Esses dias, reli o precioso texto do Blikstein, “Escola dos Homens Tristes”, e pensei em como a Poli está análoga a um time de futebol que já teve muito sucesso, mas agora vive de lampejos e esperanças cada vez mais difíceis de se sustentar. Desde sempre, a nossa escola tem à disposição mentes brilhantes e se propõe a lapidá-las em “engenheiros e líderes” através de um processo parecido com o de diamantes e as colocando sob as maiores pressões.
Nós, enquanto membros da comunidade politécnica, ocupamos uma posição de torcida mesmo, apesar de tudo temos orgulho de estarmos aqui. Não foi fácil entrar e é bem difícil ficar. Cada crédito contabilizado no histórico é uma conquista e ainda que a gente saiba que tem muita coisa pra mudar e melhorar, continuamos torcendo e querendo ver um futuro melhor, como qualquer torcida fiel.
Não tenho propriedade o suficiente para entrar no debate se a Poli se mantém como a melhor faculdade de engenharia do Brasil, mas imagino (ou, pelo menos, torço para que isso seja verdade) que ainda mantenha seu prestígio e reconhecimento. Nessa tabela de lideranças então, está à frente quem conseguir cumprir melhor o propósito da própria faculdade. Pensando que o objetivo da Escola Politécnica é formar engenheiros e líderes, julgo seguro dizer que, assim como um time que joga mal mas consegue fazer aquele gol chorado aos 45 do 2º tempo, a Poli consegue cumpri-lo.
As aulas são encaradas como uma corrida de obstáculos, deixando os professores frustrados. Por outro lado, não é sempre que os alunos enxergam seus esforços sendo refletidos nas avaliações, sendo que o contrário é muito mais comum, e assim também cultivam frustração. A exigência e carga horária são massantes. Tudo isso (e outros pontos que, sem querer, esqueci de incluir) somado põe em risco o futuro (e conquistas futuras) de muitas das pessoas que conquistaram seu lugar aqui.
Então, afinal, como é que ela cumpre o objetivo? A Poli cumpre sua missão, justamente por ter a matéria-prima certa pra isso: seus alunos. Realmente, se formam engenheiros e líderes, mas não dentro das salas de aula. As atividades extracurriculares desempenhadas pelos alunos são os lampejos de genialidade que nosso time do coração produz. Todas as atividades, por mais variadas que sejam (grupos de extensão, linhas de pesquisas, competições artísticas, etc) têm um fator em comum: os alunos que topam esse desafio, a priori, não estão preparados para tal. Eles têm de ir atrás para se desenvolver e cumprir o que estão tentando e o fazem por estarem motivados. Desse jeito, e com a garra de um jogador de base tentando se mostrar pra um olheiro, é que se lapidam os engenheiros e líderes.
Assim como num clube tradicional que está nos trilhos da decadência, são as categorias de base que mostram que há esperança e mantém a paixão acesa. Na Poli, os papéis deveriam mudar por um breve momento, para acender o alerta de que há mudanças a serem feitas, e quem ensina ser ensinado a incentivar paixão. Até um aluno assumidamente desinteressado (ou desiludido) por engenharia, como eu, se encanta com os projetos e ideias que surgem nesses corredores. Não está bom, mas tem plenas condições de melhorar, como uma torcida exigente que sabe o potencial do clube, a gente precisa exigir o mesmo da Poli e tentar ajudar de qualquer meio que seja. Mas ao contrário da torcida que só tem a fé em tempos melhores como instrumento para apoiar o time, nós temos total condição de entrar em campo e mostrar como se joga.
Vinícius C. Lopez
Engenharia Elétrica, 5º ano.
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