comigo e sei que, no curto espaço das férias, vou aproveitar como se fosse um ano todo a presença de todo mundo que me faz bem. Simultaneamente, também tento aproveitar essa nova vida que São Paulo nos traz para ter novas experiências, me dedicar a outros objetivos e hobbies e criar novos espaços de confiança assim como os que eu tinha em casa.

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