Entre os dias 23 e 25 desse mês ocorrerá o Draft 2020 da NFL (National Football League). O Draft é um evento anual em que os 32 times de futebol americano podem selecionar jogadores vindos do futebol americano universitário. Esse é o evento mais importante da intertemporada devido à sua relevância para as equipes, sendo assim uma grande cerimônia rodeada pelos apreciadores do esporte e por grandes personalidades.
O evento, televisionado para diversos países, normalmente, ocorria em uma grande cidade nos Estados Unidos e tinha uma grande presença de público, entretanto, esse ano está ocorrendo remotamente devido à crise gerada pelo COVID-19.
O único pré-requisito para se tornar elegível ao Draft é ter terminado ou estar afastado do ensino médio há pelo menos três anos. Durante esse hiato, os jogadores costumam jogar por times universitários para aprimorar suas habilidades e terem mais exposição aos times da NFL. Dessa forma, o Draft permite que os fãs continuem acompanhando o desenvolvimento desses atletas, agora no nível profissional.
A dinâmica do Draft é simples, ele é composto de sete rodadas e em cada rodada são selecionados trinta e dois jogadores, assim temos as escolhas de número 1 a 224 (devido às escolhas compensatórias são 256 no total). Em cada pick um time encaminha o nome do jogador escolhido para os responsáveis do evento e ele é anunciado em frente ao público.
De início, cada um dos trinta e dois times possuem uma escolha em cada rodada. E é de interesse dos times escolherem o mais cedo possível para conseguirem ter mais chance de selecionar os melhores jogadores. Todavia, é possível que os times troquem escolhas entre si e que hajam mudanças na ordem original de seleção. As trocas normalmente envolvem jogadores dos times e outras escolhas do Draft.
É a possibilidade de trocas entres os times que torna o Draft um evento tão intrigante e cativante, e que o transforma quase em um jogo de xadrez entre os General Managers (responsáveis pelas escolhas do Draft) de cada time.
O Draft da NFL ocorre desde 1936 e foi uma solução encontrada para gerar mais competitividade no esporte e evitar que alguns times acabassem sendo dominados por outros. A proposta era que os piores times em uma temporada fossem os primeiros a escolher no Draft do ano seguinte, e essa ideia é utilizada até hoje.
A primeira escolha geral é feita, se não houver trocas, pelo pior time na temporada passada, a segunda escolha é feita pelo segundo pior time na temporada e assim sucessivamente, até o atual campeão ser o último a escolher. Dessa forma, os melhores jogadores são selecionados pelos piores times, o que acaba gerando um equilíbrio entre os times.
E qual a importância do Draft para os times? O Draft é a principal forma que os times têm para reforçar o seu plantel, é por meio dessas escolhas que os times conseguem agregar em suas equipes jogadores novos e em ascensão por um baixo valor de contrato.
Existem diversos exemplos de times que subiram de patamar de um ano para o outro por meio da seleção de jogadores no Draft. Em 2018 o San Francisco 49ers teve um retrospecto de 4 vitórias em 16 jogos, entretanto, em 2019 eles venceram 13 dos 16 jogos disputados e foram vices campeões da liga. Esse salto de qualidade é atribuído diretamente à aquisição de jogadores no Draft como Nick Bosa e Deebo Samuel.
Por ser um evento anual, o Draft é um momento muito esperado pelos General Managers. Os times se preparam muito para a chegada desse dia, eles estudam (muito) os jogadores elegíveis, suas qualidades, fraquezas, histórico de lesão e até fazem ponderações de aspectos intangíveis como relacionamento com outros companheiros.
Após esse período de análise, os times decidem se o jogador é um talento de primeira, segunda ou última rodada e se planejam para eventuais cenários no dia do Draft. Eles também avaliam as deficiências atuais de suas (e outras) equipes, analisam contratos futuros, planejam as escolhas, tudo para que os atletas selecionados sejam os que tragam melhores resultados.
As escolhas no Draft possuem valor, uma escolha de primeira rodada vale mais que uma de segunda, e a primeira escolha da rodada vale mais que a vigésima. Assim, quem escolhe primeiro pode selecionar um jogador melhor e se reforçar com mais peças de qualidade.
Para compreender melhor a importância das escolhas devemos entender que existem diversas posições no futebol americano, e que algumas acabam sendo mais importantes que outras. Um Quarterback (principal jogador do ataque) tem mais poder de decisão que um Punter (jogador do time de especialista que faz o chute de devolução), dessa forma, a posição de Quarterback é mais solicitada que a de Punter e o seu valor no Draft acaba sendo maior.
Desse modo, usando conceitos de oferta e demanda, elasticidade e custo de oportunidade é possível analisar o Draft de uma forma mais interessante. Quando chega o momento de um time fazer a sua escolha, ele realiza uma série de ponderações para avaliar se o jogador escolhido realmente deve ser selecionado naquele momento.
Logo, o time irá analisar elenco atual, os jogadores elegíveis, as carências de outras equipes e a qualidade do jogador estudado. Se o time concluir que faz sentido selecionar aquele jogador e que o custo benéfico é o melhor possível, ele será selecionado, entretanto, se a equipe avaliar que existem opções mais vantajosas, ela irá realizar uma troca e tentará obter melhores ganhos com aquela escolha.
Às vezes alguns times acabam se encantando por algum jogador e acreditam que ele pode ser essencial para equipe, mesmo que outras equipes ou especialistas tenham opiniões diferentes. Quando ocorre esse encantamento essas equipes selecionam o jogador antes da hora e perdem a oportunidade de selecionar um jogador melhor ou fazem trocas exorbitantes para melhorarem suas posições.
Assim, o Draft acaba virando um mercado, onde as escolhas são os bens mais valiosos. Caso o time tenha um bom planejamento e pondere de forma correta em relação as várias variáveis, poderá obter ganhos substanciais em trocas, acumulando escolhas em rodadas anteriores ou trocando por jogadores que já estão na liga.
Resumindo, o Draft é um jogo de estratégia jogado pelos General Managers, em que estes precisam entender que a sua ação irá refletir em todas as escolhas subsequentes. Talvez a melhor escolha possível não seja a mais óbvia.
Roberto Araújo,
3° ano, Engenharia Civil
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