A todas as flores do nosso jardim

Por Diego Roiphe de Castro e Melo (Engenharia Civil, 1º ano)

O mês de maio abriu as flores do outono. Mas a queda das espatódeas apagadas ao chão trouxe de uma vez todo o peso da morte. O peso da falta de eternidade. 

Queria poder voltar a me convencer de que há gente que não vai, não pode, não deveria poder morrer. O vazio tem um peso enorme, e eu não acho alça para segurá-lo.

Miró, o poeta, dizia que “todos os dias o ônibus de Deus vem buscar alguns”. É quase angustiante. Mas me conforta, de algum jeito. Espero que ele, agora no banco do passageiro, ao lado do motorista, receba com carinho aqueles que vão – que sempre irão. E os contagie com seu alegrismo. 

E lá, no infinito, que ele dê um passe – honrando seu apelido –, tabele e comemore o gol com o Roberto Dinamite, e com o Pelé. 

Que declame versos eternos com a Cleonice Berardinelli. Invente uma nova gramática com a Maria Helena de Moura Neves. Converse bem e seja entrevistado pela Glória Maria. Dê motivo a uma charge do Paulo Caruso. Prove da culinária da Palmirinha. Aprecie um show da Rita Lee, da Tina Turner, da Astrud Gilberto.

Que se sente e leia um livro com José Pinho.

Que ele cumprimente a todos, sorrindo.

Que toque e console os corações dos que vão e dos que ficam.

Essa é uma singela homenagem, um agradecimento, às flores que, não só nesse mês de maio, se desprenderam da árvore das espatódeas, mas que, não deitando-se ao chão, subiram e voaram, como fogos acesos, para o infinito…

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