Nunca foi fácil. E apesar de todo o progresso, ainda não é. É começar jogando só com garotos. É insistir para provar que é boa o suficiente. É jogar com a blusa apertada da categoria mais nova ou com a blusa larga do masculino. É persistir e implorar para ter a primeira chuteira, a primeira bola; a primeira chance.
Sim, é desse jeito que uma mulher começa no esporte. Logo no início, menos modalidades com turmas femininas, portanto, menos oportunidade de se desenvolver. E para virar profissional, o caminho é mais árduo ainda.
Recentemente, a CBF igualou os salários das seleções feminina e masculina. Um marco para a modalidade no Brasil, com repercussão em todo o mundo. E é assim que deve ser. Mas pensando bem, se todos jogam, treinam, se alimentam e descansam, por que essa diferença existiu em algum momento? A normalização dessa disparidade é tamanha, a ponto de estranharmos que a Marta e o Neymar estejam recebendo a mesma coisa por jogarem na seleção. O fato é que eles nunca deveriam ter sido avaliados de maneira diferente. Inclusive, se fossemos avaliar, teríamos nada menos que uma ganhadora de seis bolas de ouro na comparação.
E na engenharia não é diferente. Somos a minoria da graduação ao mercado de trabalho. A igualdade salarial ainda não foi alcançada. E quantas situações desagradáveis uma engenheira não passa ao longo de sua jornada? São inúmeras as histórias de constrangimento e dificuldades encontradas por uma mulher nesse universo.
O que mais impressiona? A força e a determinação. De quem? Das primeiras. As pioneiras nas áreas predominantemente masculinas. A forma como não desistiram e como continuaram seguindo seus respectivos sonhos é espantoso. Para quem acompanhou o Papo de Atleta, a live com a ex-jogadora da seleção brasileira Marcia Tafarel retrata bem essa situação. Nascida em um tempo em que o futebol feminino era proibido para mulheres, hoje em dia só conseguimos imaginar o que ela passou. Ela conta em como pensou em desistir diversas vezes. As mulheres de hoje ainda pensam nisso, mas assim como Tafa, precisamos persistir. Quantos talentos já não foram perdidos ao longo do tempo por não encontrarem um ambiente confortável para se desenvolver como atleta? É realmente impressionante como as pioneiras não desistiram. Lutaram contra gigantes e ganharam espaço para a mulher no esporte.
Infelizmente, ainda é muito difícil. E o lugar alcançado ainda está longe do ideal.
Maya Moore consegue representar bem isso. Mas, primeiro, vamos falar do grande astro do basquete masculino, Lebron James. Dois ouros olímpicos e três títulos da NBA fazem parte do repertório do astro, que também é reconhecido por ser um grande ativista social na luta contra o racismo. E aposto que você nunca ouviu falar de Maya Moore. Ela conta com dois ouros olímpicos e quatro títulos da WNBA e é considerada uma das maiores jogadoras de basquete da história. Mas o mais impactante não está nos títulos e sim no fato de que ela interrompeu sua carreira aos 29 anos para lutar por uma causa: uma prisão injusta de um homem negro, condenado a 50 anos na cadeia, sem nenhuma prova. A atleta parou de jogar para libertar um homem que ela não conhecia. Uma perda imensurável para o basquete e a interrupção de uma carreira brilhante. E a repercussão disso? Se fosse um homem, você com certeza saberia dessa história…
A visibilidade do esporte feminino é absurdamente inferior. Ou seja, as mulheres ainda têm que provar que merecem seu espaço. E quando tem o espaço, vem uma cobrança maior ainda. Isso no profissional, mas que reflete as mesmas falhas presentes no esporte universitário.
E o que move alguém a continuar na luta pela abertura de espaços e pela consolidação das mulheres no esporte é o propósito individual de cada guerreira. Não só na Poli, mas em todos os lugares. O amor ao esporte, o sentimento de liberdade e confortabilidade que ele trás, a busca pelo desenvolvimento pessoal e profissional, as amizades e conexões criadas com pessoas. Tudo isso se encontra nessa luta.
E além disso, o futuro. A possibilidade de no futuro ter o jogo da WNBA disputando espaço na televisão com a NBA. A ideia de chamar a Copa do Mundo Feminina, de “Copa do Mundo”, sem um porém, sem uma letrinha a mais, sem que uma palavra que crie barreiras. É plantar a semente e se inspirar nas gerações passadas que não desistiram para que hoje nós, mulheres, tenhamos um ambiente minimamente confortável para conviver.
Viver o presente, pensando no futuro. Ver as olimpíadas e ver que um país não ganha sem as modalidades femininas. É ir para a Interusp, e mostrar que sem mulheres incríveis e determinadas, não há campeão geral. E o orgulho de estar na Poli, olhar para o lado e poder se inspirar em atletas, ex-atletas, atleticanas e ex-atleticanas, em mulheres.
Que as politécnicas, então, continuem demonstrando sua força e seu amor ao azul e amarelo como sempre fizeram. E o mais importante, para que no futuro a igualdade não seja uma novidade, mas sim, a normalidade.
Giovanna Fontana Pimentel – Engenharia Ambiental
Colaboradoras/Apoiadoras
Jade Vettorazzo Pigozzi – Engenharia Civil
Fernanda Yukari Susuki – Engenharia de Produção
Beatriz Lima Ramos – Engenharia de Minas
Isabelle Silveira França- Engenharia Ambiental
Bianca Aimi Okada – Engenharia de Minas
Beatriz Baz Álvarez – Engenharia de Materiais
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