Política de Papai Noel

Por Bruno Nicola Viola Ladosky (Engenharia da Computação, 2º ano)

Quando a professora pediu uma redação em um gênero meio estranho, aquele menino, que estava lendo uma saga de fantasia, sentiu-se na beira de um precipício de magia arcaica poderosíssima. Começava com “Prezado”, no gênero que se quisesse – ou “Caro”, apesar de a natureza daquele ritual fazer “Caro” parecer completamente inapropriado – seguido de uma invocação pelo nome de seu alvo e voilà! Uma transmissão direta a qualquer pessoa do mundo!
“Cartas”. Estranhou ouvir o nome assim. Quando escrevia para o Papai Noel, sempre tinha ouvido que eram “cartinhas”, mas parecia que todos ao seu redor tentavam esconder seu poder em nomezinhos fofos e inocentes – de fato, até depois de conhecer as artes da cartação (ou cartinhosidade?), parecia que todos faziam descaso demais com o que permitia comunicação instantânea até com a Antártica, esses loucos! Esperou a correção das redações, imaginando que iluminariam seu caminho como mero aprendiz – recebeu um 8 por descontos de ortografia e logo seguiram ao próximo gênero (coisa bem chata como crônicas ou algo assim). Verdadeiramente, era preocupante o estado da educação neste país. Tinha que fazer algo.
Começou pequeno: “Prezada professora,” já servia de encantação, agora era pensar no que escrever e como acabar. O corpo da mensagem era fácil – afinal, só precisou pesquisar na internet as palavras mais chiques para reclamar da atitude vergonhosa de uma educadora em ser cúmplice de um sistema que inunda seus jovens em ignorância e desinformação dentro de um discurso disciplinante, e, ainda por cima, de ter-lhe dado só um 8. O que ela o tinha conseguido ensinar, porém, é que a carta acabava quando assinasse; aí estaria pronta para o envio, que é uma forma meio enganosa de dizer que ela já chegou, claro. Criou coragem para finalmente escrever “Assinado, Eu”. Pronto! Ela já devia estar em prantos.
Tinha pegado o jeito: “Prezado diretor,”. Explicou que ele deveria se sentir ultrag… ultrag… ultrajado, completamente ultrag-jado. Era tão chato ir à escola, só para eles nem aprenderem nada? Insultante. “Assinado, Eu”. Ele devia estar pedindo demissão, envergonhado.
“Prezados políticos,

Que venha a revolução. Se matem.

Assinado,
Eu”
Ao entrar em seu quarto, sua mãe lhe perguntou o que esteve fazendo com tanto papel A4; não pôde conter risadas diante da resposta do filho. Prontamente o explicou como as cartas realmente funcionavam, recebendo de volta um olhar inconformado de alguém que tinha acabado de perder toda a sua ambição política. Entretanto, ela pensou, até que sua raiva, antes se fazendo prestes a explodir, acalmou bem quando ele pareceu ter uma epifania no meio de sua explicação. Surpreendeu-se, porém, com o que chegou a escrever quando veio o natal:
“Caro Papai Noel,

Que venha a revolução. Mate os políticos.

Assinado,
Eu”

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