O Politécnico viu: They Live

They Live (Aos patriotas, Eles Vivem) é um filme de ação e ficção científica lançado em 1988. Com seu modesto orçamento de 3 milhões de dólares e direção de John Carpenter (ele mesmo, o diretor de Halloween!), o clássico cult acompanha a trajetória de John Nada, interpretado por Roddy Piper (sim, fã de luta livre, o lutador dos anos 80), em sua tentativa de começar uma vida nova em Los Angeles. Após eventos que impedem que sua nova jornada seja considerada normal, John encontra um curioso par de óculos escuros que o permite enxergar, embora com ausência de cor, a forma real de algumas pessoas e mensagens subliminares nos mais diversos anúncios.

Apesar da aparência semelhante a outros filmes do gênero, o longa se difere por seu teor filosófico e provoca reflexões no telespectador.


Quando penso em They Live, gosto de comparar o filme a uma redação de simulado de vestibular no ensino médio. Muito específico? Sim, mas permita-me explicar.

A não ser que você tenha viajado no tempo e aproveitado para ter aulas de dissertação com Ruy Barbosa, suas primeiras redações não foram perfeitas. Lembro muito bem de um padrão nos meus textos entre o primeiro e o segundo ano do ensino médio. A introdução é grande, épica, cheia de referências e jogos de palavras. 10 linhas de muita elaboração para chegar a uma ideia sobre o tema. Começa então o desenvolvimento do texto: o segundo parágrafo (D1 para os vestibulandos) é a chance para discorrer quase tudo o que a introdução me levou a pensar, totalizando então 8 linhas. O D2 é naturalmente mais fraco: tem conteúdo, mas muito menos do que os parágrafos anteriores. Enrolando um pouco mais, é possível terminar com 7 linhas. O tempo está acabando, mas ainda falta a conclusão. E você só tem mais 5 linhas! Solução? Conclui o texto com algo não muito elaborado, você já gastou todo o conteúdo.

Essa retrospectiva combina muito com a minha visão sobre They Live. Seu início facilmente provoca o pensamento: carinha de cult! A dinâmica de classes e a semelhança com o Mito da Caverna de Platão sugeridas em momentos como a icônica frase “They live, we sleep” deixa qualquer pseudo-cinéfilo (incluindo quem vos escreve) animado com o que há de vir. Mas depois que toda essa filosofia é apresentada, a criatividade das mentes por trás da obra parece diminuir, e para não deixar o filme com apenas 1 hora de duração o modelo genérico de filmes de ação dos anos 80 é acrescentado na fórmula. A conclusão da história não é ruim, mas é corrida, como se só sobrassem 5 linhas no script.

Então, o filme é ruim? Não! Ele por pouco não é incrível. Seu problema é muito potencial gasto de forma curta. They Live, não é perfeito, mas é um ótimo cult para assistir com seus amigos, refletir e rir um pouco dos furos.

Nota: 7,5
Murilo Noronha,
Engenharia de Produção, 1° ano.


Como explicar They Live? Imagine que ao sair do banho você teve uma ideia (que você julga) fantástica para algum projeto. Por alguns instantes, você tem certeza, que isso era o que faltava para o mundo caminhar, graças aos 5 minutos de água desperdiçados num banho excessivamente longo você salvará toda a espécie humana (e o planeta, se bobear).

Pessoas normais logo perceberiam o delírio e voltariam a viver suas vidas monótonas, mas não a equipe de They Live. O diretor, num lapso de inspiração adolescente, decidiu fazer um filme de ação diferente dos demais filmes de ação. Iria transmitir não só socos e chutes, mas também consciência social.

Acredito que o filme funciona como uma espécie de Cavalo de Troia. A equipe se infiltrou nos sets hollywoodianos para gravar uma crítica ao próprio sistema capitalista (e lucrar um pouco com isso, porque afinal, ninguém é de ferro). Nunca imaginei que alguém conseguiria relacionar o mito da caverna de Platão com uma cena de ação mal coreografada, mas esse filme fez isso e muito mais, e toda essa dualidade é o que o torna tão especial!

They Live é um sonho, uma lição de esperança. Talvez o verdadeiro significado do título “Eles vivem” tenha mais a ver com a equipe de direção do que com o próprio enredo do filme. Afinal, se levar um roteiro completamente esquizofrênico com uma quantidade pornográfica de furos para produzir um filme nos maiores centros de cinema do mundo não é “viver”, eu não sei o que é.

Nota: 8,5
Rafael Varanda,
Engenharia Mecatrônica, 1º ano.


They Live é muito conhecido por sua mensagem. É comum, inclusive, encontrar quem defenda a qualidade do longa com base na reflexão proposta por ele, o que não deixa de ser curioso, uma vez que ela, por si só, não é capaz de tal feito. Para um e-mail, uma boa mensagem basta. Para uma crítica de jornal, talvez, ela também seja suficiente. Para um filme, não. É preciso muito mais.

Não me leve a mal, é claro que a mensagem de um filme é importante, mas é muito comum se deparar com ótimas mensagens em obras horrorosas (e vice-versa). Sendo assim, They Live não seria tão bom caso não possuísse outros elementos tão bem construídos. A começar por sua trilha sonora, marcante e original, que dita o ritmo do filme, ajudando-o a contar sua história e a imergir o espectador no universo da obra. Há, também, o ótimo roteiro, o qual conta com cenas e frases memoráveis, como “I have come here to chew bubblegum and kick ass. And I’m all out of bubblegum” (tradução: surreal de tão bom).

