[NOTA DOS EDITORES: o presente texto foi publicado na segunda edição de 2023 (e está disposto abaixo tal qual foi escrito, em junho de 2023) e terá uma continuação e atualização na segunda edição deste ano, que sairá em breve]
Por Vinícius Murbach (Engenharia de Materiais, 3º ano) e Bruno Pereira dos Santos (Engenharia Civil, 3º ano)
Não é incomum ouvir pelos corredores da Poli e nos círculos de amizade desabafos sobre a forma rígida – e, por vezes, incompreensível – como os cursos e avaliações são estruturados em nossa Escola.
De fato, também eu admito não entender muito bem por que um engenheiro de produção que quer trabalhar no mercado financeiro ou em logística deveria se preocupar com a equação de Schrödinger: E as provas? Essas atividades – que mais parecem desafios de caricatos programas de auditório nos quais os participantes devem tentar realizar o máximo de tarefas absurdas em um tempo quase infinitesimal – frequentemente falham em avaliar a real aprendizagem e as capacidades desenvolvidas (ou não) pelas disciplinas. No entanto, essa realidade pode estar prestes a mudar para melhor:
Em 2019, o MEC baixou uma resolução alterando as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para os cursos de engenharia em todo o país. Em termos simples, foi determinado que os cursos sejam estruturados com base não mais em conteúdos que o aluno deve ter aprendido durante sua graduação, mas, sim, em competências e habilidades que deve possuir quando formado, de acordo com o perfil do egresso almejado pela Escola para cada habilitação.
À primeira vista, essa mudança pode parecer mera filigrana burocrática. Todavia, se levada a cabo com determinação e seriedade, pode implicar profundas e positivas mudanças em nossos cursos. Ocorre que, sendo o foco dos cursos as competências que os alunos devem desenvolver – competências essas distintas para cada habilitação -, a estrutura rígida acima mencionada deixa de necessariamente ter de existir como é. Obviamente, algum liame comum aos cursos há de haver; afinal, estamos todos na mesma Escola. Entretanto, uma nova estrutura bem mais flexível deve resultar da implementação dessas novas diretrizes.
Mais uma vez: e as provas? Já se constatou que avaliações como as que temos hoje são incapazes de sondar o aprendizado em toda a sua amplitude. Quando o foco dos cursos passa a ser desenvolver competências, isso se torna ainda mais verdadeiro. As novas DCNs devem acelerar um movimento positivo que já podemos ver em algumas poucas disciplinas da Poli, qual seja, a adoção de um método de aprendizagem ativa, com avaliações continuadas e de vários naipes, de modo que sejam capazes de realmente diagnosticar a evolução dos alunos no seu desenvolvimento de habilidades.
As novas DCNs devem, sim, trazer mudanças significativas e positivas no cenário acadêmico politécnico, mas, por ora, basta de futurologia. Atenhamo-nos ao presente: como estão as movimentações para a implementação dessas diretrizes?
Desnecessário dizer que essa implementação, que causará mudanças significativas nas vidas de milhares de alunos, é extremamente complexa e deve ser tocada com cuidado. De fato, é o que temos visto. Desde o ano passado, a Comissão de Graduação (CG) vem estudando, em 6 grupos de trabalho, diversas implicações e medidas necessárias à correta adoção das novas DCNs. Esses grupos estudam desde as metodologias de avaliações e aulas até tópicos como acolhimento e tutoria. No estágio atual, há um trabalho conjunto entre a CG e as Comissões de Coordenação de Curso (CoCs) para que cada curso defina as competências e habilidades que deseja desenvolver em seus respectivos alunos, produzindo um projeto pedagógico com base nas orientações e estudos dos grupos de trabalho acima citados. Alguns cursos, como a Elétrica e a Química, estão mais avançados nesse processo e devem contar com turmas-piloto já no próximo ano.
Atualmente, os grupos de trabalho ímpares (GT01, GT03 e GT05) estão elaborando documentos para serem dirigidos à CG e às COCs, que possuem como temas: perfil do egresso, competências e habilidades; metodologias e estratégias; e avaliação de atividades; além do GT02, elaboração do projeto pedagógico. Tais trabalhos servirão como base para os professores adaptarem e trazerem propostas sobre o método de ensino e avaliação em suas CoCs e departamentos, levando suas propostas e dúvidas à CG, retroalimentando o processo de desenvolvimento das DCNs. Os GTs pares ainda trarão seus materiais em momentos futuros, já a finalização de todo o processo da formulação das DCNs ficará para o ano que vem, por meados da metade do ano.
“Mas, se essas DCNs são uma mudança para o futuro e serão necessariamente implementadas, qual a importância de nós, alunos, as discutirmos agora?”, você pode estar se perguntando. De fato, os trabalhos para essa implementação já estão ocorrendo, mas os termos em que ela ocorrerá ainda estão sendo estudados. Nesse sentido, há – conforme ressaltaram os professores Antonio Seabra (presidente da CG) e Gustavo Rehder (coordenador da CoC-Elétrica) na reunião do grupo de trabalho sobre atualização da estrutura curricular do 6° Congresso dos estudantes da Poli – grande interesse em que os estudantes participem ativamente dessa discussão, de modo que os grupos de trabalho da CG estão abertos a alunos (ainda que não sejam representantes discentes) e algumas CoCs têm realizado reuniões abertas a discentes sobre essa temática.
Em síntese, as novas DCNs vêm nos dar esperança de ver reais mudanças há muito almejadas em nossa Escola, tornando-a mais moderna, acolhedora e efetiva no seu propósito de formar engenheiros e líderes para o século XXI. Cumpre-nos, agora, participar ativamente dessa discussão, fornecendo a nossa visão como estudantes, para que a implementação dessas novas diretrizes ocorra da melhor maneira possível e realmente realize as alterações positivas e necessárias a que se propõe.
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