Pelo enorme deserto australiano – o Outback – viajam três drag queens: Adam(Guy Pearce), Anthony(Hugo Weaving) e Bernadette(Terence Stamp). Com o ônibus “Priscila” – responsável pelo nome do filme -, as drag queens passam por cidades interioranas, povoados aborígenes e áridas estradas, fazendo performances, desabafando uma com as outras e lidando constantemente com o preconceito.
O musical de 1994 dirigido e roteirizado por Stephan Elliot complementa a vida difícil de uma comunidade LGBTQIA+ marginalizada e ridicularizada, ainda muito marcada pela pandemia de HIV da década de 80, com a atmosfera seca do Outback e cortes igualmente secos na edição. Apesar das dificuldades, Adam, Anthony e Bernadette demonstram resistência, provavelmente advinda de tantos anos de preconceito já suportados.
As três personagens são bastante distintas entre si, tanto pela diferença de idade, quanto pelas vivências diferentes. Bernadette é uma mulher trans que já viveu muitos anos e com eles tornou-se mais séria e reclusa, possuindo uma enorme maturidade para lidar com o preconceito, ao mesmo tempo que muitas vezes aparenta não se divertir tão facilmente como as suas companhias(fica inclusive evidente durante as performances sua falta de ânimo). É com certeza a protagonista mais interessante da obra. Anthony, o responsável por organizar a viagem, já está na meia idade e esconde alguns segredos que são apresentados durante o filme, traz interessantes visões sobre sexualidade, influenciadas por uma comunidade que ainda não possuía uma rotulagem tão evidente das diferentes sexualidades. É o meio termo entre Adam e Bernadette, sendo por isso capaz de apaziguar suas diferenças. Adam é o mais novo do grupo e, consequentemente, o mais inexperiente, no entanto , isso não o impediu de ter enfrentado agressões físicas e psicológicas antes e durante o momento em que se passa o filme. É o mais inconsequente, criando fissuras com Bernadette e gerando problemas para si mesmo.
A obra, apesar de monótona em certas partes – comum ao estilo dos filmes de estrada – anima, seja pela comédia pastelão, seja pelos trechos musicais, e envolve, com a relação entre as drag queens e o desenvolvimento de seus núcleos. Vale à pena assistir a “Priscila, a Rainha do Deserto”, é um filme divertido que possibilita entender melhor esse período da comunidade LGBTQIA+ e perceber os avanços que tivemos desde então.
Nota: 9
Bruno Pereira dos Santos
Engenharia Civil, 1º ano.
Eu nem sempre entendo como filmes se tornam clássicos. Muitos deles assisto entediada, só esperando acabar. Certamente esse não é o caso de Priscilla, A Rainha do Deserto. Do primeiro ao último minuto o filme é digno de cada elogio e cada indicação que você vai ouvir na sua vida e merece um posto de canônico na história do cinema.
Frequentemente me sinto incomodada com filmes sobre a temática, ora demasiadamente romantizados, ora um superlativo das dores, nunca equilibrado o suficiente para ser um retrato justo da vida de uma pessoa LGBTQIA+. Priscilla é sensível para encontrar o comedimento entre os risos e os sofrimentos e, mais que isso, é capaz de retratar a diversidade dentro da diversidade.
O filme é honesto para dizer que há violência e vida apesar dela; consegue externar a desunião e a falta de compreensão dentro da própria comunidade, mas também como somos muito mais fortes juntos. Mostra a arte de ser drag queen não só como hobby, mas como sustento. Nele existem relações não-românticas bem estabelecidas, apoio e amor. E mesmo sendo o retrato de uma sociedade homofóbica e transfóbica, é irreverente e leve.
Por isso, apesar de algumas piadas inconvenientes, possivelmente provenientes da época na qual foi produzido, ainda hoje é um dos melhores filmes LGBTQIA+ já feitos.
Nota: 9,0
Yasmin Ramos de Azevedo
Engenharia Civil, 1º ano.
Uma jornada inspirante, com personagens marcantes e uma excelente trilha sonora: não se pode pedir muito mais de uma obra. O filme é excelente, do início ao fim, conseguindo com maestria mesclar o humor, a tragédia e, acima desses, a música. Os personagens são marcantes e divertidos, cada um da sua maneira, e as situações retratadas conseguem retratar com leveza alguns dos sérios problemas enfrentados pela comunidade LGBTQIA +.
O que se destaca no enredo é a fuga do modelo tradicional de contar uma história. Normalmente sempre a um padrão: introdução, conflito, clímax e desfecho, mas nesse filme, embora exista um problema principal, a história se destrincha nos inúmeros conflitos menores que acontecem através da jornada. Nesse ponto, assemelha-se quase ao modelo narrativo de um livro, e por consequência consegue desenvolver personagens esféricos e extremamente simpáticos.
Há tanto momentos cômicos quanto tristes, que são muito bem equilibrados (fora por algumas piadas mal colocadas ou que não fazem mais sentido no nosso tempo). Mesclando um pouco de tudo, o filme consegue tratar de uma temática séria com leveza, mas com responsabilidade. É uma obra que com certeza vale o seu tempo
Nota: 8,9
Rafael Varanda Bernardo
Engenharia Mecatrônica, 2º ano
A paisagem monótona, entediante e, por vezes, triste do deserto australiano é contrastada em Priscilla por figurinos glamourosos, festas estonteantes e protagonistas encantadoras. O roteiro não apresenta nenhum aspecto que o torne vanguardista, mas a maneira pela qual a narrativa é desenvolvida torna esse filme melhor do que muitos longa-metragens LGBTQIA + produzidos recentemente.
A trilha sonora merece elogios à parte. Sendo contemporânea à época em que o filme foi produzido, é muito nostálgica atualmente, tornando-a agradável para o público de qualquer idade. É deveras difícil não dançar, ou ao menos cantar, as músicas da Gloria Gaynor, ABBA e Pet Shop Boys que compõem o musical.
Os personagens são, em grande parte, bem desenvolvidos. Os flashbacks a respeito das vidas das drag queens agregam algumas tramas menores ao enredo principal, mesclando-se com ele muitas vezes, criando um laço narrativo relativamente simples, mas eficiente à proposta da obra.
Algumas piadas são bem inconvenientes e refletem muito do pensamento retrógrado presente nos tempos de produção. Mesmo assim, é notável a sutileza com a qual o roteiro aborda questões até então pouco discutidas em produções artísticas do mesmo período.
De forma geral, é um filme que consegue unir de forma bastante harmoniosa protagonistas carismáticas, uma trilha sonora excepcional, momentos de alegria e de tristeza, além de importantes reflexões sociais.
Nota: 9,5
Pedro de Andrade Franco
Engenharia Civil, 1º ano
Priscilla, a Rainha do Deserto, um icônico filme LGBT… talvez ele não seja para mim. Julgo os filmes que assisto, em parte, pelo que teria a ganhar ao revê-los. Arriscando pedantismo acidental, é uma medida de profundidade (e nesse quesito Priscilla não é lá muito digno de nota).
Mas é claro que não sou uma intelectual distante, inimiga da diversão. Quem não ama Mamma Mia? É nessa categoria de filmes que Priscilla deve ser avaliado, e não tenho dúvidas de que haja alguém que ame o longa. Entre as suas qualidades redentoras: a performance de Hugo Weaving, a personagem de Guy Pearce e, claro, ABBA!
Enfim, esta acaba sendo uma crítica sobre mim – o que diz muito sobre o filme.
Nota: 6,5
Laura Carmieletto Saran
Engenharia Química, 1º ano
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