Como se não bastasse, They Live é visualmente espetacular, sendo capaz de manter a atenção do espectador mesmo nas cenas que utilizam efeitos especiais datados. Além disso, a narrativa é construída de tal maneira que a impressão transmitida é que não haveria como contar outra história que não essa.

Por fim, há, claro, a mensagem, explicitamente poderosa, ainda que haja metáforas e metalinguagens no subtexto da obra, garantindo ao espectador a possibilidade de encontrar novos significados a cada sessão. Note que a mensagem é, sim, valiosa, mas se trata apenas da cereja do bolo, e não dele inteiro.

Resumindo: They Live é um filmaço. Se você nunca o viu, pare tudo o que está fazendo e vá assistir. Se você já o viu, pare tudo o que está fazendo e vá assistir. 

É sério.
Obedeça.

Nota: 8,5
Mateus Pina,
Engenharia Mecatrônica, 1º ano.


De uma premissa intrigante a um final genérico de ação, este filme consegue facilmente chamar a sua atenção e com cenas iniciais bem dirigidas, como é a cena da polícia invadindo o local ou as transmissões da televisão do grupo de resistência, mas, ao estilo DeMonaco, parece apostar em uma ação totalmente desnecessária e fraca. Não conheço sobre os bastidores, mas parece muito interferência para tentar agradar ao público estadunidense e tentar lucrar mais e, se for verdade, é muito irônico a situação!

Outro ponto positivo é a sua trilha sonora que consegue passar o clima da cena, com músicas que ao ouvir remete muito aos anos 80. Já a atuação é aquela coisa, nem fede nem cheira, mesmo com personagens genéricos e estereotipados, isso pode incomodar algumas pessoas.

No fim acho, no geral, um filme decepcionante e que falha para os diferentes propósitos, na questão de criticar o controle do capitalismo não é devidamente explorada e, mais para o final do filme, quase que totalmente ignorada, já como um filme de entretenimento e pancadaria é totalmente genérica e previsível e, na minha opinião, existem opções melhores para ambos os casos.

Nota: 3,7
Maikon Yukio,
Engenharia Civil, 4º ano.


Os primeiros resultados relacionados ao filme They Live na pesquisa do Google (após a página da Wikipédia, claro), são artigos de opinião dissertando sobre como o filme é uma ótima crítica à sociedade atual, e como é importante a profunda mensagem de que somos manipulados pelo dinheiro e pelas propagandas. É decepcionante então, para mim que vejo o filme em 2021, que toda essa crítica se resuma a dizer que as propagandas tem o objetivo de manipular você a consumir certo produto, ou que o dinheiro controla grande parte da nossa vida. Isso já não é surpresa nenhuma e não tem nada de muito profundo, de forma que assistir o filme pela trilha sonora, ação, aliens e efeitos especiais antigos valeu muito mais a pena do que por esse status cult de reflexão sobre  a sociedade do consumo.

Não sei qual o impacto dessas críticas em 1988, ano de lançamento do filme, em que talvez dizer essas coisas nos Estados Unidos da América fosse realmente novidade. Mas outra reflexão, mais interessante para o contexto atual do que a ressaltada pelos artigos do Google, seja pensar sobre a reação daqueles que descobrem os planos dos alienígenas, e o que está em jogo para cada um deles. Há quem se preocupe com a sua segurança, ou a de seus amigos e familiares e por isso decide se abster, há quem ache que “se isso já acontece independente de mim, é melhor que pelo menos eu me beneficie de algum modo da situação”,  e por fim, há quem trabalha para a manutenção do esquema, e prefere manter sua posição a arriscar viver sem ela. Creio que situações como essa, em que nos vemos em posição de tomar decisões importantes e pesar como nossos valores conflitam com as alternativas possíveis são muito comuns, e sempre difíceis de lidar com. 

Se você decidir assistir They Live com o propósito de retirar reflexões dele, tente reparar mais nos caminhos individuais dos personagens do que nas críticas à sociedade, embora ainda acho que o filme não deve ser encarado com toda essa seriedade e profundidade que algumas pessoas tentam atribuir a ele.

Nota: 5
Beatriz Toscano,
Engenharia Ambiental, 1º ano.


They Live é um filme, antes de tudo, sem foco. Passando por momentos de epifania, ação, romance e comédia, a impressão que fica é que em todos esses aspectos o filme nada no raso, principalmente nos aspectos que diferenciam o filme de produções comuns da época. Quando o protagonista veste o óculos temos um “momento 1984” (o que me deixou um tanto “nhe”, por não aguentar mais referências a esse livro), mas que acabara rapidamente para dar espaço à narrativa principal dos aliens. Na parte de ação, temos mais do mesmo e eu gosto dessa porradaria generalizada. O romance, ainda que traga a Meg Foster, é dos mais mal feitos que já vi e caminha para um fim óbvio. Já a comédia acaba salvando o filme em diversos momentos.

Apesar desses grandes problemas, não é um filme vazio. Na verdade, They Live traz ótimos pontos que, por muitas vezes, ficam à tona por minutos na tela. Como logo no começo, que temos a ação da polícia truculenta para desocupar uma propriedade e, no fim, uma polícia que “vem para matar”, a serviço das pessoas “especiais”. Além desse aspecto, temos uma cena que apresenta, quase que literalmente, alguém lutando para “se manter na caverna”: nada de comer bife ao invés de gororoba, aqui é porradaria pura por 10 minutos. Já nos últimos minutos de filme, outra verdade à tona no filme é: o chefe vai se vender para o sistema, mas os operários não se vendem. Por fim, o protagonista morre por ser gado (ou dá a vida pela causa, entenda como quiser). 

Nota: 7
Arthur Belvel,
Engenharia Mecânica, 2º ano.

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