Desastres: como afetam a vida e a arte

Nos últimos dias fomos bombardeados por fotos incríveis do pôr do sol. Um incrível pôr do sol alaranjado, num céu de nuvens vermelhas como fogo, digno das mais incríveis pinturas. Mas o que pode ter causado isso? Poluição? Dado que o país está em grande parte parado, o que levou a uma drástica queda dos índices que medem a isso, é improvável.

Por acaso, poucos dias antes desses pôres do sol, ocorreu a erupção do enorme vulcão Anak Krakatoa, o que pode ter sido responsável por essa repentina mudança tão acentuada nos céus. Não seria a primeira vez, visto que em 1883 ocorreu algo muito parecido. Na época, o enorme vulcão sofreu uma erupção tão violenta que a explosão pôde ser ouvida a 5 mil Km de distância. Mas mais importante que isso, ele expeliu tantas cinzas, que essas se espalharam por todo o planeta, mudando, momentaneamente, o clima global, que só retornou à normalidade após 5 anos, e mudou até mesmo o padrão de cores das auroras e dos crepúsculos, o que foi causada pelas partículas de cinza suspensas no ar.

Devido a isso, foi levantada a questão: como um vulcão situado na Indonésia foi capaz de promover tantas mudanças em todo o planeta?

E foi a partir disso que foram estudadas e descobertas as correntes de ar atmosféricas e como elas afetam no nosso dia a dia e, muito provavelmente, tenha sido a primeira vez que a humanidade entendeu que o mundo é interconectado e governado por forças globais, o que nos permitiu compreender de maneira mais assertiva fatos como o aquecimento global e a elevação dos mares, além de permitir uma análise mais factível de outros fenômenos que ocorreram no passado de nosso planeta. Foi também a primeira vez em que uma notícia rodou tão rápido o globo, chegando a Londres em apenas 4 minutos, sendo considerado por alguns como o marco inicial da globalização.

Outra influência da erupção de 1883 foi no campo das artes. Diversas pinturas e obras de arte foram inspiradas nessas auroras e crepúsculos. Acredita-se, inclusive, que a obra “O Grito”, de Edvard Munch, por exemplo, tenha tido influências desse evento.

Outro momento que gerou grandes mudanças na sociedade foi a Peste Negra. Após esse acontecimento, a humanidade passou por diversas transformações que, segundo muitos foram desencadeadas pela Pandemia. Depois desse período, a sociedade passou a ter um novo olhar sobre o mundo e a sociedade, o que levou a um maior respeito pela ciência, além de uma mudança nas formas de expressão da arte e sua admiração. Para muitos, esse foi o início do Renascimento na Europa. A Peste também mudou irrevogavelmente a estrutura social da Europa, sendo um duro golpe à Igreja Católica, além de ter desencadeado diversas revoltas camponesas.

Mas por que esse assunto é importante?

Em diversos outros momentos de nossa história, desastres naturais e grandes crises econômicas foram catalisadoras de grandes descobertas e mudanças na forma de enxergarmos e pensarmos o mundo e a vida e, sem nenhuma dúvida, com o avanço do Covid-19 estamos de frente com um desses momentos.

Em um mundo que vive de forma tão acelerada e no qual somos constantemente bombardeados com uma quantidade absurda de informação, se torna habitual que diversas coisas passem despercebidas por nossos olhos. É somente quando somos forçados a parar por um período que começamos a perceber diversas coisas que ocorrem à nossa volta, o que me leva a uma grande pergunta: o que temos perdido durante todo esse tempo? O que deixamos de apreciar? O que ignoramos mesmo estando diante dos nossos olhos todos os dias?

O confinamento gerado pelo Coronavírus foi para alguns uma oportunidade de revisar diversas coisas dentro de suas próprias vidas. Permitiu que muitos de nós pudéssemos passar mais tempo com nossas famílias e perceber que já há algum tempo não fazíamos isso. Permitiu que notássemos e apreciássemos coisas as quais não tínhamos tempo de notar (como o incrível pôr do sol que há pouco presenciamos, por exemplo). Por outro lado, nos fez também ficar longe de nossos amigos e de nossas rotinas, nos fazendo perceber o quanto esses são importantes na nossa vida. Nós, que tanto reclamamos de nosso cotidiano, agora sentimos falta do mesmo!

Porém, por outro lado, essa crise também revela o que há de pior em nossa sociedade. A desigualdade para qual muitos preferiam fechar os olhos, está agora mais evidente do que nunca. Enquanto muitos de nós cidadãos estamos confortáveis em nossa casa, sem nenhum tipo de carência socioeconômica, outros tantos se encontram em situações extremamente precárias. Como alguém que mora em um lugar onde mal chega a água se previne do vírus? Como trabalhadores autônomos sem reservas financeiras se mantém por meses em uma quarentena?

É nesse cenário que cada um de nós devemos refletir sobre qual o impacto que estamos gerando em nossa sociedade. Em muitos outros momentos de crise e de desastres a humanidade emergiu com novos valores e conceitos e com essa nova crise, novas oportunidades de aprendermos e nos reinventarmos surgem. Qual sociedade seremos após isso tudo? Qual a sociedade que queremos ser?

Giovanni Silveira
Engenharia de Minas, 3°ano

Referências:
https://bbc.in/3bbdIcM
https://escolaeducacao.com.br/peste-negra/

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